Assassino de Julia envia mensagem a outra jovem após crime: "bom dia, amor"
Suspeito mandou mensagem carinhosa a outra jovem cerca de duas horas depois de cometer feminicídio com requintes de crueldade em motel

Poucas horas depois de espancar, desfigurar e asfixiar a nail designer Julia Ramilly dos Santos Silva, 20 anos, dentro de um quarto de motel no bairro Nobre, em Paulista, o estudante de engenharia elétrica Djalma Diego Oliveira Deodato, 25, pegou o celular e escreveu: “Bom dia, amor”.
A mensagem foi para outra jovem, de 18 anos, com quem ele mantinha um relacionamento há cerca de um mês. Um gesto frio, como se nada tivesse acontecido entre a madrugada e a manhã do dia 23 de setembro.
A jovem que escapou

A garota, que pediu para não ser identificada, contou à TV Tribuna PE/Band que conheceu Djalma do mesmo jeito que Júlia: numa corrida de moto por aplicativo. Disse que poderia ter sido ela. Já esteve com o suspeito no mesmo motel onde Júlia foi assassinada. “Foi um livramento”, confessou.
Segundo a jovem, Djalma era sedutor, tinha lábia. Tratava com “carinho”, mas deixava escapar frases de posse: “Tu és minha. Não fica com mais ninguém, não”.
Os dois se conheceram numa corrida de MotoUber, após uma festa em Maria Farinha, também na cidade de Paulista, onde ele foi buscá-la identificando-se como “Matheus”. Na ocasião, o amigo dela pediu que “Matheus” o levasse em casa e também levasse a amiga, porque ninguém estava aceitando a corrida.
Os três foram na mesma moto, com a promessa de que seria pago o dobro do preço da corrida, algo irregular, mas que foi aceito pelo motorista que ignorou, também, o conceito de certo e errado no trânsito.
A vida que seguiu
O rapaz foi deixado no destino e ela seguiu com o assassino sozinha. Foi no mesmo dia que começaram a se relacionar. Chegou a ir para a casa de um amigo dele, lancharam, se divertiram. A vida seguiu.
A jovem disse que Djalma a deixou desconfortável num dos encontros sexuais, quando pediu que ela fizesse algo durante o sexo que ela não queria. Mas ela disse “não” e escapou.
Para ela, o tom usado no “não” pode ter sido o diferencial que a manteve viva. Ela acredita que a vítima pode ter sido mais incisiva ao se negar a fazer algo que ele pedia na cama. Mas é só uma dedução, ainda.
Segundo a polícia, foi solicitado exames periciais para saber se Djalma teve sexo com a vítima. Ele era reeducando, como se chama com pessoas que saem do presídio. Já havia sido preso por estelionato e tráfico de drogas pesadas, como crack.
Como antecipou a Tribuna, usou a tornozeleira eletrônica até janeiro, por apenas 120 dias, quando passou a não exibir, no corpo, sinais do seu passado de presidiário. Era somente um estudante aos olhos de muitos. Usou o nome de Davi no aplicativo onde foi chamado por Julia. Já não era mais “Matheus” e deixou o “taxímetro” ligado por quase três horas. O que mostra também a falha de segurança do aplicativo.
O corpo de Júlia

Júlia não teve a mesma sorte da jovem entrevistada pela repórter Luciana Queiroz nesta quinta-feira (25), um dia após o enterro da vítima. A perícia mostrou que Julia apresentava sinais de espancamento: rosto desfigurado, unhas em gel arrancadas, marcas de sangue por todo o lugar. “Ela lutou pela vida”, disse o delegado Douglas Camilo, que acompanhou o caso naquela manhã de terça-feira.
Mas não resistiu. Foi morta por esganadura. O assassino ainda introduziu um controle remoto em suas partes íntimas. Grau de maldade 10. Pagou o motel onde esteve com Julia com o dinheiro dela e, cinicamente, pediu que a acordassem às 9h, caso ele não voltasse. Não voltou, aliás. Foi para casa, tomou banho e seguiu para o estágio no bairro do Janga, numa empresa terceirizada da Compesa.
No início das investigações, importante lembrar, foi informado à imprensa que Julia tinha recebido um Pix de Djalma, o que levantou à deduções de que ela poderia estar fazendo programa.

O tribunal da internet tentou diminuí-la por isso, reduzir o impacto de sua morte, como se o sexo livre fosse permitido apenas para os homens, como sempre. Mas foi o inverso. Djalma que recebeu um pix dela de quase R$ 300, sabe-se lá em quais circunstâncias, porque ele pode tê-la forçado a isso antes de tirar sua vida.
E o ápice, após o feminicídio, foi dar bom dia a outra jovem às 8h58. Após receber resposta, às 11h51 da mesma manhã, antes de ser preso em flagrante, acrescentou: “bom dia amor” (sic).
O grito da mãe

Na delegacia, Djalma confessou. Mas disse que não se lembrava porque usara cocaína e rivotril antes do crime. Contrariou a versão do delegado, que não viu indícios de consumo de drogas ou álcool no motel onde Julia foi morta.
Sua defesa tentou alegar insanidade mental, quase risível. A juíza do caso, Simone Cristina Barros de Azevedo Silva, não aceitou e decretou sua prisão temporária por feminicídio. Após a audiência de custódia, Djalma ficou em silêncio diante da imprensa. Não respondeu.
A mãe, Pollyanna Barbosa, desabafou no enterro: “Ninguém aguenta mais tanto sangue feminino derramado”. Era mais do que dor pessoal. Era uma denúncia. Júlia se soma à lista de mulheres assassinadas em Pernambuco, um rastro de sangue que insiste em crescer.
Falsidade ideológica
Antes de sair do motel, Djalma ainda passou uma mensagem para o celular da amiga de Julia, usando uma linguagem que ela não adotava, o que acendeu o alerta amarelo, logo depois confirmado, para tristeza da família. “Estou chegando”, escreveu.
A mãe rebateu o argumento do advogado de defesa: “Que insanidade é essa? Ele pegou o celular da minha filha, fez Pix pra conta dele de R$ 295. Isso não é loucura, é crime”, disse, além de pedir o óbvio: “Que de fato seja feita a justiça, não essa justiça que a gente costuma ver diariamente nos noticiários, onde não existe”.
No velório, amigas vestiam camisas com o rosto dela. Cantaram, rezaram, aplaudiram. O enterro foi acompanhado por lágrimas e revolta.
No cemitério de Santo Amaro, a revolta era unânime. “Ele destruiu o rosto dela”, disse uma amiga, chorando. Outra resumiu: “Um monstro. Queremos justiça”.
Justiça e medo
O caso expõe uma rotina de horror que se repete. Mulheres mortas, famílias destruídas, desculpas frágeis. A moça envolvida com Djalma carrega o medo de ter sido o alvo. “Poderia ter sido eu”, disse. Poderia. Djalma está preso no Cotel, onde deve aguardar o julgamento por feminicídio. Pelo menos é isso que todos esperam.
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