Mais idosos fazem implante dentário para ter sorriso de volta
No Estado, estima-se que mais de 72 mil implantes tenham sido realizados em um ano em pacientes da terceira idade
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Quem está chegando aos 60 anos, ou já passou dessa idade, provavelmente viveu uma época em que ir ao dentista era quase sempre sinônimo de trauma. A extração era o destino comum para muitos problemas e a dentadura uma companhia para o resto da vida. Isso mudou.
Cresceu o número de idosos que buscam instalar implantes dentários para ter qualidade de vida. No Estado, estima-se que mais de 72 mil tenham sido realizados em um ano em idosos.
O cálculo é baseado na média de 6 milhões de implantes realizados por ano no Brasil, segundo dados de uma empresa do setor. Considerando a proporção populacional, isso representa cerca de 120 mil procedimentos no Estado.
Dos pacientes que fazem implante dentário, cerca de 60% são idosos, observa Roberta Batitucci, coordenadora do curso de implantodontia da Associação Brasileira de Odontologia Seção Espírito Santo (ABO-ES). “Tenho observado um aumento dos idosos procurando o implante”.
Apesar da ausência de dados oficiais sobre esse recorte, o Conselho Federal de Odontologia confirma que o Brasil conta com 21,9 mil especialistas em implantodontia.
A Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo) também reconhece que o dado ainda não está sistematizado.
Mas os especialistas consultados pela reportagem são unânimes em informar que o número de idosos buscando implante tem crescido.
“Tenho observado um aumento. Os idosos de hoje são diferentes dos de 20 anos atrás. As pessoas vivem mais e querem viver melhor”, afirma Roberto Markarian, especialista em implantodontia e diretor da clínica Implart.
Anteriormente, observa, os idosos eram trazidos pelos filhos e queriam soluções temporárias. “Hoje vêm por conta própria e investem financeiramente nessa qualidade de vida”.
Conselheiro do Conselho Regional de Odontologia do Espírito Santo, Sperandio Del Caro destaca que o custo dos implantes também tem colaborado para essa mudança de comportamento.
“Apesar de ainda ser elevado, o valor diminuiu muito em comparação com o início, há cerca de 50 anos. Isso tornou o implante mais acessível e aumentou a procura entre a população idosa”.
Até 2029, o mercado global de implantes dentários deve crescer de cerca de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 27,8 bilhões) para US$ 7 bilhões (R$ 38,9 bilhões estimados), segundo levantamento da empresa de pesquisa de mercado Mordor Intelligence.
Dúvidas Comuns
1. Todos os idosos podem fazer implante?
Sim. Especialistas relatam casos de implantes bem-sucedidos até em pacientes com 99 anos. O principal fator não é a idade, mas a saúde geral. Em alguns casos, é necessário liberação ou acompanhamento de médicos como geriatras, cardiologistas ou anestesistas.
2. Há contraindicações?
Sim. Doenças como diabetes ou hipertensão descontroladas, problemas de coagulação, câncer ou outras condições sistêmicas graves podem impedir o procedimento temporariamente. Após controle ou tratamento adequado, o implante pode ser viável.
3. Falta de osso impede o implante?
Não impede, mas pode tornar o procedimento mais complexo. A perda de dentes naturais leva à rea sorção óssea. Em muitos casos são necessários procedimentos complementares.
4. Implantes podem falhar?
Sim, mas é raro. A taxa de sucesso chega a 97%, segundo especialistas. Eles alertam que fumar aumenta o risco de falhas. Aconselham a suspender o cigarro por pelo menos 15 dias antes e depois da cirurgia.
5. O que determina o sucesso do implante?
A saúde sistêmica do paciente e a qualidade óssea são os principais fatores. Ossos com densidade muito baixa (os chamados “grau 1”) oferecem maior risco de falha, já que o “travamento” do implante é menor.
6. Devo ter medo do procedimento?
Não. Especialistas afirmam que o medo, muitas vezes, vem de informações desencontradas ou exageradas encontradas na internet — especialmente sobre enxertos ósseos. Buscar informação é importante, mas a recomendação é sempre conversar com um especialista, já que cada caso é único e a maioria dos procedimentos é simples e segura.
Sem medo de sorrir

