“Tenho sede de aprender e evoluir”, afirma ator e diretor Bernardo Dugin
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Bernardo Dugin, 31, garante que é “pau pra toda obra”. Ele atua, dirige, ataca de assistente de produção, serve o cafezinho... Ah, e tem mais: faz tudo isso felizão, sempre atento para extrair novos ensinamentos. Pelo menos foi o que esse carioca de Nova Friburgo contou, em um bate-papo com o AT2. “Tenho sede de aprender e evoluir”, salientou.
E os caminhos que o levam até todo esse aprendizado podem sair de muitas vias. Uma delas é a troca com feras da dramaturgia, como o ator Marco Nanini, 72 anos.

“Recentemente fui assistente de produção e de direção na peça 'As Cadeiras', de Ionesco, com Marco Nanini e Camilla Amado, com direção do Fernando Libonati. Trabalhar com eles é um constante aprendizado. Acordava feliz e ia dormir mais feliz ainda, agradecendo pela rara oportunidade artística”, ressaltou.
Apesar de toda essa disposição para amadurecer e crescer como profissional, ele, que deu vida ao Nero, em “Éramos Seis” (2019), disse que até para a arte há limite. “Não faria algo que fosse contra os meus princípios”, enfatizou.
“Vou te dar um exemplo: durante o documentário 'Terra Nova', aconteceram coisas ou flagramos coisas que os moradores pediram que não fossem mostradas. Jamais passaria por cima de um sentimento humano em favor da atuação”, frisou.
“Terra Nova”, que aborda a tragédia de 2011 em Nova Friburgo, na serra do Rio, foi lançado na última sexta no YouTube. Sete cidades da região foram atingidas pelas chuvas, deixando 918 mortos e pelo menos 99 desaparecidos. Bernardo assina a direção e autoria com a jornalista Laiane Tavares.
“Preferi focar no espírito solidário”
AT2 Fala sobre o “Terra Nova”, que acaba de ser lançado no canal da Montagna Filmes no YouTube?
Bernardo Dugin Assim como quase todos da minha cidade, tive uma relação intensa com a tragédia de 2011 em Nova Friburgo (RJ). Da perda de amigos e parentes a um movimento de mobilização para doações e reconstrução.
Tentei escrever um livro sobre esta experiência, mas não conseguia terminar. Parar para escrever me colocava em um lugar quase de egoísmo em querer contar minha história perto de tanta dor de uma região inteira.
Com a proximidade dos 10 anos do maior desastre climático da história do Brasil, decidi falar sobre o pós-tragédia. O que ficou. O que restou. Quem somos nós agora? E um simbolismo de superação deste evento é o condomínio Terra Nova, que abriga cerca de 10 mil moradores/sobreviventes que perderam suas casas.
Convidei a jornalista Laiane Tavares, que assina a autoria e direção comigo, e, juntos, desenvolvemos o tema e mergulhamos neste universo. O resultado de muita pesquisa e entrega.
Ele foi gravado durante a pandemia, não? Que dificuldades enfrentaram?
Fomos contemplados pela Lei Aldir Blanc. Filmamos no fim de fevereiro e no início de março. A equipe seguiu os protocolos de segurança. Fomos abraçados e apoiados pelos moradores do Terra Nova. De certa maneira, compartilhamos da mesma dor.
A maior dificuldade do projeto foi cumprir o prazo de entrega. Ter menos de um mês para finalizar foi apertado. Mas nos dedicamos e ficamos felizes com o resultado.
Após 10 anos dessa tragédia, o que mais o impactou nesse período de reconstrução?
Acompanhei de perto, obviamente, dentro da minha compreensão política e social há 10 anos. Foi decepcionante ver como parte das autoridades lidou com a situação. Denúncias de desvio de verba e fraudes revoltam qualquer cidadão. Então, preferi focar no espírito solidário da própria população, que não mediu esforços para auxiliar um vizinho, parente ou desconhecido que foi afetado.
O documentário conta com depoimento desses refugiados ambientais. Em uma postagem no seu IG, colocou: “ Vocês marcaram minha vida. Obrigado! Agora, prometo me dedicar para entregar o melhor filme a vocês. Para vocês. Por vocês. Por Nova Friburgo”. Qual maior lição aprendeu?
Quem me apresentou o termo “refugiados ambientais” foi a própria Laiane Tavares, que divide a direção comigo. Sou um apaixonado por histórias, por humanidade, e, dentro do Terra Nova, isso tem de sobra.
Viver uma realidade tão próxima a mim e ao mesmo tempo tão distante me emocionava diariamente. Durante cinco dias, acompanhamos a rotina de alguns moradores do condomínio. Foi intenso, visceral. Foi edificante.
As lições eram a todo momento. Através dos exemplos. Quanta superação! E uma frase de uma personagem me marcou: a gente se adapta.
Diz a máxima que o brasileiro é perito na arte de se reinventar. Fez isso na pandemia?
Fiz teatro online, aulas online, academia em casa, me arrisquei um pouco mais na cozinha e revi alguns hábitos, como consumos desnecessários.
Curte viajar, não é?
Sim, sempre quero desbravar mais do que o lugar. Quero conhecer as pessoas. E a gastronomia.
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