Botafogo cobra R$ 410 milhões do Lyon e defende Textor de ameaças jurídicas da Eagle
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O Botafogo cobra do Lyon, da França, valores referentes a negócios acertados sobre Luiz Henrique, Igor Jesus, Jair, Thiago Almada e Jefferson Savarino. Além do argentino (por empréstimo), nenhum deles foi para o clube francês, mas a cobrança é mais um capítulo da briga entre John Textor e a Eagle Football Holdings, rede de clubes do empresário americano da qual o time brasileiro.
Em nota publicada na noite desta segunda-feira, a SAF do Botafogo confirmou as cobranças, sem citar os atletas, e atribuiu a falha na operação de caixa integrado à Direção Nacional de Controle de Gestão (DNCG), que ameaçou punir o Lyon por problemas financeiros.
“Tornou-se necessário formalizar, por vias legais, que o atual desequilíbrio financeiro entre as entidades aponta para a necessidade de reembolso à SAF Botafogo por valores anteriormente emprestados”, diz um trecho.
A nota ainda diz compreender que houve necessidade de apoio entre os clubes do mesmo grupo, antes de o Lyon recorrer a um investidor externo. No entanto, a SAF do Botafogo enfatiza que “tais investimentos não seriam necessários caso o OL (Olympique Lyonnais) consiga honrar com os reembolsos devidos."
A notificação enviada ao Lyon argumenta que o Botafogo venderia os atletas citados ao clube francês, mas não houve conclusão dos negócios por causa da proibição na inscrição de novos jogadores. O veto decorria de dívidas. Então, foram feitos outros negócios, com valores abaixo dos que seriam pagos ao Botafogo, e as quantias repassados ao caixa dos franceses.
Segundo revelado pelo jornal O Globo, Thiago Almada, Igor Jesus e Jair teriam sido negociados com o Lyon por, respectivamente, 27 milhões de euros (R$ 171 milhões), US$ 43 milhões (R$ 236 milhões) e 20,9 milhões de euros (R$ 132,8 milhões). As cifras são maiores do que Altético de Madrid pagou pelo argentino, e Nottingham Forest, pelos brasileiros.
Textor assumiu o controle da SAF do Botafogo em abril de 2022. Além de tomar a dívida do clube associativo, ele também se comprometeu a investir no time carioca para alavancar o negócio. O empresário americano também é dono do RWDM Brussels, da Bélgica, e recentemente vendeu suas ações do Crystal Palace, da Inglaterra, onde era sócio minoritário.
John Textor se movimenta agora para “recomprar” o Botafogo e tirá-lo da Eagle, assim como o RWDM Brussels. Seu entendimento é de que o clube carioca estaria financeiramente mais saudável fora do grupo, que não aceita vender a SAF ao próprio Textor por entender que ele seria “o vendedor e o comprador” no negócio.
O Grupo Eagle relatou um prejuízo de 90 milhões de euros (R$ 587,9 milhões) e prevê um déficit financeiro muito significativo em balanço divulgado em 28 de julho.
No caso do Lyon, um dos problemas foi a queda na arrecadação com direitos de transmissão: de 95,4 milhões de euros em 2022/23 para 45,7 milhões de euros em 2023/24. O novo acordo da Ligue 1 com DAZN e BeIN Sports — cerca de R$ 3 bilhões anuais por cinco temporadas — ficou aquém do esperado. A liga francesa se desvalorizou após as saídas de astros como Messi, Neymar e Mbappé.
No Brasil, outro fator que gera dúvidas sobre o futuro do Botafogo é a falta de transparência em 2025. Apesar de o clube ser o atual campeão da Libertadores e do Brasileirão, a SAF alvinegra ainda não publicou seu balanço financeiro, cujo prazo se encerrava em abril.
Durante a apresentação do técnico Davide Ancelotti, Textor afirmou que a divulgação não ocorreu porque documentos confidenciais da SAF estavam sob análise para a abertura de um IPO (Oferta Pública Inicial) na Bolsa de Valores de Nova York. Com a “recompra” do Botafogo, a tendência é que o processo demore ainda mais.
Veja a nota do Botafogo na íntegra
A SAF Botafogo esclarece que sempre valorizou a colaboração dentro do ecossistema da Eagle Football e mantém o desejo de que essa parceria siga existindo, em benefício de todos os clubes que compõem o grupo.
Infelizmente, medidas adotadas por órgãos reguladores na França comprometeram o funcionamento dessa integração, resultando na interrupção dos acordos de cash pooling que vinham sendo benéficos para todas as partes. Diante deste cenário, tornou-se necessário formalizar, por vias legais, que o atual desequilíbrio financeiro entre as entidades aponta para a necessidade de reembolso à SAF Botafogo por valores anteriormente emprestados.
Além disso, algumas medidas corporativas foram adotadas, com o devido alinhamento junto ao nosso parceiro acionista, o Botafogo de Futebol e Regatas (BFR), visando permitir a entrada de novos aportes de capital no Clube, caso os reembolsos por parte da Eagle ou do Olympique Lyonnais (OL) não sejam viabilizados de imediato. Tais ações não tiveram caráter provocativo e a SAF Botafogo reconhece integralmente o direito de seu acionista majoritário de ter prioridade em qualquer oportunidade de investimento no Clube, antes que se considere a participação de investidores externos. Ressaltamos, porém, que tais investimentos não seriam necessários caso o OL consiga honrar com os reembolsos devidos.
Para fins de esclarecimento, destacamos que as ações societárias tomadas até o momento consistem apenas em autorizações legais e que não há, no presente momento, qualquer plano que vise à diluição da participação acionária do nosso sócio majoritário. Inclusive, tais medidas seriam necessárias para possibilitar que o próprio acionista majoritário realize novos investimentos.
Por fim, a SAF Botafogo reforça que qualquer eventual negociação envolvendo a venda de participação majoritária na sociedade, seja ela conduzida por John Textor ou por terceiros, deverá necessariamente passar por um processo de diálogo e negociação amigável com o atual sócio majoritário. Embora medidas judiciais e societárias possam ser interpretadas de maneira equivocada por parte da imprensa, é fundamental que nossos torcedores tenham plena ciência de que a SAF Botafogo segue tendo a Eagle Football como sua acionista controladora, e que esta, por sua vez, é majoritariamente controlada por John Textor. Reiteramos nosso compromisso para que todas as discussões envolvendo o futuro da SAF ocorram de forma transparente, responsável e respeitosa.
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