O sorriso bonito exibido pela aposentada Zenir Maria Bromatti Bonissi, 65, só se tornou possível há cerca de dois anos quando instalou o implante dentário.
“Me incomodava muito. Eu tinha receio de conversar com as pessoas e de sorrir. Quando me permitia, era aquele sorriso com a boca fechada”.
Zenir conta que fez o implante de quatro dentes em cima e quatro embaixo com a doutora Roberta Batitutti. O implante, relata, melhorou sua qualidade de vida.
“É outra coisa. Tudo melhorou. Você pode conversar e sorrir tranquilamente. Nem se fala na diferença na mastigação e na alimentação. Coloquei o implante e não me arrependo”.
A aposentada aconselha outros idosos a instalarem. “Não precisa ter medo”.
Tratamento devolve felicidade, bem-estar e até dignidade

Do prazer na hora da alimentação aos momentos de lazer, o implante dentário faz toda a diferença na qualidade de vida dos idosos, segundo especialistas. E os benefícios envolvem felicidade, bem-estar emocional e até dignidade.
“A qualidade de vida de uma pessoa com prótese solta na boca ou ausência de algum dente é horrível. O implante melhora completamente a qualidade de vida dos idosos”, afirma a cirurgiã dentista Andressa Hirle.
O implante permite ao idosos mastigar bem, melhora sua nutrição e afeta até a fala, adiciona Lara Smith, especialista em implantodontia. “Quando o paciente não tritura bem o alimento, pode ter problemas estomacais. Além de dificuldades na fala, na respiração, no sono e até dor temporomandibulares”.
A autoestima e a socialização também ganham com o implante. Pessoas que se sentem envergonhadas com o sorriso tendem a evitar interações sociais.
“O paciente tem mais confiança para conviver com outras pessoas. A falta de dentes causa insegurança e faz a pessoa evitar programações sociais”.
Além disso, há os benefícios estéticos. “A perda dentária, além de alterar o sorriso, altera também perfil facial. Uma reabilitação com implantes e próteses adequadas podem rejuvenescer anos o paciente, e dar uma nova vida”.
Para o especialista em implantodontia Roberto Markarian, os resultados são visíveis no comportamento dos pacientes após o tratamento. “Eles sorriem mais. O implante traz felicidade e dignidade. Por outro lado, quando a pessoa não tem, fica sensível e abalada”.
A implantodontista Roberta Batitucci relata o sucesso de um implante dentário realizado em um paciente de 99 anos que fraturou três dentes.
“Ele estava com dor, não se alimentava direito e estava perdendo sua qualidade de vida. Tinha problema de mobilidade e ficava acamado. As fraturas estavam dificultando a alimentação. Só que a alegria dele era justamente esse momento”.
Pós-operatório mais tranquilo
Na última década, ocorreu uma revolução na tecnologia dos implantes dentários, destacam especialistas.
Os maiores avanços ocorreram em três frentes: diagnóstico, cirurgia e construção das próteses, segundo o doutor em implantodontia Roberto Markarian.
“Antes, os implantes eram feitos cortando a gengiva e afastando o tecido para visualizar o osso. Hoje, a tecnologia permite antever, planejar e construir dispositivos que posicionam o implante no ponto exato. É uma cirurgia menos invasiva, com pós-operatório muito mais tranquilo”.
As próteses também evoluíram. Agora são produzidas com maior precisão por equipamentos automatizados.
“Os dentes são fabricados por pequenos robôs, com anatomia perfeita, encaixe mais preciso e melhor adaptação. Avançamos muito na odontologia. Nos últimos 10 anos, foi quase como uma revolução”, afirma.
Houve um desenvolvimento dos implantes dentários enorme, tanto da estrutura quanto da macrogeometria (desenho do implante), concorda o especialista em implantodontia Márcio Lodi.
“Houve um grande desenvolvimento na estrutura e no desenho dos implantes. A tecnologia evoluiu para devolver os dentes fixos sem a necessidade de fazer enxertos, por exemplo”.
Segundo Márcio, pacientes com doença periodontal ou que usam dentadura, por exemplo, muitas vezes, não precisam mais de enxerto ósseo.
“Em 99% dos casos, o paciente fica com os dentes fixos, sem enxerto de osso, em até 10 dias. Mas é importante lembrar que cada caso deve ser avaliado individualmente”.

