O que se sabe sobre morte de menino de 6 anos após receber adrenalina na veia; polícia investiga
Um menino de 6 anos morreu após receber na veia uma dose de adrenalina. A morte do menino Benício Xavier de Freitas ocorreu na madrugada do dia 23 de novembro, em uma unidade hospitalar de Manaus. De acordo com a Polícia Civil do Amazonas, documentos disponibilizados pelo hospital e depoimentos já colhidos indicam que houve erro médico. A polícia pediu a prisão da médica Juliana Brasil Santos, de 33 anos, mas o pedido foi negado pela Justiça.
O escritório Vila & Braga Advogados, que defende a médica, informou que não se manifestará no momento, mas ainda esta semana os advogados Alessandra Vila e Felipe Braga se colocarão à disposição para detalhar os esclarecimentos referentes ao caso e discutir os aspectos da defesa de Juliana Brasil.
A criança deu entrada no Hospital Santa Júlia apresentando quadro de tosse seca, com suspeita de laringite. Segundo relato da técnica de enfermagem Raíza Bentes, em entrevista dada após prestar depoimento, a médica que atendeu Benício prescreveu, entre outros procedimentos, três doses de adrenalina de 3 ml cada que deveriam ser aplicadas em intervalos de 20 minutos na forma endovenosa, ou seja, na corrente sanguínea.
A técnica diz ter estranhado a forma de aplicação, normalmente feita por via respiratória, através de inalação, mas seguiu a prescrição por escrito da médica. Depois da primeira dose, o menino começou a passar mal, apresentando palidez e dificuldade para respirar. Raíza diz que informou a médica e ela disse ter informado à mãe da criança que seria feita inalação. O menino teve seis paradas cardíacas e acabou morrendo.
A Polícia Civil do Amazonas, por meio do 24.º Distrito Integrado de Polícia (DIP), diz que seguem em andamento as investigações relacionadas à morte de Benício. Segundo a nota, o delegado Marcelo Martins informou que já foram colhidos diversos depoimentos, além de documentos disponibilizados pelo hospital, com o objetivo de esclarecer as circunstâncias do caso.
A Polícia Civil representou à Justiça pela prisão da médica pelo crime de homicídio qualificado doloso. No entanto, a Justiça concedeu habeas corpus preventivo, determinando que ela não pode ser presa. O TJ-AM informou que não se manifesta sobre decisões judiciais.
Conforme a Polícia Civil, estão sendo realizadas diligências, inclusive as solicitadas pelo Ministério Público. Ao final, o resultado das apurações será encaminhado à Justiça.
Ao Estadão, o delegado Martins disse ter recebido capturas de tela de conversas entre a médica e colegas do hospital admitindo ter errado na prescrição do medicamento. Na primeira conversa, ela diz que prescreveu inalação com adrenalina. “E acabaram fazendo ev (endovenosa). Paciente tá passando mal. Ficou todo amarelo. Pede para alguém da UTI descer urgente. Urgente Dr. Pelo amor de Deus.”
Na conversa seguinte, ela pergunta o que administra ao paciente que está passando mal. “Paciente desmaiou. Pelo amor de Deus. Eu errei a prescrição.” O colega com quem ela conversa manda monitorar o eletro e aplicar oxigênio. “Já fiz isso. Me ajuda. Eu que errei na prescrição”, repete.
O delegado informou que vai fazer uma acareação entre a médica Juliana Brasil e a técnica de enfermagem Raíza Bentes, na manhã desta quinta-feira, 4, para esclarecer a dinâmica dos acontecimentos que resultaram na morte do menino Benício. “Vou colocá-las frente à frente e ver o que dizem em relação ao que já temos apurado.”
Ainda segundo o policial, o médico com quem Juliana trocou as mensagens cujos prints foram anexados ao inquérito já foi ouvido e confirmou a autenticidade das conversas. Ele pediu uma perícia nos equipamentos do hospital onde ficam registrados os procedimentos médicos para verificar se estavam funcionando. “Há um vídeo em que a médica teria dito que o sistema modificou a sua prescrição. Queremos sanar todas as dúvidas”, diz.
O MP do Amazonas diz que o processo tramita em sigilo por determinação judicial e, por isso, o órgão está impedido de se manifestar sobre o assunto.
O hospital afastou a médica e a técnica de enfermagem e disse estar colaborando com a investigação da polícia.
O Conselho Regional de Medicina do Amazonas (Cremam) abriu um processo ético sigiloso para apurar a conduta da profissional.
‘Não mediremos esforço’
Na segunda-feira, 1.º, familiares e amigos da família fizeram uma manifestação em frente ao hospital pedindo justiça.
O pai de Benício, o professor Bruno Mello de Freitas, usou sua página no Facebook para dizer que a família luta pelo total esclarecimento do caso. “Meu filho Benício Xavier de Freitas, sempre com esse sorriso meigo e alegre. A dor é imensa desde o dia 23/11/25 quando partiu para uma vida melhor. Você sempre será lembrado pela sua família, pois foi uma criança compreensiva, carinhosa, atenciosa, obediente, resiliente, esperta, amiga, e acima de tudo sem nenhuma maldade com o próximo - criança pura!”, diz.
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