Brasil poderá sofrer com a falta de chips para os carros?
Escassez global de semicondutores acende alerta na indústria automotiva brasileira
O Brasil precisa dobrar o estado de alerta e marcar em “cima do lance” o problema da falta de semicondutores, que, por enquanto, não afeta a indústria automotiva nacional. Pelo menos, até o final deste mês, a produção sem interrupções está garantida. O governo vem atuando com os chineses para acelerar o desbloqueio das exportações dos chips para o Brasil.
As montadoras brasileiras estimam ter semicondutores para mais duas ou três semanas de fabricação, mas trabalham com a possibilidade de falta e buscam alternativas ao fornecedor global: a Nexperia, que é a grande provedora e detém 60% do setor.
A Volkswagen já analisa alternativas de fornecimento e, em nota, admite que a escassez dos chips continua, por enquanto, sem afetar a produção das suas fábricas. Mas impactos de curto prazo na produção não podem ser descartados.
A Chevrolet, no momento, não prevê ações relevantes, apesar de acompanhar o tema em uma semana decisiva para o governo da China solucionar esse “trauma” a favor do Brasil. A Hyundai descartou qualquer dificuldade à coluna e disse que sua capacidade para curto prazo está suprida. O CEO global da Nissan, Ivan Espinosa, disse que a organização está em estado de alerta e não descarta um travamento parcial da indústria.
Cássio Pagliarini, consultor automotivo, acredita que o País poderá sofrer uma carência dos chips oriundos da Nexperia, mesmo com a China afirmando que vai liberar ao Brasil. “O fato de Trump e Xi Jinping terem conversado sobre o assunto, certamente vai ajudar com os componentes”. Resta saber se chegarão a tempo de abastecer a indústria e evitar a escassez dos carros e, consequentemente, o aumento dos preços.
A crise dos chips nasce mais uma vez do outro lado do mundo, por outras razões distantes da pandemia, pois é de ordem política. O país de Xi Jinping bloqueou as exportações da Nexperia, que produz 100 bilhões de componentes eletrônicos por ano e fatura mais de U$ 2 bilhões.
A Nexperia (antiga Philips Semiconductors), é uma gigante de presença invisível dentro dos automóveis. Um carro, por exemplo, chega a utilizar até 3 mil semicondutores para ligar, rodar, mapear combustível, acender os faróis, a lista é extensa. E aí está o nó.
Não adianta fabricar e estocar os pátios à espera dos chips ou elencar a necessidade prioritária e empobrecer o veículo eletronicamente, como foi opção de fabricantes no período pandêmico.
Chinesas não vão sentir nada
Vacinadas pela verticalização — pois produzem quase tudo que montam —, as chinesas do Brasil devem passar sem qualquer problema pela atual questão dos semicondutores. A GWM, que está nacionalizando o Haval H9, na planta de Iracemápolis, confirma que não existe risco em seu fornecimento, que é gerenciado pela matriz da montadora, na sua origem. Portanto, o nível de competitividade sobe ainda mais a favor dos novos asiáticos.
A BYD, em pleno processo de evolução fabril no complexo de Camaçari, Bahia, onde monta o elétrico Dolphin Mini, o sedã King e o SUV Song Pro, disse que não será afetada pelo problema porque ela mesma produz os seus chips.
O que está acontecendo? A China fez o bloqueio das exportações da Nexperia depois que o governo holandês assumiu o controle da empresa. Isso gerou um freio de emergência para o mercado de autos.
O governo chinês se diz preocupado com impedimentos à transferência de tecnologia para a controladora chinesa, a Wingtech. Essa transferência é apontada pelos Estados Unidos como um possível risco à segurança nacional.
A bilionária Nexperia, com sede na Holanda, é subsidiária de um grupo chinês. Em 2024, a empresa faturou pouco mais de U$ 2 bilhões e no portfólio de clientes estão as maiores montadoras do mundo. A Nexperia é produtora de matéria-prima para os fabricantes que não conseguem completar o processo de montagem sem esses componentes.
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