Único técnico brasileiro na Copa do Mundo, Renato Gaúcho foca em resultado
Com linguagem simples e foco em resultado, técnico do Fluminense mostra que seu jeito boleiro também é sinônimo de método e liderança
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Renato Gaúcho nunca escondeu sua essência boleira. Ficou marcado por uma frase de 2016 que viralizou esta semana outra vez e virou meme: “Quem precisa aprender, estudar, vai para Europa... Quem não precisa vai para praia”.
Ao longo dos últimos anos, a postura descontraída e “marrenta” se manteve, mas o técnico de 62 anos, que começou a carreira à beira do gramado no Madureira, em 2001, passou adotá-la mais raramente, em entrevistas provocativas ou em momentos pitorescos, como quando atrapalhou um jogador da Inter de Milão a cobrar lateral na última partida.
Por trás do personagem carismático, está um profissional com método, disciplina e um jeito muito próprio de comandar, que, à frente do Fluminense, tem chamado a atenção no Brasil e no exterior neste Mundial de Clubes.
Após o empate contra o Mamelodi, Carol Portaluppi foi ao hotel do Fluminense com uma missão pessoal: convencer o pai a sair para jantar. Renato recusou o convite da filha e seguiu concentrado no que mais gosta de fazer: ver futebol.
Enquanto os atletas foram liberados para aproveitar o restante do dia com os familiares, o treinador permaneceu no hotel. Sentou em frente à TV para estudar os possíveis adversários das oitavas de final. E decidiu mudar a formação e adotar três zagueiros.
“Eu sou pago para pensar e, quando armo um esquema, eu sei o que estou fazendo. Falam que o Renato é isso ou aquilo, que não estuda futebol, não entende muito de parte tática, mas o que eu mais entendo é disso”, declarou após a vitória sobre a Inter de Milão.
O aprendizado de Renato Gaúcho não vem de livros ou cursos formais, mas da observação incansável. É um consumidor voraz de futebol. Assiste desde divisões inferiores do Brasil até partidas dos principais campeonatos europeus. Vive o futebol como se ainda fosse atleta.
Para ele, o jogo é essencialmente o mesmo em qualquer lugar do mundo - o que muda é a qualidade dos jogadores em campo e o dinheiro que cada clube tem. É com base nesse princípio que molda sua forma de trabalhar: objetiva, prática e com foco no resultado.
No Fluminense, indicou mudanças claras: um time mais defensivo, mais direto e letal nas transições. Nada de invenções. O jeito como aprende também é como ensina: com simplicidade.
Mostra vídeos, analisa lances, conversa com o grupo. Fala de tática sem complicar, como quem conversa sobre futevôlei. E é ouvido. Sua confiança, herdada dos tempos de jogador, ainda transborda no vestiário. E contagia.
A cansativa brincadeira sobre o seu DVD ainda é “arma” para descontrair momentos mais tensos. A liderança e a capacidade de mobilizar os jogadores para entregarem seu máximo é ponto alto do trabalho.
Em campo, Renato gosta de coletivo. De “joguinho”. O que já foi visto como um defeito ou limitação. No dia a dia, monta o time reserva espelhado no adversário da rodada. A lógica é repetir, repetir e repetir.
Com pouco tempo para treinar no Brasil, a estratégia é deixar o jogo já ensaiado.O efeito é direto: no campo, os jogadores dizem que tudo sai igual ao treino. Porque Renato simplifica. E isso agrada.
Não há promessas de espetáculo tático, de inovações mirabolantes ou de esquemas ultramodernos. Renato não quer reinventar o futebol. É um técnico retrô.
E para isso, aposta no que acha que dá certo: no coletivo bem montado, no jogador que confia no que treina e executa, no ambiente leve e na repetição como caminho.
Os atletas gostam. Porque gostam de jogar. E com Renato, atuam sabendo exatamente o que precisam fazer. Se precisar mudar, não há vaidade. A interferência do zagueiro Thiago Silva para ajustar a segunda linha de marcação contra a Inter de Milão foi prontamente atendida.
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