"Vai ter mulher trans na Avenida, sim", diz Rainha Trans do Carnaval capixaba
Uma semana se passou desde que Melanie Jorden se tornou a primeira rainha trans do Carnaval Capixaba. Mesmo assim, ela custa acreditar que foi escolhida para integrar a Família Real da festa. "A ficha ainda não caiu", conta.
Com apenas 20 anos de idade, a jovem aproveitou o momento para comemorar e também deixar um recado: "Vai ter trans abrindo o Carnaval na Avenida e trans sendo rainha, sim!".
Em entrevista ao Tribuna Online, Melanie conta como foi a experiência de vencer e fala um pouco sobre a sua vivência como trans. Confira:
AT2: Você é a primeira rainha trans do Carnaval capixaba. Como é ser pioneira?
Melanie: É uma honra ser a primeira rainha trans. Acredito que seja um sinal de que a sociedade está avançando, porque é bem difícil ver mulheres trans ocupando espaços como esses.
Além disso, as pessoas tendem a ter muito preconceito. Elas preferem fechar as portas para as pessoas trans.
AT2: Sempre gostou de Carnaval?
Melanie: Sempre. O Carnaval entrou na minha vida na adolescência. Como moro no Morro do Alagoano, perto da escola de samba Novo Império, fui me apaixonando cada vez mais.
Inclusive, fui passista da Novo Império por três anos, mas no ano passado fui para a (Unidos de) Jucutuquara.
AT2: E como foi a preparação para o concurso de Rainha Trans?
Melanie: Eu comecei a me preparar em setembro. Foram meses de ensaio, de terça a quinta, e também aos domingos. Fora esses ensaios, eu tinha ensaios exclusivos.
AT2: E a competição? Como foi?
Melanie: Foi difícil. Foi a primeira vez que participei de um concurso. Nunca tinha passado por essa experiência. Fiquei com bastante medo do que poderia acontecer.
AT2: Voltando um pouco no tempo, quando foi que você se descobriu trans?
Melanie: Eu me assumi trans há um ano e meio. Ainda é um pouco difícil para a minha família, pois eles passaram uma vida inteira me chamando pelo nome de registro.
Porém, eles são bem compreensivos e acolhedores. Eles preferem me acolher dentro da família para que não sofra preconceito.
AT2: No dia a dia rola preconceito?
Melaine: Eu tive o privilégio de nunca passar por nada. Nunca recebi nenhum comentário maldoso, não na minha frente. O preconceito que eu sofri, que me recordo, foi da Liga, que não quis permitir pessoas trans. Foi uma coisa bem pesada e que doeu bastante.
AT2: Voltando para a questão do Carnaval... O que ele significa para você?
Melaine: Significa alegria, paz e um momento onde cada um pode ser o que quiser sem restrições.
AT2: Você tem um lema para a vida?
Melaine: Meu lema é: viver como se não houvesse amanhã. Eu sou uma pessoa intensa.
AT2: Por fim, qual recado você deixa para as pessoas que ainda em 2020 são preconceituosas?
Melaine: O meu recado é que essas pessoas possam evoluir. E vai ter trans abrindo o Carnaval, sim! Vai ter trans na Avenida! Vai ter trans rainha, sim!