Cerveja e vinho podem ser adulterados com metanol? Veja respostas
No Estado de SP foram registrados cinco óbitos. Outros 15 casos de contaminação são investigados
Diante da investigação sobre bebidas alcoólicas adulteradas com metanol e de suspeitas de intoxicação, é preciso atenção aos cuidados para não consumir produtos falsificados, assim como aos possíveis sintomas em caso de ingestão de substâncias tóxicas.
No Estado de SP foram registrados cinco óbitos. Outros 15 casos de contaminação são investigados.
Em Pernambuco, a agência de vigilância sanitária apura 3 ocorrências.
“A intoxicação por metanol é grave, pode levar à cegueira permanente e até a morte. O metanol pode estar presente em bebidas alcoólicas clandestinas e adulteradas, além de produtos como combustível, solventes e líquidos de limpeza”, alerta o governo de SP.
Os casos de bebidas adulteradas estão concentrados somente em São Paulo?
A Polícia Federal abriu inquérito para investigar a contaminação de bebidas alcoólicas com metanol. A maioria dos casos ainda está no Estado de São Paulo, mas Pernambuco também investiga três ocorrências.
Na terça, 30, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que pediu a abertura do inquérito após indícios de que haja distribuição de bebidas contaminadas para outros Estados do País.
Segundo o Secretário Nacional do Consumidor, Paulo Pereira, as autoridades tentam apurar qual foi a circunstância da adulteração da bebida. As autoridades buscam identificar fornecedores das bebidas e pessoas que tenham manipulado os produtos.
O metanol é usado como matéria-prima para combustíveis e é impróprio para consumo humano, mas estaria sendo utilizado na falsificação de bebidas alcoólicas.
Há bares no foco da investigação?
Sim. Três bares da Região Metropolitana de São Paulo foram interditados pela Vigilância Sanitária.
Na cidade de São Paulo, os bares interditados estão localizados nos bairros dos Jardins e Mooca e passaram por fiscalização na segunda-feira, 29, resultando na apreensão de mais de 100 garrafas de bebidas sem rótulos e sem comprovação de procedência.
Um dos alvos da ação foi o bar Ministrão, na Alameda Lorena, nos Jardins, onde uma das vítimas disse ter consumido bebida alcoólica antes de passar mal e perder a visão. Ela continua hospitalizada.
O endereço é citado no Boletim de Ocorrência registrado por familiares da vítima, documento ao qual o Estadão teve acesso.
Em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, a interdição feita nessa terça-feira, 30, resultou na apreensão de garrafas de bebidas sem rótulos e sem comprovação de procedência que foram encaminhadas para perícia policial.
O governo de São Paulo disse que vai interditar os estabelecimentos suspeitos de vender bebidas adulteradas. A medida é cautelar e foi anunciada, nessa terça-feira, pelo governador Tarcísio de Freitas.
Em coletiva de imprensa, o governador também descartou o envolvimento do PCC com os casos. A hipótese de elo com a facção foi levantada pela Associação Brasileira de Combate à Falsificação.

Bares e restaurantes de São Paulo se viram obrigados a tentar tranquilizar seus clientes e esclarecer a procedência de seus produtos.
Os bares Posto 6, Ômadá, Patriarca Bar e Salve Jorge, representados pelo Grupo Azim, disseram em nota que todas as bebidas são adquiridas de distribuidores homologados pela multinacional francesa Pernod Ricard (empresa do setor de bebidas alcoólicas) e que os produtos possuem nota fiscal, selo de autenticidade e lacre de segurança.
Além de destilados, cerveja e vinho podem ser adulterados?
Os recentes casos investigados de intoxicação por metanol em São Paulo ocorreram após o consumo de bebidas alcoólicas destiladas, como gim, vodca e uísque. Mas, especialistas alertam que o biocombustível pode ser usado para adulterar também cerveja e vinho. “Para o adulterador não há limites, desde que haja lucro”, afirma Rodrigo Ramos Catharino, farmacêutico, doutor em Ciência de Alimentos e professor da Unicamp.
Integrante da comissão técnica do Conselho Regional de Química de São Paulo, a química Glauce Guimarães Pereira reforça que na cerveja, o teor alcoólico é baixo (4 %–6 %) e com maior complexidade aromática. Isso significa que qualquer desvio químico é mais fácil de notar.” Para ela, é uma questão de eficiência na adulteração: “Adulterar cerveja sem ser perceptível só renderia uma quantidade muito pequena”.
O farmacêutico-bioquímico do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unesp, em Botucatu, Alaor Aparecido Almeida aponta que o metanol é adicionado para aumentar o volume da bebida.
“Ele é usado para vender mais com um preço menor”, diz. “O metanol costuma ser mais barato que o álcool, porque é mais fácil de produzi-lo. Eles escolhem geralmente destilados justamente por serem mais caros. Como a cerveja é relativamente barata, a chance é menor de ser adulterada”, avalia.
O presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Paulo Solmucci, também reforça a análise. “Do ponto de vista da bandidagem, a vantagem é colocar volume em produtos de valor agregado mais alto”, declarou. Mas ele destaca que a entidade ainda não foi notificada de casos com vinho. “O que acontece é substituir um vinho caro por outro mais barato, mas não adulteração”, indica.
Quais são as orientações para os consumidores ao comprar bebidas, segundo o Procon-SP?
- Procure estabelecimentos conhecidos ou dos quais tenha referência.
- Desconfie de preços muito baixos – no mínimo podem indicar alguma falha como sonegação e adulteração, por exemplo.
- Observe a apresentação das embalagens e o aspecto do produto: lacre ou tampa tortos ou “diferentes”, rótulo desalinhado ou desgastado, erros de ortografia ou logos com “variações”, ausência de informações como CNPJ, endereço do fabricante ou distribuidor, número do lote, e outra imperfeição perceptível.
- Ao notar alguma diferença, não fazer testes caseiros como cheirar, provar ou tentar queimar a bebida. Essas práticas não são seguras nem conclusivas.
- Fique atento a sintomas após o consumo: visão turva, dor de cabeça intensa, náusea, tontura ou rebaixamento do nível de consciência, isso pode indicar intoxicação por metanol ou por bebida adulterada.
- Busque atendimento médico imediato: se houver qualquer sintoma suspeito, o consumidor deve procurar urgência médica sem demora.
- Comunique as autoridades competentes: Disque-Intoxicação (0800 722 6001, da Anvisa) para orientação clínica/tóxica; Vigilância Sanitária local (municipal ou estadual); Polícia (civil); Procon (órgão de defesa do consumidor); quando aplicável, outros órgãos relacionados (Ministério da Agricultura, etc).
- Exija sempre a nota fiscal ou comprovação de origem: documento precisa ter todas as informações de identificação do fornecedor e da compra, isso ajuda na rastreabilidade do produto e é uma garantia para o consumidor em eventual reclamação.
O Procon-SP, que já fiscaliza estabelecimentos que vendem bebidas como bares, restaurantes e adegas, bem como casas noturnas e supermercados, disse ainda que vai intensificar suas ações de forma integrada com equipes do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), da Polícia Civil do Estado paulista.
A Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) também traz dicas para o consumidor:
- Ao comprar uma garrafa de bebida alcoólica, o consumidor deve estar atento ao lacre de segurança, o estado do rótulo e a vedação da tampa;
- Vale checar também o registro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que rastreia todo o processo de produção e comercialização das bebidas, e precisa estar no rótulo;
- O consumidor deve checar também a presença de um selo do Imposto de Produto Industrializado (IPI), que deve estar presente;
- Todas as bebidas internacionais vendidas no Brasil apresentam, obrigatoriamente, informações em português no rótulo. Vale conferir;
- Uma outra dica é desconfiar do preço. Bebidas consideradas caras (como gim, uísque e vodka importados) sendo vendidas a preços muito abaixo do normalmente praticado devem funcionar como alerta;
- Em bares e restaurantes, se houver alguma desconfiança, vale pedir que o garçom sirva a bebida na frente do consumidor;
- Na hora de beber, confira se a bebida apresenta odor, gosto e coloração alterados. O metanol tem cheiro de álcool comum e é incolor. Mas quando acrescentado a uma bebida alcoólica, altera completamente o sabor.
Atendimento médico deve ser feito o mais rápido possível
De acordo com o governo estadual, o paciente com quadro incomum após ingestão de bebida alcoólica deve procurar atendimento médico imediato, para realizar exames laboratoriais e avaliação oftalmológica.
- Os sintomas de alerta são: dores abdominais intensas, tontura e confusão mental.
O socorro em até 6 horas após o início dos sintomas é fundamental para evitar o agravamento do quadro clínico do paciente.
Como é feito o tratamento? Existe antídoto?
Segundo pesquisadores, o antídoto mais adequado é o fomepizol, mas ele ainda não está disponível no Brasil.
“Nos casos mais graves, é necessária a hemodiálise, porque ela retira do sangue tanto o metanol quanto o ácido fórmico formado pelo metanol, que é a substância de fato tóxica para o organismo”, explica Camila Prado, pesquisadora do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Especialistas do Ciatox apontam que a Sociedade de Toxicologia e a Associação Brasileira de Centros de Informação e Assistência Toxicológica já haviam solicitado, em conversas com o Ministério da Saúde, a aquisição de fomepizol antes da atual crise de bebidas adulteradas.
Sem o produto, a alternativa é o etanol puro por sonda ou infusão. O álcool absoluto restringe a transformação de metanol em ácido fórmico. Mas quando já há ácido fórmico no paciente, é necessária a hemodiálise para retirá-lo do corpo.
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