Ministério da Justiça X governo do RJ: entenda a briga por pedido de ajuda em operação contra o CV
A megaoperação policial realizada nesta terça-feira, 28, nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, contra o Comando Vermelho (CV), gerou um embate de versões entre o governo do Estado e o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Em coletiva de imprensa, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirmou que o Estado enfrenta o crime organizado “sozinho”, uma vez que as forças federais, segundo ele, não o ajudam. O Ministério da Justiça, no entanto, rebateu a informação, alegando que atendeu todas as solicitações para atuação da Força Nacional no Estado.
O que ocorreu hoje no Rio?
Ao menos 60 suspeitos e 4 policiais morreram nesta terça-feira, 28, durante uma megaoperação contra o Comando Vermelho (CV). A facção reagiu e lançou bombas por meio de drones, o que transformou a região em um cenário de guerra. A operação foi a mais letal da história do Estado do Rio de Janeiro. 81 pessoas foram presas.
No total, cerca de 2,5 mil policiais civis e militares participaram da ofensiva. No Alemão e na Penha, pelo menos 87 escolas tiveram as atividades afetadas - 48 nem chegaram a abrir. O total de alunos impactados foi de 29 mil. Além do clima de medo nas favelas, houve bloqueios em importantes vias da cidade, como a Avenida Brasil, a Linha Amarela, entre outras.
O que diz o governo do RJ?
O governador Cláudio Castro afirmou que o Estado não teve auxílio de forças federais na megaoperação. Mas também disse que o governo estadual não pediu ajuda à União “desta vez”, porque já houve três negativas de ajuda anteriormente.
“Nós já entendemos que a política é de não ceder. Falam que tem que ter GLO (Garantia da Lei da Ordem), que tem que ter isso, que tem que ter aquilo, que podiam emprestar o blindado e depois não podiam mais emprestar porque o servidor que opera o blindado é um servidor federal. O presidente já falou que ele é contra GLO. A gente entendeu que a realidade é essa e a gente não vai ficar chorando pelos cantos”, afirmou Castro.
Também na terça-feira, mais cedo, o secretário da Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, disse em entrevista à TV Globo que o Rio não tem condições de enfrentar sozinho o crime organizado e que o governo do Estado solicitou ajuda federal em uma operação anterior contra o CV, mas teve o pedido negado.
O que alega o Ministério da Justiça?
Por meio de nota, o ministério rebateu a versão de Castro e alegou ter atendido “prontamente a todos os pedidos” de envio da Força Nacional ao Estado e que todas as 11 solicitações de renovação da Força Nacional desde 2023 no território fluminense foram acatadas. A nota ainda lista uma série de medidas tomadas entre o governo federal e o Rio de Janeiro, como operações integradas, investimentos e apoio de agentes, e menciona 178 operações da Polícia Federal no Rio em 2025.
O governo ainda alega na nota que o Fundo Penitenciário Nacional repassou mais de R$ 99 milhões ao Rio entre 2016 e 2024, dos quais “apenas cerca de R$ 39 milhões foram efetivamente utilizados, restando mais de R$ 104 milhões ainda em conta”. Também menciona um saldo de R$ 174 milhões não usado dos repasses do Fundo Nacional de Segurança Pública.
O Ministério da Justiça reforça que há acordos de cooperação firmados entre as duas administrações, como a integração do Estado à Rede Nacional de Unidades Especializadas de Enfrentamento das Organizações Criminosas (Renorcrim) e à Rede Nacional de Recuperação de Ativos de Facções Criminosas (Recupera), um acordo de cooperação técnica para a criação da Célula Integrada de Localização e Captura de Foragidos, e outro para a criação do Comitê de Inteligência Financeira e Recuperação de Ativos (CIFRA).
E cita uma reunião em fevereiro entre Castro e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, em que o ministro atendeu a um pedido do Estado e ofereceu dez vagas em presídios federais para alocar lideranças criminosas do Rio de Janeiro.
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