‘Acordo pensando nisso’, diz passageiro que perdeu voo da Voepass que caiu há 1 ano
Escute essa reportagem
Passageiro que, dentre os que não embarcaram para seguir viagem, talvez tenha sido o que chegou mais próximo de entrar no avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP) há um ano, Adriano Silva Assis diz que a tragédia o faz pensar todos os dias nesse “renascimento”.
Naquele 9 de agosto de 2024, o morador de Araruama, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, chegou a despachar sua bagagem, passar pelo detector de metais e entrar no finger (ponte de embarque) do aeroporto de Cascavel (PR), mas foi barrado por um servidor local por causa de embaraços relacionados à passagem. À época, as companhias aéreas Latam e Voepass possuíam um acordo comercial de venda de passagens, o que deixou alguns passageiros confusos a ponto de perderem o embarque.
No aeroporto paranaense, Adriano protagonizou uma cena emocionante ao ser flagrado ligando para a filha para contar que havia perdido o voo. No vídeo feito pela reportagem do Estadão, é possível, ao fundo, ouvir a filha dizendo que estava com saudade dele.
“Quando fiz a ligação, primeiro liguei para a mãe dela, que estava no trabalho e, por isso, não consegui falar. Aí, liguei para minha ex-sogra, na tentativa de falar com minha filha... e fui avisando todo mundo. Naquele momento, eu queria falar com ela, a única pessoa que tenho no mundo. Eu queria falar com ela, mas ela foi pega de surpresa, não sabia de nada.”

Desde então, Adriano diz ter se tornado mais “espiritual” e afirma que não deixou de viajar de avião. “Lógico que toda vez que estou numa pista de decolagem eu lembro de tudo, mas medo, medo mesmo, graças a Deus, não fiquei com esse trauma, não. Tanto que, no dia seguinte ao acidente, precisei voltar para casa de avião... Naquele momento, fiquei muito mais espiritual, acreditando sempre no que Deus pode fazer pela nossa vida.”
Nesse sentido, após o acidente, Adriano diz que mudou sua rotina. “Tento viver a vida um pouco mais pausadamente. Procuro absorver as coisas mais tranquilamente quando acontece algo ruim e celebrar as coisas boas. Realmente, eu tenho feito isso.”
No dia do acidente, Assis chegou ao aeroporto por volta das 9h40, mas o guichê da Latam estava fechado. Ele saiu para tomar um café e retornou ao atendimento por volta das 10h40, quando foi informado que não iria embarcar, pois deveria estar uma hora antes no guichê. De Guarulhos, iria pegar outro avião para o Rio de Janeiro.
Adriano, que atua na Coordenação de Tecnologia da Informação em projetos hospitalares, diz que ainda se pergunta por que não embarcou naquele avião da Voepass. “Penso nisso a todo momento. Eu acordo pensando nisso. Às vezes, me pergunto se tem alguma coisa relacionada à minha filha, se tem alguma coisa relacionada a alguém. E todo dia fico pensando nisso.”
O acidente com o voo de matrícula PTB 2283, que pertencia à Voepass Linhas Aéreas (antiga Passaredo), aconteceu em uma área residencial de Vinhedo próxima à rodovia Miguel Melhado de Campos (SP-324).
Comentários