Novo formato, roda de samba na Apoteose, despedidas de intérprete e rainha: as novidades da Sapucaí
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Os desfiles das 12 principais escolas de samba do Rio de Janeiro começam às 22h deste domingo, 2, no sambódromo da Marquês de Sapucaí. Neste ano o que não falta é novidade. A principal delas é a divisão dos desfiles em três dias, mas também tem roda de samba pra encerrar cada noite, mais tempo de desfile e mudanças relativas ao julgamento.
Outra curiosidade é a escolha temática: nove das 12 escolas vão levar à avenida temas relativos aos negros ou às religiões de matriz africana. Por fim, tem as despedidas do intérprete mais famoso – Neguinho da Beija-Flor cantará pela última vez pela escola de Nilópolis – e de uma das rainhas mais cultuadas e invejadas da Sapucaí: Paolla Oliveira ocupará pela última vez o posto na Grande Rio.
Até 1983, todas as principais escolas de samba do Rio desfilavam num único dia. O desfile começava à noite e não raro se estendia por mais de 12 horas, até a tarde seguinte. Em 1984, quando o sambódromo foi inaugurado, o desfile passou a ser realizado em dois dias, o que tornou o evento menos cansativo.
O desfile chegou a reunir 16 escolas (oito em cada dia) e atualmente tem 12. Até 2024, a festa era dividida em duas noites. Com 70 minutos de desfile de cada escola mais os eventuais intervalos, eram mais de sete horas de evento por dia, ainda cansativo até para os foliões mais animados.
Três dias de desfiles e roda de samba
Por isso, o presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Gabriel David, que tem 27 anos e é filho do patrono da Beija-Flor, Anísio Abrahão David, propôs e conseguiu a aprovação da ampliação para três noites: domingo, segunda e terça-feira. A partir deste ano, cada noite de desfiles terá quatro escolas, e as exibições devem se estender por seis horas (das 22h às 4h).
Ao final dos desfiles haverá uma atração adicional: uma roda de samba na Praça da Apoteose, na qual as escolas vão encerrar as exibições. Foram contratadas quatro rodas famosas do Rio (Cacique de Ramos, Beco do Rato, Samba do Trabalhador e Terreiro de Criolo), e cada uma vai tocar em um dia de desfile (os três dias oficiais e o desfile das campeãs, no próximo sábado). Cada exibição deve durar uma hora e meia, das 4h30 às 6h.
Cabine julgadora e ampliação do tempo máximo
Outra mudança se refere à posição das cabines dos julgadores. Cada um dos nove quesitos tem quatro julgadores, que ficam em cabines distribuídas pela passarela do samba. No ano passado, 18 julgadores (dois por quesito) ficavam numa cabine dupla no setor 3. Como o ponto de observação era o mesmo, quem cometia algum erro perante esses jurados era punido com duas notas baixas.
Neste ano, as cabines foram redistribuídas e não haverá duplicidade. Elas estarão nos setores 3, 6, 9 e 10. Isso evita dupla punição, mas aumenta o tempo de desfile, já que alguns setores da escola precisam parar e se exibir perante cada grupo de jurados (mestre-sala e porta-bandeira, por exemplo, dançam diante de cada grupo de avaliadores por dois minutos e meio). Por isso, o tempo máximo de desfile aumentou de 70 para 80 minutos.
O prazo máximo do esquenta, como é chamado o período em que os intérpretes e as baterias entoam sambas antigos da escola, antes do início oficial do desfile, também aumentou, de cinco para dez minutos. Somados o esquenta e o desfile, cada escola vai se exibir por uma hora e meia.
No intervalo entre um desfile e outro, a Liesa afirma que será anunciado nesta noite, pelo sistema de som da Sapucaí, o resultado do Oscar, a maior premiação do cinema mundial. O filme brasileiro “Ainda Estou Aqui” concorre a três estatuetas, de melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz (Fernanda Torres).
Novas escolas no grupo especial
O desfile desta noite vai reunir uma escola novata, as duas melhores do desfile passado e uma das mais populares. A Unidos de Padre Miguel volta à elite após 53 anos – seu último desfile nesse grupo foi em 1972. Após cinco vice-campeonatos em oito anos na segunda divisão, foi campeã desse grupo em 2024 e retorna ao desfile principal.
A escola da zona oeste do Rio vai falar sobre o primeiro terreiro de candomblé do Brasil, criado no século XIX em Salvador e chamado Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho. Abordará também sua fundadora, a ialorixá Iyá Nassô. O carnavalesco é Alexandre Louzada.
A segunda escola a desfilar hoje, a partir das 23h30, será a Imperatriz Leopoldinense, atual vice-campeão, que vai contar uma história da mitologia dos orixás: a viagem de Oxalá ao reino de Oyó para visitar Xangô. O carnavalesco é Leandro Vieira, que tem três títulos no currículo (dois pela Mangueira, em 2016 e 2019, e um pela Imperatriz, em 2023).
A terceira escola será a Viradouro, atual campeã, que deve ingressar na Sapucaí à 1h de segunda-feira. Ela vai falar sobre Malunguinho, figura religiosa das culturas africana e indígena muito popular em Pernambuco. O carnavalesco é Tarcísio Zanon.
A última escola a se apresentar nesta primeira noite de desfiles na Sapucaí será a Mangueira, que vai discorrer sobre a presença dos povos bantos no Rio de Janeiro. Essa é a etnia da maioria dos negros que foram trazidos da África para o Brasil como escravos, e a escola vai contar a influência que eles tiveram na rotina da cidade. O carnavalesco é Sidnei França, que ganhou fama em São Paulo, onde conquistou cinco títulos da primeira divisão, com Mocidade Alegre e Águia de Ouro, e um da segunda, com a Vai-Vai.
Na segunda noite de desfiles vão se apresentar Unidos da Tijuca, Beija-Flor, Salgueiro e Vila Isabel, e na terceira Mocidade Independente, Paraíso do Tuiuti, Grande Rio e Portela.
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