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Brasil

Mapa da fé: ‘Brasileiro se declara católico e frequenta terreiro’, diz professor da FGV


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Imagem ilustrativa da imagem Mapa da fé: ‘Brasileiro se declara católico e frequenta terreiro’, diz professor da FGV
TQ SÃO PAULO 21.04.2025 METRÓPOLE Entrevista coletiva do cardeal Don Odilo Scherer na catedral da Sé, centro de São Paulo, sobre a morte do Papa Francisco nessa madrugada. Logo após, ao meio dia, missa na catedral em homenagem e memória do Papa Francisco. Foto Tiago Queiroz/Estadão

Pesquisador do Instituto de Estudos das Religiões (Iser) e professor da Fundação Getulio Vargas, o cientista político Matheus Pestana diz que os resultados do Censo 2022: Religiões, divulgados nesta sexta-feira, 6, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), refletem a diversidade e a pluralidade do País e a liberdade religiosa.

O censo mostra que os evangélicos passaram de 21,7% da população brasileira em 2010 para 26,9% em 2022 – um aumento de 5,2 pontos porcentuais ante 6,6% na década anterior, revelando uma ligeira queda no ritmo do crescimento. Os católicos, por sua vez, que eram a grande maioria da população (65,7%) em 2010, agora são pouco mais da metade (56,7%).

Pestana não acredita que o número de evangélicos deva superar o de católicos em um futuro próximo. Para ele, a tendência é de equilíbrio entre as diferentes religiões.

O censo revelou também que os brasileiros que se declaram umbandistas ou candomblecistas aumentaram, na última década, embora a porcentagem ainda seja baixa: de 0,3% para 1,0%. O número de espíritas diminuiu, passando de 2,1% para 1,8%.

Ainda segundo Pestana, a pesquisa não capta o que seria uma característica do brasileiro, a dupla devoção. “Isso é muito brasileiro: se declarar católico e frequentar terreiro”, afirmou em entrevista ao Estadão.

O censo revelou que o número de pessoas que se declaram evangélicas continua aumentando, embora em um ritmo um pouco mais lento do que o registrado na década passada. Como o senhor analisa esse resultado?

Esse movimento já vinha acontecendo há mais tempo, com a perda de espaço do catolicismo, e acho que é um crescimento natural, que reflete esse retrato do Brasil de hoje, multifacetado, plural, diverso.

Mas, na sua análise, qual é o impacto político e social do crescimento dos evangélicos?

Nossa sociedade é cada vez mais plural; isso é do ambiente democrático. Poderíamos inverter essa pergunta: o que significa a queda do número de católicos observada desde os primeiros censos? No final das contas, temos que entender que o grupo evangélico, assim como o católico, é profundamente plural. Estamos celebrando a pluralidade, a diversidade, esse é o impacto na própria organização da sociedade. Nossa cultura ainda é profundamente católica. Apesar da queda no número de fiéis, o catolicismo ainda é uma religião extremamente dominante. Então acho o movimento interessante porque reforça o nosso caráter plural.

Algumas projeções indicam que o número de evangélicos deve ultrapassar o de católicos até meados deste século. Isso certamente terá um impacto político e social grande, não?

Havia algumas projeções segundo as quais o número de evangélicos ia superar o de católicos, mas não é isso que observamos (a velocidade do crescimento dos evangélicos diminuiu, bem como a da queda dos católicos). O movimento tende à estabilização. Em termos práticos, mudou pouco, os católicos continuam sendo maioria. Ao mesmo tempo, os resultados reforçam a força do cristianismo no Brasil como um todo.

O censo mostra também um aumento dos que se autodeclaram “sem religião”. Atualmente, esse grupo representa praticamente 10% da sociedade. Como o senhor analisa esse movimento?

Esse aumento é bem interessante e só corrobora o argumento de que a nossa realidade religiosa é muito diversa e dinâmica, incluindo aí também os sem religião. Acho que esse é um dos principais destaques do censo. Um mosaico religioso como o nosso prevê essa possibilidade de liberdade religiosa, que permite também essa declaração. Vale notar que os sem religião são mais numerosos do que todas as demais religiosidades não cristãs.

Certo, mas por que está aumentando?

Com os dados que foram divulgados, não dá muito para entender o motivo do aumento. Mas, a migração das pessoas de uma religião para outra (e para religião alguma) é uma manifestação da liberdade religiosa. Um outro fenômeno que pode explicar o aumento é o rompimento dessa estrutura de passar a religião dos pais para os filhos. Há hoje um rompimento dessa hereditariedade da religião. E isso é dado pela própria liberdade religiosa.

Um outro ponto que chamou a atenção nos resultados foi o aumento dos que se autodeclaram candomblecistas e umbandistas e a redução dos espíritas. As duas informações podem estar relacionadas?

Já tecendo uma pequena crítica a esses dados, eles apresentam um quesito “umbanda/candomblé”, como se fosse a mesma coisa. E há muitas outras religiosidades de matriz afro-brasileira; esses dados seriam muito importantes para nós, pesquisadores. Por exemplo, no Rio Grande do Sul, a religião de matriz africana predominante não é umbanda nem candomblé. A mesma coisa acontece no Maranhão. Então, essa categorização é insuficiente e tende a um apagamento. Mas o aumento é interessante porque temos visto nos últimos anos todo esse movimento de valorização das tradições das matrizes africanas, ampliamos muito o debate racial, esse aumento é resultado de todo esse movimento, que ajudou também a dissipar preconceitos. Mas a subnotificação é justamente por conta do racismo religioso que ainda existe no País. As pessoas têm medo de sofrer violência simbólica e até mesmo física.

Uma questão que é muito específica do Brasil é o sincretismo. Aquela pessoa que se declara católica, mas frequenta terreiros. Isso também explica a subnotificação?

Sim, também. Isso é muito brasileiro: se declarar católico e frequentar terreiro. É interessante pensar nessa fluidez, nessa porosidade das práticas religiosas no Brasil. Nossas devoções, enquanto País plural, não vão se encaixar nas categorias rígidas dos formulários censitários. Nesse contexto, tem muitas pessoas com duplo pertencimento. Acho que a subnotificação é explicada ainda pelo preconceito e também por conta de uma metodologia muito rígida.

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