Jovem morto por leoa em zoológico pediu felicidade que nunca teve em carta de Natal
Pedidos feitos pelo jovem na carta “Desejo do coração”, escrita por ele aos 17 anos, tem gerado comoção nas redes sociais
Uma carta de Natal escrita pelo jovem Gerson de Melo Machado, que morreu após invadir o recinto de uma leoa em um zoológico em João Pessoa (PB), foi divulgada na terça-feira, 16, pela conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou o “Vaqueirinho de Mangabeira”, como ele era conhecido, dos 10 aos 18 anos. O jovem, que era esquizofrênico, morreu aos 19 anos.
Os pedidos feitos pelo jovem na carta “Desejo do coração”, escrita por ele aos 17 anos, tem gerado comoção nas redes sociais. “Eu queria ter uma grande felicidade que eu nunca tive, mas, como Deus é maior, um dia irei ter. Eu queria ter visita da minha mãe para ter carinho e amor”, escreveu.
Vaqueirinho contou no texto que tinha o desejo de conquistar um emprego como policial florestal ou veterinário. Ele também agradeceu por, à época, estar privado de liberdade e ter encontrado pessoas que o acolheram e aconselharam, como a “professora Margarete”, do Centro de Educacional do Adolescente (CEA) em João Pessoa.
Segundo a conselheira tutelar, a professora citada na carta postou a foto do texto em um grupo do qual ela faz parte. “É a última carta, do último Natal de Gerson quando ainda era adolescente”, explicou. Na ocasião, os internos do CEA foram instruídos a escreverem seus desejos em uma carta.
“Gerson não desejou nada material, não desejou nada impossível, mas parece que a vida dele foi feita de impossibilidades. Como doeu ler essa carta cheia de significados e recados. Espero que aqueles que jogaram Gerson na ‘cova dos leões’ leiam e consigam dormir”, afirmou Verônica.
No dia 30 de novembro, o jovem, que tinha o sonho de domar leões na África, escalou uma parede de seis metros de altura e grades de segurança, acessou uma árvore e invadiu o recinto dos leões de um zoológico em João Pessoa. Ele foi atacado por uma leoa e não resistiu aos ferimentos. O parque onde aconteceu o ataque, que estava fechado desde então, será reaberto na quinta-feira, 18.
Laudos de perícias determinadas pela Justiça indicaram que, além do diagnóstico de esquizofrenia, Vaqueirinho tinha sintomas psicóticos ativos. A mãe e os avós do jovem também tiveram diagnósticos de esquizofrenia. A mãe, inclusive, perdeu a guarda dele e dos outros quatro filhos — que foram adotados. O nome do pai não constava em seus documentos.
“Ela (a mãe) é viva, mas não tinha condições de cuidar dele. Ela tem uma esquizofrenia bem grave. E nem era mais mãe porque foi destituída”, disse a conselheira tutelar ao Estadão. Segundo ela, quando garoto, Vaqueirinho teve a possibilidade de adoção boicotada.
“A instituição que ele estava bem na infância, quando a mãe foi destituída, informava que ele não tinha sido adotado porque tinha laudo de esquizofrenia. Mas criança não pode ter esse laudo. Nós advertimos a coordenadora porque ficou claro que os adotantes eram informados de que ele tinha esquizofrenia e ele não teve a oportunidade como os irmãos”, contou Verônica.
O garoto nasceu em Mangabeira, bairro mais populoso da capital paraibana. De acordo com registros oficiais e pessoas que acompanharam a vida de Vaqueirinho, entre idas e vindas, ele passou por diferentes tratamentos psiquiátricos dos 7 aos 18 anos.
Também foi apreendido e viveu em espaços de ressocialização para adolescentes. Vaqueirinho acumulou 16 passagens policias por crimes diversos. Na semana anterior à sua morte, ao ser solto depois de ser preso duas vezes no mesmo dia, a Justiça havia reconhecido a situação dele, determinado o encaminhamento para tratamento psiquiátrico com urgência e feito o pedido para a liberação da aposentadoria por incapacidade.
Leia a íntegra da carta escrita pelo Vaqueirinho
“Desejo do coração”
Eu queria ter uma grande felicidade que eu nunca tive, mas como Deus é maior um dia irei ter. Eu queria ter visita da minha mãe para ter carinho e amor. Desejo um emprego de polícia florestal ou veterinário.
Agradeço por estar privado de liberdade e ter encontrado conselho da professora Margarete, agentes, professor Tony, diretores Luciana, Marcos da Paz, o advogado, a juíza Antonieta. Eu desejo a todos um Feliz Natal e um próspero Ano Novo.
*Gerson de Melo Machado
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