14 suspeitos de agredirem casal em Porto de Galinhas são identificados
A Polícia Civil de Pernambuco montou uma força-tarefa para ouvir os suspeitos de agressão a dois turistas do Mato Grosso, na praia de Porto de Galinhas. No total, incluindo testemunhas, cerca de 20 pessoas já foram ouvidas. Destas, 14 são suspeitas de terem participado diretamente das agressões a um casal de turistas. Segundo a Polícia Civil, o número de suspeitos ainda pode aumentar.
As identidades dos suspeitos estão sendo preservadas pela polícia. “O caso segue em investigação e mais informações só poderão ser repassadas após a conclusão do inquérito para não atrapalhar as diligências”, diz, em nota, a Polícia Civil.
A reportagem não conseguiu contato com as defesas dos suspeitos. Em um vídeo publicado no Instagram, um grupo de barraqueiros se defendeu, alegando que os empresários deram início à confusão, quando um deles agrediu com um mata-leão um garçom conhecido como Dinho. Eles também negaram qualquer relação do caso com homofobia.
Imagens de vídeos gravados por testemunhas mostram barraqueiros dando socos e chutes no casal de empresários Johnny Andrade e Cleiton Zanatta. A reportagem apurou que, entre os suspeitos, ao menos três são proprietários ou sócios de barracas de praia. Os demais são prestadores de serviços aos barraqueiros, entre eles oito garçons ou atendentes. Há ainda dois suspeitos que não trabalham no local, mas teriam ligação com os barraqueiros.
Testemunhas já ouvidas disseram que o grupo age em conjunto quando algum turista se nega a pagar pelo uso de cadeiras ou das mesas. Em muitos casos, eles usam cabos de guarda-sóis e cadeiras para ameaçar quem se recusa a efetuar o pagamento.
A delegada-geral adjunta da Polícia Civil de Pernambuco, Beatriz Leite, diz que os suspeitos foram identificados a partir da análise das cenas da confusão gravadas por celulares e pelo depoimento das testemunhas. “As investigações seguem pela delegacia local, com apoio de equipe da Diretoria Integrada Especializada (Diresp), que esteve na localidade coletando imagens e levando pessoas que estavam no local para prestarem depoimento”, afirma.
Segundo ela, as investigações serão presididas pela Delegacia de Porto de Galinhas, até que se chegue à autoria e as pessoas que tiverem participado dos fatos sejam formalmente indiciadas no inquérito.
Lesão corporal ou tentativa de homicídio
Em entrevista à imprensa, o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, disse que pediu prioridade total à investigação sobre o caso. Segundo ele, a autoridade policial que preside o inquérito ainda vai definir os tipos de crimes nos quais os suspeitos podem ser incursos, se lesão corporal leve ou grave, ou se a tipificação pode chegar à tentativa de homicídio. De qualquer forma, ele considerou o caso “muito grave”.
O secretário pontua que o tipo de crime pelo qual cada envolvido irá responder vai depender da análise das imagens de vídeos que já estão em poder da polícia, dos depoimentos das testemunhas que estão sendo arroladas e das oitivas dos suspeitos. As duas vítimas já prestaram depoimentos, mas podem voltar a ser ouvidas até a conclusão do inquérito. Para ele, caberá ao delegado definir os rumos da investigação.
Como não há indiciado preso, o prazo para encerrar o inquérito e encaminhar ao Ministério Público é de 30 dias, mas pode ser prorrogado a pedido justificado pela autoridade policial.
Cobrança proibida
A Prefeitura de Ipojuca publicou um novo decreto nesta terça-feira, 30, reforçando as regras para o funcionamento de estabelecimentos autorizados pelo município. A atualização altera o Decreto Municipal nº 485/2018 e inclui duas novas determinações voltadas à proteção do consumidor e ao ordenamento urbano.
Entre as mudanças, fica proibida a exigência de consumação mínima, a cobrança de taxas ou multas pela ausência de consumo e qualquer prática de venda casada por parte do autorizatário ou de seus colaboradores. Segundo o texto, essas condutas passam a ser expressamente vedadas.
O decreto também estabelece que o descumprimento das novas regras poderá resultar na cassação da autorização de funcionamento. A Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano fica autorizada, mediante decisão fundamentada, a suspender temporariamente a autorização enquanto apura possíveis irregularidades. A Barraca da Maura, onde as agressões tiveram início, foi suspensa por uma semana.
Um dos destinos turísticos mais conhecidos do país, Porto de Galinhas é um distrito de Ipojuca, a cerca de 60 quilômetros do Recife. Com piscinas naturais e águas cristalinas, o local oferta aos moradores e visitantes passeios de jangada, mergulhos e rotas de buggy por praias próximas, como Muro Alto e Maracaípe.
Tumulto na faixa de areia
As agressões aos turistas aconteceram no sábado, 27, em plena praia. Imagens gravadas por testemunhas registraram o tumulto na faixa de areia. No meio da confusão, é possível ver quando os turistas sobem na caçamba de uma viatura da Guarda Municipal. Um dos vídeos também mostra Johnny com o rosto ensanguentado.
Ao Estadão, ele contou que foi agredido logo depois de questionar o valor cobrado, por muito acima do combinado. O turista disse que viu sinais de homofobia no ataque. “O cara ofereceu as cadeiras por R$ 50 e disse que, se a gente consumisse os petiscos dele, a gente não ia pagar o valor das cadeiras e da barraca. Quando pedimos a nossa conta, ele falou que não tínhamos consumido petiscos, então agora ele iria cobrar R$ 80 da cadeira. Tentamos conversar, mas eles vieram para cima de nós.”
O casal foi levado por uma equipe de guarda-vidas à Delegacia de Porto de Galinhas. Johnny relatou que ele e o companheiro precisaram buscar atendimento médico antes de registrar o boletim de ocorrência por conta dos ferimentos no rosto e no corpo.
Nesta terça, Johnny negou que ele e Cleiton estivessem bêbados, como afirmaram os barraqueiros, e disse que, durante o atendimento no hospital, pagaram os R$ 80 que eles haviam cobrado, além de duas águas de coco, no valor total de R$ 94.
O turista também denunciou em vídeo no Instagram a falta de estrutura em Porto de Galinhas, pois teve que realizar todo o deslocamento entre a delegacia e duas unidades de saúde por transporte de aplicativos, já que uma delas não tinha aparelho para fazer raio-X. O passeio pelo litoral pernambucano, que deveria durar mais de uma semana, terminou no primeiro dia. O casal desembarcou no aeroporto de Cuiabá nesta terça-feira.
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