Câmara de Olinda barra impeachment de prefeita, mas tem seu próprio teto de vidro
Casa legislativa mantém site com informações desatualizadas, pouca comunicação com a população e baixo grau de transparência ativa
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Treze vereadores em Olinda votaram contra o impeachment da prefeita Mirella Almeida (PSD), dois se posicionaram a favor e houve duas ausências nesta quinta-feira (26).
Na sessão, estavam em jogo a falta de transparência da gestão municipal e falta de resposta a pedidos de informação, o que é exigido por lei.
Mas a Câmara Municipal da cidade também tem seu teto de vidro.
Basta uma navegação no site institucional da Casa para constatar: informações básicas estão incompletas, desatualizadas ou mal posicionadas. Em pleno 2025, a Câmara de Olinda ainda opera distante da transparência ativa e da aproximação com o cidadão.
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A ordem do dia não é atualizada. Há fotos de parlamentares desatualizadas, mas nenhuma forma acessível para entrar em contato diretamente com o gabinete deles. A gentão fiscal foi atualizada no dia 11 de junho, porém é o sexto tópico do lado esquerdo.
Galeria antiga, vereadores invisíveis e ausência de contato direto

Quase seis meses após o início dos mandatos, a página oficial ainda estampa a imagem do ex-vereador Vinicius Castello (PT), que deixou o cargo após disputar — e perder — as eleições para prefeito em 2020.
A nova legislatura sequer foi inserida no site: não há galeria atualizada com os nomes e fotos dos parlamentares eleitos, tampouco forma acessível de contato com seus gabinetes.
As páginas individuais de vereadores, quando existem, não oferecem telefones, e-mails ou formulários de contato. O canal entre representantes e representados é, na prática, inexistente. Até o fechamento desta matéria, às 18h21, o retrado institucional da câmara olindense é o descrito abaixo.
Tateando no escuro e "dando o google" para achar
As sessões plenárias da Câmara são transmitidas ao vivo pelo Youtube, mas na página da Casa, não há nenhum link no site da Casa que chame para as sessões do Youtube. Há menos de 2 mil pessoas inscritas nesta página.
O cidadão que deseja acompanhar o que está sendo discutido ou votado na Casa depende de atas — mas até isso está defasado: os registros disponíveis no site vão apenas até o ano de 2023.
Projetos de lei de 2025 não foram divulgados até o momento, e a chamada “ordem do dia”, com os assuntos deliberados, está igualmente desatualizada.
Portal da Transparência é atualizado, mas mal localizado
Apesar do cenário geral de falta de clareza, o Portal da Transparência da Câmara de Olinda está atualizado. A última movimentação da gestão fiscal, por exemplo, foi registrada no dia 11 de junho. No entanto, o acesso ao portal não é imediato: ele aparece apenas como o sexto item no menu lateral esquerdo da página inicial — o antepenúltimo, longe de um posicionamento que dê visibilidade à informação.
Esse detalhe revela outro problema: a transparência até existe, mas está escondida. Exige conhecimento técnico ou perseverança do usuário para ser encontrada — o que contraria os princípios da transparência ativa previstos na Lei de Acesso à Informação (LAI).
Câmara sem comunicação institucional
Ao contrário de casas legislativas em cidades de porte semelhante, a Câmara de Olinda não mantém uma política de comunicação ativa. O site não traz notícias sobre o trabalho parlamentar, nem atualizações sobre votações, audiências públicas ou proposições. A seção de imprensa limita-se à publicação de editais, como se a atuação legislativa não merecesse divulgação.
Essa ausência de presença pública fortalece uma sensação de distanciamento e apatia institucional. Num momento em que a Câmara decide pelo arquivamento do pedido de impeachment da prefeita, cresce a expectativa da população por uma atuação mais transparente, fiscalizadora e visível.
Na sessão desta quinta-feira, um dos vereadores reclamou com a plateia que assistia, que não fez silêncio durante a leitura da Bíblia que abre todas as sessões. Ele ficou irritado.
Mas é bom lembrar que cada uma crença é uma convicção pessoal, a fé é instrasferível. Não estamos na época das cruzadas, nem na colonização. Um Estado laico garante a liberdade religiosa e a igualdade de direitos, protegendo todas as crenças — ou a ausência delas — sem privilegiar nenhuma.
Mas a pergunta persiste: quem fiscaliza os fiscais?
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