Investigação da PF, explicações de Castro e perícias: o que Moraes já decidiu sobre operação no Rio?
RIO – O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), assumiu a relatoria da ADPF das Favelas em meio operação mais letal da história do País, com 121 mortos, nos complexos do Alemão e da Penha. A ação judicial tinha como um dos objetivos reduzir a letalidade policial em operações nas comunidades do Rio de Janeiro.
Em uma resposta à ação do governo Cláudio Castro (PL), Moraes já determinou, nas duas semanas no comando da ADPF, que o governador explicasse o planejamento da Operação Contenção, a preservação de todas as provas, perícias e documentos da ação e que a Polícia Federal investigue a conexão de facções e milícias com agentes públicos no Rio.
Imagens das câmeras nas fardas
Nesta segunda-feira, 10, o ministro determinou que Castro preserve todas as imagens das câmeras corporais dos policiais civis e militares envolvidos na Operação Contenção.
Na mesma decisão, o ministro determinou que o governador envie ao STF, em até 48 horas, a relação de agentes envolvidos na operação e também cópias de todos os laudos necroscópicos dos mortos na ação.
Moraes cobrou também os relatórios de inteligência e policiais que embasaram a operação, deflagrada para cumprir mandados de prisão preventiva contra lideranças do Comando Vermelho, gerentes do tráfico e soldados da facção.
O ministro vai verificar se havia nos relatórios pistas que indicassem que os alvos dos mandados de prisão estavam no local onde ocorreu a operação.
Moraes pediu ainda que Cláudio Castro informe as medidas tomadas para cumprir a decisão anterior que obrigou o governo e preservar todas as provas, perícias e documentos relacionados à operação.
Contexto dentro do STF
O ministro assumiu temporariamente a relatoria da ação judicial sobre operações em favelas no Rio no dia 28 de outubro, dia em que as forças de segurança do Estado realizaram a megaoperação contra o Comando Vermelho(CV) nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio, para cumprir 180 mandados de prisão e busca e apreensão. O resultado foi 121 mortos, entre eles quatro policiais, além do bloqueio de vias e suspensão de serviços em várias regiões da cidade.
Em seu primeiro despacho, Moraes pediu parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre manifestação apresentada pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) pedindo diligências da Corte após a operação policial no Rio.
O CNDH pediu ao Supremo a adoção de medidas complementares e urgentes de monitoramento e fiscalização para cumprir as determinações estabelecidas pela Corte diante da operação policial mais letal da história do Rio.
O caso era relatado pelo ministro Luís Roberto Barroso, que antecipou sua aposentadoria neste mês. Ele herdou a ação quando o ministro Edson Fachin - relatou original - assumiu a presidência do Supremo, no final de setembro. A substituição segue regra prevista no regimento interno da Corte para os casos em que a relatoria fica vaga. Moraes ficará responsável pelo caso até o sucessor de Barroso tomar posse.
Pedidos anteriores
No dia seguinte à operação, quarta-feira, 29, Moraes mandou intimar o governador Cláudio Castro para que prestasse informações sobre a Operação Contenção. Em sua decisão, o ministro afirmou que a cobrança “encontra amparo nas determinações estruturais do acórdão do julgamento de mérito” da “ADPF das Favelas”.
