Mais um feminicídio no Recife: uruguaio é preso após matar namorada por asfixia
Lorena Duarte é assassinada em seu apartamento; suspeito, com quem vivia relação "intensa e conturbada", foi preso em flagrante
Com colaboração de André Nascimento e Carlos Simões
Lorena de Araújo Duarte, de 46 anos, foi encontrada morta dentro do próprio apartamento, no quarto andar do Edifício Suape, no bairro da Boa Vista, área central do Recife. O crime, registrado por volta das 5h desta terça-feira (11), tem como principal suspeito o namorado da vítima, o uruguaio Nestor Nicolás Blanco, de 44 anos, que foi preso em flagrante pouco depois, nas imediações da Delegacia de Boa Viagem.
O crime
Segundo a Polícia Civil, Lorena foi morta por asfixia, dentro do quarto do casal. O delegado Marcos de Castro, que esteve no local, informou que o corpo apresentava marcas de defesa nas mãos e no pescoço, indicando que ela tentou reagir. O suspeito foi encontrado horas depois, transtornado e com arranhões nos braços, e acabou confessando que havia brigado com a namorada, mas alegou não saber o estado dela.
A Polícia foi até o endereço indicado por Nestor e encontrou Lorena já sem vida. O caso foi registrado inicialmente na Delegacia de Boa Viagem e deve ser investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Ciúmes, separação e recomeço
Lorena e Nestor estavam juntos havia cerca de um ano. Segundo a vizinha Andrea, que convivia de perto com a vítima, o relacionamento era marcado por brigas e reconciliações.
“Ela tinha deixado ele, mas do nada resolveu voltar. Disse que estavam bem novamente, eu até os convidei para passar o Natal comigo”, contou Andrea.
A vizinha relatou ainda que o suspeito era muito ciumento e que Lorena havia decidido dar uma “nova chance” ao relacionamento.
Um amor intenso, e fatal
O casal se conheceu na Academia da Cidade do bairro de Santo Amaro, onde Lorena praticava exercícios. Segundo os relatos, eles tinham uma relação “intensa”, que os amigos viam ora como apaixonada, ora como conturbada.
“Brincamos o carnaval juntos este ano. Ninguém imaginava isso. O amor deles era forte — tanto pra ele quanto pra ela”, disse Andrea.
O perfil do suspeito
Nestor Nicolás Blanco vivia no Recife desde 2024 e trabalhava como motorista por aplicativo. Há um CNPJ ativo em seu nome, ligado a uma empresa de transporte registrada no mesmo endereço do apartamento onde Lorena foi morta. Ele foi detido e deve ser transferido para o DHPP, onde prestará novo depoimento.
Mais um nome nas estatísticas
O feminicídio de Lorena se soma à longa lista de mulheres mortas por companheiros ou ex-companheiros em Pernambuco. Só este ano, dezenas de vítimas foram assassinadas em contextos de ciúme, separação e controle. Casos como o dela revelam um padrão: a violência costuma começar de forma verbal, avança para o controle psicológico e termina em tragédia.
“Ela dizia que ele era muito ciumento, mas achava que ia dar certo dessa vez”, lamentou a vizinha.
O que diz a lei
O feminicídio é uma forma qualificada de homicídio, prevista no artigo 121 do Código Penal, com pena que pode chegar a 40 anos de prisão quando há agravantes. Em Pernambuco, a maioria dos suspeitos acaba presa em flagrante ou identificada em poucos dias, resultado do trabalho conjunto das delegacias especializadas e do DHPP.
Mesmo assim, o número de casos segue alarmante — um reflexo da dificuldade de romper o ciclo da violência doméstica antes que ele termine em morte.
“Ela dizia que ele era muito ciumento, mas achava que ia dar certo dessa vez”, lamentou a vizinha.
Denuncie
A morte de Lorena é um alerta sobre os sinais ignorados da violência doméstica.
Denúncias podem ser feitas de forma anônima pelo Disque 180 (Central de Atendimento à Mulher) e pelo Disque 190 (Polícia Militar).
Em Pernambuco, também é possível procurar diretamente a Delegacia da Mulher (DEAM) mais próxima ou acionar o Disque-Denúncia pelo telefone (81) 3421-9595.
Mourinha, aqui está a matéria vinculada — com ênfase nas causas, problemas e soluções — construída a partir do estudo que você enviou e mantendo as aspas originais:
Violência doméstica ainda desafia a rede de proteção: integração entre poderes é caminho para reduzir feminicídios
A violência contra a mulher, ainda hoje, “é um fenômeno que atinge todas as mulheres, independentemente de classe social, raça, etnia, renda, religião, nível cultural e escolaridade” (Maria da Penha Maia Fernandes, 2020). A afirmação, feita há cinco anos, segue atual. No Brasil e em Pernambuco, os dados mostram que a desigualdade de gênero continua alimentando o ciclo de agressões e feminicídios.
O estudo A Integração entre os Poderes como Forma de Garantir a Efetividade dos Preceitos Legais que Visam Assegurar a Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica aponta que as causas da violência estão ligadas “a uma ordem social e cultural sustentada por uma ideologia que busca legitimá-la”. Ou seja, a agressão ultrapassa os muros do lar: é reflexo de relações de poder desiguais e de uma sociedade ainda marcada pelo machismo estrutural.
O diagnóstico e as propostas citadas na reportagem baseiam-se no estudo A Integração entre os Poderes como Forma de Garantir a Efetividade dos Preceitos Legais que Visam Assegurar a Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica, de Marco Antônio Soares de Albuquerque e Renata Dayanne Peixoto de Lima.
Falta de integração
Entre os principais problemas, o levantamento cita “a fragilidade no atendimento e proteção às mulheres que sofrem violência”, além da “falta de integração entre os equipamentos que compõem a rede pública”. Há concentração de serviços na capital e deficiência de atendimento no interior do Estado, o que deixa muitas vítimas sem acesso à proteção básica.
Apesar de leis consideradas modelo pela ONU, como a Lei Maria da Penha, o estudo conclui que “a lei não é capaz de se efetivar sozinha, ela necessita das políticas públicas, bem como é inegável a importante atuação e sensibilização dos profissionais envolvidos na linha de frente”. O desafio, portanto, não é apenas jurídico, mas também social, cultural e institucional.
A importância de ações integradas
Entre as propostas de solução, o texto destaca a importância de um trabalho integrado entre Judiciário, Executivo e sociedade civil.
"A proteção oferecida às vítimas permanece insuficiente, e o monitoramento do agressor precisa ser ampliado. Além disso, a proposta inovadora do Núcleo de Informações Estratégicas e Cumprimento de Ordens Judiciais (NIOJ) do TJPE necessita de expansão para alcançar maior eficácia e cumprir seus objetivos. Por fim, constatou-se que a integração entre os poderes, essencial para a efetividade dos preceitos legais de proteção à mulher vítima de violência doméstica, ainda requer maior engajamento e colaboração, pois, apesar dos esforços, essa integração permanece limitada", diz um trecho do estudo.
O núcleo é apontado como um avanço: monitora o agressor e acompanha a vítima, buscando evitar novos episódios de violência. Para os autores do estudo, a ampliação do projeto é “imperiosa”, já que o fortalecimento da rede de apoio é fundamental para “garantir a segurança e os direitos das mulheres”.
A conclusão é direta: a luta contra a violência doméstica é “uma responsabilidade coletiva, que exige a mobilização de todos os setores da sociedade em busca de um objetivo comum: a construção de um ambiente seguro e acolhedor para todas as mulheres”.
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