Outra mudança, explica a cirurgiã dentista Andressa Hirle, foi no tempo necessário para o implante se integrar ao osso do paciente: de meses para 28 dias.
“Trata-se da fusão entre o osso e o implante. É um processo que se chama osseointegração. Atualmente, existem implantes com maior osseointegração. Eles são banhados em líquidos que fazem o osso se regenerar mais rápido”.
Já a inteligência artificial (IA) está nos primeiros passos, afirma a implantodontista Lara Smith. “O que conseguimos hoje é simular o sorriso do paciente. A IA é promissora, mas ainda não é uma realidade na rotina”.
Opinião

“Há soluções para todos os bolsos”, dizem especialistas
O implante de um dente pode custar entre R$ 2.500 e R$ 12 mil em consultórios particulares no Estado. Os preços variam dependendo dos materiais utilizados, da formação do dentista e dos objetivos do paciente, segundo especialistas. Faculdades, governos e associações também oferecem o implante dentário, cujo preço varia de gratuito a acessível.
O Sistema Público de Saúde (SUS), por exemplo, conta com o Brasil Sorridente, um programa de assistência odontológica que oferece o procedimento sem custo ao paciente. O acesso começa agendando uma consulta com a equipe de saúde bucal na Unidade Básica de Saúde. O paciente será encaminhado para o Centro de Especialidades Odontológicas, que irá fornecer mais informações.
Já na Associação Brasileira de Odontologia (ABO) Seção Espírito Santo, o tratamento é feito a preço de custo, explica Roberta Batitucci, coordenadora do curso de implantodontia da instituição.
“Atendemos a população e fazemos uma triagem, selecionando pessoas que vão participar do curso como pacientes. É um tratamento de qualidade e em conta. Uma clínica popular também consegue fazer a esse preço, mas é preciso tomar cuidado”.
“Natural”

Aposentada, Madalena Stein, 69, não lembra com exatidão há quantos anos perdeu os seis dentes posteriormente implantados pela cirurgiã dentista Andressa Hirle, mas conhece a diferença que eles fizeram.
“Acho que comecei a perder aos 30 anos. Antigamente, as pessoas não cuidavam dos dentes. Aí eles ficavam careados, doíam e eram arrancados. O implante melhorou muito a minha vida”.
“Tenha confiança no profissional”
Ter as tecnologias mais modernas em mãos não significa o sucesso de um implante dentário, ressalta a implantodontista Lara Smith. “Não adianta se o dentista não souber conduzir. Então o mais importante é que você tenha confiança em quem irá realizar o seu tratamento”.
Ela destaca que um profissional experiente saberá distinguir entre quando as novas tecnologias se aplicam e quando não o fazem. “Tecnologia é uma ótima aliada, mas é necessário ter critério na utilização”.
Além disso, caberá ao implantodontista escolhido determinar, junto ao paciente, a estratégia de tratamento.
“Cada caso é diferente e precisa ser analisado por suas necessidades particularidades. Os materiais, por exemplo, impactam no orçamento. Também depende do que o paciente deseja: uma cicatrização mais rápida? Ele é alérgico a metais?”, reflete o implantodontista Roberto Markaram.
Materiais
Com novas ligas e superfícies mais biocompatíveis, os implantes atuais permitem uma cicatrização mais rápida e segura. Diferentes tipos de materiais disponíveis, ampliam as possibilidades para diversos perfis de pacientes.
Diagnóstico
Tomografias computadorizadas e softwares 3D permitem visualizar a estrutura óssea do paciente com clareza. O dentista consegue avaliar profundidade, espessura e qualidade do osso, escolhendo com mais segurança o local ideal para o implante.
Scanners
Os moldes para o implante não são mais feitos com massas, e sim com câmeras. Scanners criam uma réplica precisa da boca do paciente no computador.
Cirurgias guiadas por computador
A cirurgia é toda planejada no computador de forma virtual e através de guias de perfuração, sem cortar a gengiva. Isso permite minimizar em até 70% o trauma cirúrgico. Porém, é uma tecnologia que ainda está nos passos iniciais e não pode ser usada em todos os casos.
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