“Algumas vezes, eu me intimidei. Emudeci”, diz atriz sobre xenofobia
Em entrevista ao AT2, a atriz Jacqueline Sato conta que já foi vítima de xenofobia e piadas por ter origem japonesa, e nem sempre conseguiu reagir
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Os olhos de Jacqueline Sato entregam apenas parte de sua ascendência. A atriz e apresentadora, além de parentes japoneses, tem indígenas, espanhóis, portugueses e alemães em sua árvore genealógica. Uma mistura que é a cara do Brasil.
Mas, em pleno século 21, ainda existe preconceito com quem tem características de certas etnias, como as que vêm da Ásia. Na semana em que se comemora os 117 anos da imigração japonesa no Brasil, Jacqueline conta, em entrevista ao AT2, que já sofreu com xenofobia.
“Algumas vezes, eu me intimidei. Emudeci. Pois é sério isso. Você fica desnorteada e sem ação, se ainda não tem um letramento racial mais desenvolvido. Ajuda muito quando alguém fala e, através da observação daquela pessoa que muitas vezes está falando o que você queria falar, você ganha uma dose a mais de coragem”, destacou.
E coragem é uma palavra que faz parte de seu vocabulário! Jacqueline, de 36 anos, é embaixadora do Greenpeace Brasil e CEO da associação de proteção animal House of Cats, que já ajudou mais de 2000 gatinhos a encontrarem lares.
Esse amor pela natureza, ela sabe bem de onde vem: dos antepassados indígenas. Jacqueline conta que tem contribuído bastante para tentar fazer do planeta um lugar melhor para se viver.
“Sempre quero fazer mais. E, ao mesmo tempo, faço o máximo do que está ao meu alcance. Já mudei vários hábitos meus em relação à alimentação, diminuí meu consumo, também apoio ações, ONGS e causas em que acredito. Sou embaixadora do Greenpeace e busco usar meus canais para trazer visibilidade a causas importantes”.
Apesar do seu engajamento, ela teme pelo futuro do planeta. “Olhar para o futuro em termos ambientais é uma mistura de angústia, medo, tristeza, raiva. Está nítido o quanto muitas catástrofes são consequências dos atos da humanidade ao longo de séculos, e ainda não é a maioria da população que está consciente”.
Entrevista
AT2: Já foi alvo de xenofobia? Como reagiu?
Jacqueline Sato: Dependendo da fase da vida, reagi de formas diferentes. Algumas vezes, eu me intimidei. Emudeci. Houve vezes em que eu ri de sem graça, ou querendo amenizar o incômodo.
Mas, com o tempo, o amadurecimento, a autoestima sendo cuidada e o letramento racial, passei a me posicionar. A falar quando a pessoa estava errada e o porquê. E a me posicionar quando via algo errado acontecendo ao meu redor também, mesmo que não fosse diretamente para mim. Pois lembrava de mim mesma em situações do passado e o quão bom seria se alguém tivesse falado por mim.
AT2: Você é descendente de japoneses, indígenas, espanhóis, portugueses e alemães. O que tem de cada uma dessas etnias em sua personalidade?
Jacqueline Sato: Do lado do meu pai, tenho a conexão com o Japão, meu avô veio de lá. Embora eu não tenha conhecido nem ele nem minha avó, muito da cultura permaneceu, seja na educação, na espiritualidade, nas comidas, nas brincadeiras e nos programas da minha infância. Do lado da minha mãe, tenho essa múltipla ascendência. Quem imigrou foram meus bisavós e tataravós, então algumas coisas culturais ficaram mais diluídas. Mas conheço muitas palavras, comidas e hábitos alemães. Agora, em relação à parte indígena, acredito que o amor pela natureza.
AT2: Em seu mais recente trabalho em novelas, sua personagem vivia um relacionamento abusivo. Você se inspirou em alguém para criá-la?
Jacqueline Sato: Me inspirei em muitas mulheres que passam por isso, infelizmente. Li muitos relatos, assisti a documentários, entrevistas em jornais, e pesquisei também um pouco da parte psicológica de como é estar nessa situação e como a pessoa fica com o passar do tempo. São muitas as cicatrizes e dores a serem superadas.
AT2: Já teve algum relacionamento assim?
Jacqueline Sato: Não, e espero que nunca tenha.
AT2: Que conselho daria para as mulheres nessa situação?
Jacqueline Sato: Acreditem que tem saída. O que observei dentro da minha pesquisa é que, muitas vezes, elas se sentem sozinhas, impotentes, e o medo acaba sendo maior do que a capacidade de ação. É compreensível e legítimo tamanho o terror que se vive diariamente.
Há que pensar estrategicamente, há que aprender a confiar na ajuda de outras pessoas. Parece clichê, mas as frases que mais me vêm à cabeça são: “Você não está sozinha. Você consegue”.
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