“Denunciei meu ex para proteger o meu filho”, diz servidora vítima de violência
Servidora decidiu dar um basta na violência que sofria. Ela é uma das 23 mulheres atendidas pelo Botão do Pânico, em Vitória
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Uma má resposta, que é seguida de uma repreensão, seja de forma privada ou em público. A discussão, a violência psicológica que, muitas vezes, escala para a violência física.
Foi pensando no filho, hoje com 9 anos, que uma servidora pública decidiu dar um basta na violência que ela conta que a criança presenciava. “Teve algo que pesou mais para dizer: 'Não quero mais essa violência'. Foi ver meu filho crescendo no meio disso tudo. Denunciei meu ex para proteger o meu filho desse ambiente.”
A servidora, de 31 anos, conta que as agressões envolveram tapas, socos, e até uma faca foi jogada em sua direção. Nem sequer durante a gravidez ela foi poupada. “Apanhei grávida, no resguardo, na frente de pessoas conhecidas, até que reuni forças para a separação”, explica.
Ela é uma das 23 mulheres atendidas pelo Botão do Pânico, em Vitória. A maioria delas recebe de um (R$ 1.518) a dois (R$ 3.036) salários mínimos, tem ensino médio completo e reside nas regiões administrativas de Maruípe, São Pedro e Santo Antônio em Vitória.
O programa é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos com a Guarda Municipal de Vitória e o Tribunal de Justiça do Estado. Ele está implantado na capital, desde 2013, única cidade no Estado que possui o serviço.
A comandante da Guarda Civil Municipal de Vitória (GCMV) Dayse Barbosa conta que também há casos de acionamentos de filha contra pai e de irmã contra irmão, como o ocorrido neste mês, mas a maioria é de ex-companheiros que quebram medidas protetivas.
“Quando acionado, toca na nossa central do videomonitoramento, e também nos smartphones, que ficam dentro das viaturas, com a localização da mulher em tempo real. Então, ela pode não estar em casa, pode estar no shopping, num barzinho, seja onde for. Dá a localização em tempo real, e aí uma viatura mais próxima é encaminhada para esse atendimento”, afirma a comandante.
Dayse Barbosa destaca os resultados da implantação do equipamento. “Nenhuma mulher que tinha um botão ela sofreu uma nova violência, muito menos feminicídio”, alerta.
Servidora pública com medida protetiva: “Relação marcada pela violência”
A servidora pública de 31 anos que decidiu pôr um fim no relacionamento com o pai de seu filho tem uma medida protetiva contra o ex e tem o botão do pânico.
A Tribuna – Como Começaram as agressões?
Servidora pública – Nós nos conhecemos em 2012, começamos a namorar em 2013. Fiquei grávida em 2015 e nosso filho nasceu em 2016.
Foi uma relação marcada pela violência. A primeira agressão física foi um tapa no meu rosto, pois a gente estava no carro, ele tinha bebido e eu pedi para ele não dirigir. Chegando em casa, ele me pediu desculpas. A partir dali, foi uma sequência.
As agressões ficaram mais frequentes?
Sim. Eu apanhei grávida, no resguardo, na frente de pessoas conhecidas, até que reuni forças para a separação. Fui agredida na frente de pessoas conhecidas, que viam a situação e adotavam a postura de que: “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. E meu filho foi presenciando tudo aquilo.
Tem uma situação de violência que seu filho presenciou que marcou a ele e a você?
O pai dele jogou uma faca para pegar no meu rosto. Eu botei a mão no rosto e pegou na minha mão. E meu filho conta para qualquer um que sentar com ele, com as palavras dele. Eu achava que meu filho não lembraria disso, mas num dia qualquer, assim, do nada, ele comentou a situação que nem eu sabia que ele lembrava.
Então, teve algo que pesou mais para dizer: “Não quero mais essa violência”. Foi ver meu filho crescendo no meio disso tudo. Denunciei meu ex para proteger o meu filho desse ambiente.
Qual foi o momento que você decidiu dar um basta?
Ele já tinha me agredido e saído de casa. Era um domingo, eu estava sozinha, tinha pedido uma pizza, ele me encontrou lá embaixo e pediu se poderia subir para a gente conversar.
Mesmo contrariada, eu permiti. Chegando em casa, ele disse que tinha voltado para ficar. Ele pegou meu celular do bolso e me pegou pelo pescoço, me colocou contra a parede e insistindo que eu desse a senha de celular para ele, me deu um soco na boca e um no olho. Eu desbloqueei o celular, ele viu, e me deu mais um soco na boca. Neste dia eu decidi denunciar.
Você possui o botão do pânico?
Sim, pois ele já quebrou a medida protetiva várias vezes. Nas duas vezes que acionei o botão, a Guarda Municipal chegou muito rápido, mas ele fugiu porque viu quando eu peguei o botão.
Botão de proteção salva irmã que estava sendo ameaçada
Um homem, de 56 anos, foi detido depois de fazer ameaças contra a irmã, no Bairro da Penha, em Vitória.
A detenção foi feita pela Guarda Civil Municipal de Vitória, no início do mês, após a vítima acionar o Botão de Proteção à Mulher. “O som ambiente passa a ser captado. Tudo acontece de forma rápida para resguardar o quanto antes a vida da mulher”, detalhou a comandante da Guarda de Vitória, Dayse Barbosa.
Saiba mais
Botão do Pânico
A capital do Espírito Santo é a primeira cidade a implementar o programa Botão do Pânico.
Lançado em 2013, o dispositivo de segurança já atendeu mais de 130 mulheres, oferecendo um refúgio de proteção e a certeza de auxílio imediato em momentos de risco.
Ao acioná-lo, em casos de perigo iminente, a Guarda Municipal de Vitória é alertada instantaneamente e presta atendimento de pronto.
O programa é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos com a Guarda Municipal de Vitória e o Tribunal de Justiça do Estado.
Como acessar o Programa?
Mulheres em situação de violência doméstica e familiar, residentes em Vitória, que possuam medida protetiva de urgência (Lei 11.340/06 – Lei Maria da Penha) e cujos agressores estejam descumprindo essas medidas, podem buscar o programa.
Para ser incluída no Botão do Pânico, a mulher deve procurar o Centro de Referência em Atendimento às Mulheres em Situação de Violência (CRAMSV), localizado na Casa do Cidadão, em Maruípe.
É necessário informar sobre as medidas protetivas vigentes e expressar o desejo de aderir ao programa.
Uma equipe de assistentes sociais e psicólogos do CRAMSV fará a avaliação do caso e emitirá um relatório para a Vara Especializada em Violência Doméstica.
cada situação será analisada individualmente e posteriormente serão incluídas no banco de dados da Guarda Municipal, que será responsável pelas visitas e também quando houver o acionamento do botão do pânico, prestando todo atendimento necessário de socorro.
O desligamento do projeto acontece quando encerra a medida protetiva, a violência cessa ou a pedido da munícipe.
Tempo de chegada
A média de acionamento anual do Botão do Pânico é de aproximadamente quatro.
em todos os socorros, não houve registro de vítimas com ferimentos ou casos de feminicídio.
E o tempo médio de chegada da patrulha da Guarda Municipal ao local dos fatos é de aproximadamente 4,5 minutos.
Fonte: Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos de Vitória.
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