O ministro determinou que Castro prestasse as seguintes informações:
- Relatório circunstanciado da operação;
- Prévia definição do grau de força adequado e justificativa formal para sua deflagração;
- Número de agentes envolvidos, identificação das forças atuantes e armamentos usados;
- Número oficial de mortos, feridos e presos;
- Medidas adotadas para garantir a responsabilização em caso de eventuais abusos e violações de direitos, incluindo a atuação dos órgãos periciais e o uso de câmeras corporais;
- Providências para assistência às vítimas e suas famílias, incluindo a presença de ambulâncias;
- Protocolo ou programa de medidas de não repetição;
- Preservação do local para perícia e conservação dos vestígios do crime;
- Comunicação imediata ao Ministério Público;
- 10. Atuação da polícia técnico-científica realização das perícias, liberação do local e remoção de cadáveres;
- Acompanhamento pelas Corregedorias das Polícias Civil e Militar;
- Uso de câmeras corporais pelos agentes de segurança pública;
- Uso de câmeras nas viaturas policiais;
- Justificação e comprovação da prévia definição do grau de força adequado à operação;
- Observância das diretrizes constitucionais relativas à busca domiciliar;
- Presença de ambulância, com a indicação precisa do local em que o veículo permaneceu durante a operação;
- Observância rigorosa do princípio da proporcionalidade no uso da força, em especial nos horários de entrada e saída de escolas. Em caso negativo, informar as razões concretas que tenham tornado necessária as ações nesses períodos;
- Necessidade e justificativa, se houver, para uso de estabelecimentos educacionais ou de saúde como base operacional das forças policiais, bem como eventual comprovação de uso desses espaços para a prática de atividades criminosas que tenham motivado o ingresso das equipes.
Na mesma decisão, o ministro marcou audiências, para o dia 3 deste mês, com o governador, o secretário de Segurança Pública, Victor Santos, os secretários de Polícia Civil, Felipe Curi, e de Polícia Militar, Marcelo de Menezes, a diretora da superintendência de Polícia Técnico-Científica, Andréa Menezes, o presidente do Tribunal de Justiça, Ricardo Couto de Castro, o procurador-geral de Justiça, Antonio José Campos Moreira, e o defensor-geral Paulo Vinícius Cozzolino.
Cláudio Castro intimado
Antes de embarcar para o Rio de Janeiro, o ministro Alexandre de Moraes determinou no domingo, 2, que o governo do Rio preservasse todas as provas, perícias e documentos relacionados à Operação Contenção.
A pedido da Defensoria Pública da União, o ministro determinou a “preservação e documentação rigorosa e integral todos os elementos materiais relacionados à execução da referida operação“.
Moraes mandou intimar pessoalmente o governador Cláudio Castro para assegurar que a decisão será cumprida.
Os documentos e provas serão entregues ao Ministério Público para “controle e averiguação“, segundo o despacho. O material também será compartilhado com a Defensoria do Rio.
Na mesma decisão, Moraes marcou uma audiência na quarta-feira, 5, às 10h, na Sala da Primeira Turma do STF, com diversos órgãos e entidades de direitos humanos.
Visita ao Rio de Janeiro
No Rio, o ministro se reuniu com Castro, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e demais autoridades para tratar sobre a megaoperação que deixou 121 mortos na capital fluminense.
De acordo com o Governo do Rio, foram apresentados ao ministro dados sobre o planejamento e a execução da megaoperação realizada nos complexos da Penha e do Alemão. O relatório, que, segundo o governo, “mostra total transparência no cumprimento da ADPF 635?, será encaminhado ao Supremo Tribunal Federal.
Após a audiência, o governador acompanhou o ministro em uma visita técnica à Sala de Inteligência e Controle do CICC, onde está instalado o sistema de reconhecimento facial e das câmeras operacionais portáteis usadas pela Polícia Militar, com acompanhamento em tempo real dos deslocamentos em todo o território fluminense.
Inquérito da PF
No dia 5, Moraes determinou a abertura de um inquérito formal para investigar facções e milícias no Rio. A investigação foi uma exigência do STF no julgamento da “ADPF das Favelas”. O foco é a “atuação dos principais grupos criminosos violentos em atividade no Estado e suas conexões com agentes públicos”.
Além da “infiltração de organizações criminosas no poder público”, a Polícia Federal também vai se debruçar sobre esquemas de lavagem de dinheiro do crime organizado.
Investigações preliminares estão sendo conduzidas desde agosto em uma petição sigilosa. Com a decisão de Moraes, as apurações serão autuadas como um inquérito.
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