O que se sabe sobre o caso dos 4 homens encontrados mortos no interior do Paraná
De acordo com a Polícia Civil, um dos homens contratou os outros três para realizar a cobrança de uma dívida

Os corpos de quatro homens que estavam desaparecidos desde 5 de agosto foram encontrados na madrugada desta sexta-feira (19) pela Polícia Civil em uma área rural da cidade de Icaraíma, no Noroeste do Paraná, mas a investigação sobre os homicídios segue em andamento. O inquérito tramita de forma sigilosa.
As vítimas são Robishley Hirnani de Oliveira, Rafael Juliano Marascalchi, Diego Henrique Afonso e Alencar Gonçalves de Souza, mas a confirmação oficial da identidade dos corpos ainda será feita pela Polícia Científica.
Os principais suspeitos dos homicídios são Antônio Buscariollo e Paulo Ricardo Costa Buscariollo, pai e filho, que estão foragidos. O advogado deles, Renan Farah, afirmou que os dois são inocentes e que fugiram porque foram ameaçados de morte.
Segundo a Polícia Civil, os quatro homens teriam ido a uma propriedade da família Buscariollo para cobrar uma dívida. Depois disso, não foram mais vistos. As buscas até os corpos levaram 44 dias.
QUEM ERAM OS QUATRO HOMENS E QUAL A RELAÇÃO DELES COM OS SUSPEITOS?
De acordo com a Polícia Civil, um dos homens, Alencar, morador de Icaraíma, contratou os outros três homens (Robishley, Rafael e Diego) para realizar a cobrança de um dinheiro da família Buscariollo.
Em entrevista à Folha nesta sexta, o delegado Thiago Andrade Inácio afirma que Alencar comprou um sítio da família Buscariollo, dando um valor de entrada e financiamento o restante. De posse do imóvel, Alencar ficou mais de seis meses como proprietário do local, mas depois, segundo o delegado, eles resolveram "desfazer o negócio".
Versões diferentes foram ouvidas sobre a desistência do negócio, segundo o delegado. "Alguns falam que Alencar não conseguiu o financiamento e outros sustentam que foi a família Buscariollo que pediu o imóvel de volta, mas o fato é que eles resolveram desfazer o negócio", resume o investigador.
Alencar devolveu o imóvel, mas cobrou valores já pagos e benfeitorias, o que representaria no total uma soma de R$ 250 mil, ou dez notas promissórias de R$ 25 mil cada uma, mas a Polícia Civil ainda apura se era mesmo tal quantia.
Sem receber o que considerava devido a ele, Alencar contratou Robishley, Rafael e Diego para que eles cobrassem a dívida da família Buscariollo.
Robishley, Rafael e Diego eram moradores do interior do estado de São Paulo —dois de São José do Rio Preto e um de Olímpia.
COMO SERIA FEITA A COBRANÇA DA DÍVIDA?
O delegado Thiago Andrade Inácio afirmou que o grupo contratado "trabalhava com cobrança de dívida". Questionado de que forma era feita a cobrança, o delegado afirmou que seria "uma cobrança verbal, sem uso de violência física", mas não deu outros detalhes.
O desaparecimento dos quatro homens ocorreu logo após o grupo ter feito uma primeira cobrança à família Buscariollo.
Robishley, Rafael e Diego viajaram até a cidade paranaense e se encontraram com Alencar em uma segunda-feira, 4 de agosto. Na sequência, o grupo foi até uma propriedade rural no distrito de Vila Rica, em Icaraíma, onde fizeram o primeiro contato com um membro da família devedora.
Ficou combinado que retornariam ao local no dia seguinte para dar continuidade à negociação. Em 5 de agosto, por volta do meio-dia, os quatro deixaram de atender ligações e mensagens.
Ainda na noite de terça, familiares de Alencar registraram ocorrência na Polícia Militar. No dia seguinte, parentes dos outros três também procuraram a Polícia Civil em São Paulo para relatar o desaparecimento. A partir daí, equipes das polícias de Icaraíma e Umuarama iniciaram as buscas.
QUEM SÃO OS SUSPEITOS?
Alegando que se trata de uma investigação sigilosa, a Polícia Civil não dá detalhes de como Antônio Buscariollo e Paulo Ricardo Costa Buscariollo, pai e filho, se tornaram os principais suspeitos da morte dos quatro homens. Mas os dois chegaram a ser ouvidos no inquérito logo após o desaparecimento dos quatro homens e depois teriam saído da cidade.
Os investigadores pediram a prisão temporária dos dois, que hoje são considerados foragidos. A Polícia Civil também apura se outras pessoas podem estar envolvidas no crime.
Em 12 de agosto, o advogado Renan Farah foi contratado pela família Buscariollo e desde então ele tem dito que os dois são inocentes e que só fugiram porque receberam ameaças de morte.
O próprio advogado afirmou à Folha que passou a receber ameaças semelhantes, por telefone, depois que começou a atuar no caso. Ele disse ter registrado um Boletim de Ocorrência relatando os episódios.
"A defesa lamenta e manifesta seu profundo pesar às famílias das vítimas. No entanto, a localização dos corpos, em propriedade de pessoa que não tem qualquer relacionamento com a família Buscariollo, reforça a nossa defesa de negativa de autoria, ou seja, que não tiveram qualquer participação com esses homicídios", disse Farah, em nota.
ONDE FORAM ENCONTRADOS OS CORPOS?
Os corpos foram encontrados enterrados em um terreno particular, mas vazio, sem construção ou qualquer tipo de ocupação. A Polícia Civil não informou de quem era a propriedade.
"Estavam enterrados juntos em uma vala, iniciando-se um processo de decomposição, mas sendo possível uma identificação visual preliminar. Eles estavam com perfurações de armas de fogo, e os pertences deles também estavam na mesma vala", disse o secretário estadual da Segurança Pública, Hudson Leôncio Teixeira.
A vala estava próxima do ponto onde foi localizado, há uma semana, o veículo Fiat Toro, usado pelos quatro homens. O carro estava enterrado, com perfurações de arma de fogo e vestígios de sangue.
Os corpos foram levados para a unidade da Polícia Científica em Umuarama e não há um prazo previsto para conclusão dos laudos.
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