Mais de 490 mil pessoas no Espírito Santo não usam internet
Desse total, 169 mil pessoas disseram não saber usar, o que, para especialistas, mostra que inclusão digital ainda é desafio
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Embora o uso da internet seja crescente, um dado chama a atenção: 498 mil pessoas de 10 anos ou mais não utilizam internet no Estado. Ao listar os motivos, 169 mil disseram que não sabiam utilizar.
Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD Contínua 2024, por meio do módulo sobre Tecnologia da Informação e Comunicação – TIC, que verificou que o percentual de domicílios com acesso à internet subiu de 92,7% para 93,3% entre 2023 e 2024 no Espírito Santo.
Em contrapartida, 3.145 milhões de pessoas de 10 anos ou mais utilizam internet no Estado, segundo a pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para o consultor de tecnologia da informação Eduardo Pinheiro, a inclusão digital é uma barreira contra golpes e fake news.
“Ainda existem milhões de brasileiros fora do ambiente digital, e a principal justificativa é a dificuldade em manusear ferramentas tecnológicas”.
Eduardo Pinheiro alertou que, em uma era em que a maior parte das notícias circula pelos meios digitais, esse afastamento da internet deixa essas pessoas mais expostas à desinformação e a golpes, sobretudo os aplicados por telefone ou até de forma presencial.
“Sem acesso a fontes confiáveis da grande imprensa, muitos acabam confiando em boatos espalhados por redes de contato, entre amigos ou outros grupos sociais”.
Esse cenário, segundo ele, revela um problema grave: “a exclusão digital não é apenas uma questão de acesso à tecnologia, mas uma vulnerabilidade social”.
A PNAD Contínua investiga, desde 2022, a existência de dispositivo inteligente nos domicílios capixabas, que podem ser acessados pela internet, como câmeras, caixas de som, lâmpadas, ar-condicionado, geladeiras, por exemplo.
Em 2024, do total de 1,474 milhão de domicílios em que havia utilização de internet no Estado, 23,5% (346 mil) possuíam algum tipo de dispositivo inteligente, apresentando um aumento de 5,5% (88 mil domicílios) em comparação a 2023. Esse percentual era o terceiro maior do País, atrás apenas do Distrito Federal (25,1%) e do Rio Grande do Sul (24,3%).
ENTREVISTA

“Idosos são alvo de golpes digitais” - Ronald Gomes Lopes, Ministério Público do Espírito Santo
Dirigente do Centro de Apoio Operacional Criminal (CACR) do Ministério Público do Estado, o promotor de Justiça Ronald Gomes Lopes falou sobre a exclusão digital e revelou que os idosos estão entre os principais alvos de golpes digitais.
- A Tribuna - No Estado, 169 mil pessoas não têm acesso à internet. Entre os motivos, está o fato de não saberem utilizar as ferramentas digitais. No seu entendimento, isso é preocupante, sobretudo diante de tantos casos de fake news, golpes virtuais e desinformação?
Ronald Gomes Lopes - Sim, é extremamente preocupante. A exclusão digital não se trata apenas de uma limitação no acesso à tecnologia, mas de uma forma moderna de vulnerabilidade social.
Quando milhares de pessoas não sabem utilizar as ferramentas digitais, elas ficam mais expostas a desinformação, golpes virtuais e notícias falsas, sem mecanismos para se proteger ou verificar a veracidade das informações.
Isso afeta não apenas o indivíduo, mas o funcionamento saudável da própria sociedade, inclusive em temas sensíveis como eleições, vacinação e segurança pública.
- Nesse universo, muitos são idosos, que acabam sendo mais vulneráveis. Qual a orientação para esse público? Nunca é tarde para aprender?
Os idosos estão entre os principais alvos de golpes digitais. A orientação é que busquem apoio junto a familiares, instituições comunitárias ou órgãos públicos que promovam a inclusão digital com linguagem acessível.
A tecnologia pode e deve ser uma aliada do envelhecimento com dignidade. E, certamente, nunca é tarde para aprender. Ao contrário: muitos idosos, ao serem estimulados e respeitados em seu ritmo, se adaptam muito bem ao ambiente digital. A informação e a prevenção são as melhores formas de proteção.
- O Ministério Público tem algum núcleo que trata do combate às fake news e golpes?
Sim. No âmbito do Ministério Público do Estado do Espírito Santo, o Centro de Apoio Operacional Criminal (CACR), em parceria com o Centro de Apoio Operacional de Defesa do Consumidor, tem desenvolvido ações específicas voltadas ao enfrentamento dos crimes cibernéticos, em especial os golpes virtuais e a disseminação de fake news.
Além da produção de cartilhas informativas para orientar a população com linguagem simples e acessível, também temos promovido capacitações para promotores de justiça, servidores, policiais civis e militares.
Essas capacitações se tornaram ainda mais relevantes diante das recentes mudanças legislativas e dos novos desafios que o ambiente digital impõe ao Direito Penal e a outras áreas do Direito, como a proteção de dados, os direitos do consumidor e o próprio processo penal.
A atuação do Ministério Público, portanto, busca se adaptar e se antecipar aos reflexos do mundo digital, reforçando sua missão institucional de proteger a sociedade e garantir a efetividade da justiça.
Inclusão digital é desafio urgente, dizem especialistas
A inclusão digital é um desafio urgente. e essa exclusão amplia a vulnerabilidade e desinformação, segundo especialistas.
Eduardo Pinheiro, consultor de tecnologia da informação, por exemplo, destaca que a inclusão digital é uma barreira contra golpes e fake news.
“Cabe ao poder público, à sociedade civil e às famílias buscarem soluções para promover a inclusão digital”.
O advogado Carlos Augusto Pena da Motta Leal disse que o enfrentamento à desinformação e aos crimes virtuais passa, inevitavelmente, por educação digital. “Promover o ensino tecnológico da população mais velha é, portanto, uma medida não apenas de inclusão, mas de proteção”.
Para o promotor de Justiça Ronald Gomes Lopes, a inclusão digital precisa ser tratada como uma política pública permanente. Isso envolve garantir acesso à internet de qualidade, promover capacitação digital básica nas escolas, CRAS, centros comunitários e associações, e incentivar o uso responsável das tecnologias.
“É fundamental que as ações não se limitem a distribuir equipamentos, mas incluam o preparo das pessoas para navegar com segurança, reconhecer riscos e identificar conteúdos enganosos”.
A PESQUISA
Dados do módulo temático sobre Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua 2024, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que no Estado, 498 mil pessoas de 10 anos ou mais não utilizam internet.
OS NÚMEROS
169 mil não sabem utilizar a internet no Estado
20 mil não usam por privacidade ou segurança


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