Governo e empresários do ES reagem a tarifaço de Trump contra o Brasil
Findes chamou taxação de 50% de “arbitrária”, enquanto Lula promete reciprocidade, podendo até cassar licenças em filmes americanos
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Os governos federal e estadual e empresários reagiram à taxação adicional de 50% dos produtos brasileiros importados pelos EUA anunciada pelo presidente Donald Trump. A tarifa valerá a partir do dia 1º de agosto.
O republicano compartilhou o fato em carta ao presidente Lula, em sua rede social, Truth Social. Nela, atribui a cobrança, além de a uma relação comercial que diz ser injusta com seu país, à postura do STF com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Lula respondeu dizendo que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém” e que a alta unilateral de tarifas sobre exportações brasileiras anunciada por Trump será respondida com base na Lei da Reciprocidade Econômica — que, aprovada pelo Congresso, prevê que o Brasil deve taxar quem também o taxa.
Lula convocou uma reunião de emergência com auxiliares para discutir o assunto, na noite de ontem. Segundo interlocutores, era esperada a presença de ministros como o chanceler Mauro Vieira, o vice Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, além do titular da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira.
Pessoas envolvidas no assunto afirmaram que o governo fará uma discussão interna sobre como vai proceder. Estão na mesa desde a reciprocidade, ou seja, a elevação de tarifas na importação de produtos americanos, a quebra de patentes farmacêuticas e a cassação de licença na área de audiovisual, como filmes de Hollywood.
O governo do Estado também se manifestou, por meio da Secretaria de Desenvolvimento do Estado (Sedes), que disse “lamentar a mistura entre política e decisões econômicas no comércio internacional”, e disse que a decisão de Trump representa um desafio.
Já a indústria capixaba adotou tom duro. Em nota, a Findes classificou a taxação de 50% como “extremamente severa e arbitrária” e que “rompe com os princípios fundamentais que regem o comércio internacional”. “É inaceitável que decisões comerciais sejam tomadas com base em disputas políticas internas, desconsiderando os impactos concretos sobre economias inteiras”, afirmou em nota.
O Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Estado (Sindiex) manifestou “profunda preocupação” sobre o anúncio e destacou a importância, da consolidação do acordo comercial entre o Mercosul e União Europeia, “como forma para ampliar a inserção do Brasil em mercados estratégicos”.
“Pôs brasa sob o próprio pé”, diz líder do agro sobre Trump
Liderança do agronegócio no Espírito Santo, o presidente da Federação de Agricultura (Faes), Júlio Rocha, classificou a taxa de 50% aos produtos brasileiros anunciada pelo presidente Donald Trump como “exorbitante”.
Para Rocha, a tarifa é “fora da curva” e, apesar de os americanos serem importantes para a taxa de exportação do Brasil, a medida pode acabar sendo mais negativa para os próprios estadunidenses.
“A princípio, acho que ele está puxando brasa para debaixo dos pés, pois são muitos países que serão atingidos por essas tarifas e toda ação corresponde a uma reação”.
Nacionalmente, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) alertou que a taxação ameaça a segurança alimentar global e prejudica tanto o setor produtivo do Brasil quanto os consumidores americanos.
Apesar de Trump dizer que os EUA têm déficit comercial na relação com o Brasil, na realidade é o contrário: há 17 anos, os americanos vendem mais do que compram.
A instabilidade causada pela decisão de Trump afeta decisões de longo prazo, e o Espírito Santo precisa investir pesado em missões comerciais para a Ásia e África, para não ficar refém dos EUA, diz o economista Eduardo Araújo.
Para o economista Heldo Siqueira Júnior, tudo é parte da estratégia dos EUA de salvar a hegemonia do dólar como moeda internacional, mas sem “futuro no longo prazo”.
Carta de Trump a Lula
Trechos do documento
“Conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei profundamente, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado Bolsonaro (..) é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar acontecendo. Trata-se de uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra as eleições livres e os direitos fundamentais de liberdade de expressão dos americanos (ilustrado recentemente pelo STF, que emitiu centenas de ordens secretas e ilegais de censura às plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com milhões de dólares em multas e expulsão do mercado brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos tarifa de 50% sobre qualquer produto brasileiro enviado aos EUA, além de todas as tarifas setoriais existentes.
Mercadorias transbordadas para evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas à tarifa mais alta. E tivemos anos para discutir nossa relação comercial com o Brasil, e concluímos que precisamos nos afastar dessa relação antiga e injusta, marcada por políticas e barreiras tarifárias e não-tarifárias do Brasil. Nossa relação tem sido, infelizmente, muito pouco recíproca.
Peço que compreenda que a tarifa de 50% é muito menor do que o necessário para equilibrar o campo de jogo com o seu País. E é necessário adotar essa medida para corrigir as graves injustiças do regime atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se empresas brasileiras, ou que operem no Brasil, decidirem construir ou fabricar seus produtos dentro dos EUA.
E, de fato, faremos todo o possível para aprovar isso de forma rápida, profissional e rotineira — ou seja, em questão de semanas. Se por algum motivo o senhor decidir aumentar suas tarifas, então qualquer que seja o número que escolher aumentá-las, será acrescentado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de políticas tarifárias e não-tarifárias do Brasil, causando déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. (...)
Além disso, por causa dos contínuos ataques do Brasil às atividades comerciais digitais das empresas americanas, (...) estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação de Seção 301 contra o Brasil”.
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