Café leva cidades fora da Grande Vitória a liderar em novos empregos
Todas as cidades na lista das 10 com mais novos postos de trabalho no Estado são fora da região metropolitana. Colheita do café é a explicação
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As 10 cidades com mais novos postos de trabalho no Espírito Santo ficam todas fora da Grande Vitória. Lideram o ranking: Sooretama, Jaguaré, Aracruz, Nova Venécia, Linhares, Vila Valério, São Mateus, Anchieta, Pinheiros e Rio Bananal.
Impulsionado principalmente pela colheita de café, o Espírito Santo registrou, em maio, 7.294 novos empregos formais, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
O resultado é positivo em quatro dos cinco grandes setores da economia, com destaque para a agropecuária, responsável por 6.433 novas vagas – cerca de 88% do total, seguida pela indústria (607), serviços (549) e comércio (250).
Análise do Connect Fecomércio-ES (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo) revela que o desempenho foi impulsionado, sobretudo, pela colheita do café, maior commodity agrícola do Estado.
Apenas essa atividade criou 4.477 vagas em maio, um aumento de 27,4% em relação ao mesmo período de 2024, o maior saldo para o mês desde o início da série histórica do Novo Caged, em 2020.
“O interior segue como motor da criação de empregos formais no Estado, com 96,6% das novas vagas criadas”, destacou André Spalenza, coordenador de pesquisa do Connect Fecomércio-ES.
Spalenza explica que esse movimento é típico de maio, devido ao pico da colheita do café. “No restante do ano, o foco volta para a Grande Vitória, com destaque para setores industriais em cidades como Linhares, Aracruz e Colatina, por exemplo.”
O relatório também aponta que o crescimento no campo está associado a um possível avanço da formalização do trabalho rural, garantindo mais segurança para empregados e empregadores.
No setor de serviços, as contratações ocorreram mais nas áreas administrativas, técnicas e de transporte. No comércio, as vagas se concentraram no atacado e no setor de veículos. Já a indústria se destacou na manutenção de máquinas e na produção de alimentos.
A tendência é que as contratações sazonais recuem nos próximos meses com o fim da colheita.
“Mesmo com a colheita já chegando ao fim, o setor segue movimentado, pois depois da colheita vem o transporte, a negociação. Isso deve se manter até setembro. Portanto, criar condições para que outros setores absorvam essa mão de obra é fundamental”, afirmou Spalenza.
Remuneração na colheita amplia concorrência
A alta remuneração na colheita de café, se comparada a outros setores, tem feito com que a chamada mão de obra safrista migre de outros estados e também da Grande Vitória.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha, explica que muitos trabalhadores chegam a trocar empregos urbanos temporariamente por uma renda mais alta durante o período da colheita.
“Tem até pessoas que tiram férias só para colher café. É possível ganhar de R$ 500 a R$ 1.000 por dia. Muitas propriedades oferecem casa, alimentação, o que reduz os custos para quem vai trabalhar no interior”, relatou.
O pagamento por produtividade é um dos principais atrativos. O valor por saca colhida, que no início da safra girava em torno de R$ 30, chegou a R$ 50 no pico do período, em alguns casos, o que motivou o deslocamento de trabalhadores inclusive de outras regiões do país.
No entanto, no seu entendimento, o número de contratações formais poderia ser ainda maior caso o Projeto de Lei nº 857/2024 já estivesse em vigor.
A proposta, que ainda tramita no Congresso, prevê que beneficiários de programas sociais possam assinar carteira sem perder o auxílio.
Para Júlio Rocha, a medida teria impacto direto na formalização da mão de obra rural. Segundo ele, muita gente está trabalhando na colheita, mas tem receio de assinar a carteira com medo de perder o benefício social.
“Se essa lei já estivesse em vigor, o número de empregos formais seria ainda maior do que os 6.433 registrados no setor agropecuário em maio”.
Em cinco anos, municípios vão liderar consumo
Cidades fora da região metropolitana vêm apresentando crescimento no consumo e, em até 5 anos, devem assumir a liderança no ranking estadual.
É o que aponta o estudo IPC Maps, que traz dados sobre consumo e a economia em todo o País.
Responsável pela pesquisa, o sócio da IPC Marketing Editora Marcos Pazzini cita que Cachoeiro de Itapemirim, Linhares, Colatina, Aracruz e São Mateus devem liderar essa mudança nos próximos anos.
Segundo ele, o motivo está atrelado à melhoria dos níveis de emprego com carteira assinada, que proporcionou uma garantia de renda ao trabalhador, refletindo diretamente na escalada dos valores de consumo.
Quem também analisa essa transformação econômica é André Spalenza, coordenador de pesquisa do Connect Fecomércio-ES. Ele destaca o movimento de interiorização como uma tendência já observada no Espírito Santo.

“Hoje a gente já vê grandes polos surgindo, como Linhares, que está se diversificando com serviços, inclusive de luxo. Aracruz, por exemplo, conta com ampliação de atividades portuárias. Colatina, polo de confecção, também é um destino em desenvolvimento.”
A expansão econômica se estende por diferentes regiões do Estado. O Sul do Estado tem ganhado destaque por conta de atividades ligadas ao petróleo, ao pré-sal e à mineração.
Além disso, ele citou a região serrana, com forte vocação para o turismo rural e a gastronomia como motores do desenvolvimento local.
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Empregos formais
O Espírito Santo registrou, em maio, a criação de 7.294 empregos formais, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
O saldo da Grande Vitória foi de 246, enquanto que os demais municípios, somados, foram 7.048.
Curiosidades
O setor de serviços
As maiores contratações ocorreram nas áreas administrativas, técnicas e de transporte.
No comércio
As vagas se concentraram no atacado e no setor de veículos.
A indústria
Se destacou na manutenção de máquinas e na produção de alimentos.
Construção civil
Foi o único segmento com saldo negativo no período, com o fechamento de 545 postos de trabalho.
Fonte: Connect Fecomércio-ES
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