Era uma vez um cidadão religioso
Desafios e desilusões no caminho para a construção do Cristo Redentor
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Era uma vez um cidadão profundamente religioso que teve uma ideia: construir um monumento em homenagem ao Criador. Não ambicionava algo comum – que fosse uma obra capaz de ser um “cartão-postal” do Brasil.
Selecionou um local belíssimo, com vista para a cidade na qual habitava. Havia, porém, um problema: o acesso à área era controlado por uma quadrilha de traficantes. Outra questão apareceu: a imensa quantidade de órgãos a serem consultados com vistas à obra.
Tão logo a intenção de construir o monumento foi divulgada, começaram a surgir na imprensa questionamentos diversos, que iam do aspecto cênico ao ecológico. A polêmica criada não tardou a chegar ao “mundo das leis”, na forma de processos.
Esse cidadão, resiliente, constituiu um verdadeiro “departamento jurídico” para enfrentar todos os problemas legais – um simples advogado já não seria suficiente!
Enquanto os processos iam sendo penosamente contornados, ele começou a tentar levantar recursos para a obra. Foram reuniões e mais reuniões buscando apoio. Aos poucos, foram aparecendo algumas doações.
Paralelamente, seguia firme um sofrido diálogo com os criminosos que controlavam o acesso ao local do monumento. Mas era difícil convencer o líder da quadrilha de que não haveria prejuízo algum para seus “negócios” – e muito pelo contrário.
Finalmente, foi concedida pela administração municipal uma licença para a limpeza do terreno. Porém, os trabalhadores que a fariam foram expulsos a tiros do local pelos traficantes, após terem tido seus pertences roubados.
Entrementes, uma entidade de defesa da cidadania acusou-o de expor a perigo os moradores da região, que poderiam sofrer os efeitos de um eventual desabamento do monumento. Uma outra, após sustentar tratar-se de projeto que alteraria irremediavelmente os contornos da cidade, apresentou uma denúncia criminal – tudo seria um “golpe”, afinal.
Nosso impávido personagem, por conta de tantas denúncias, certo dia acordou com a polícia às portas de sua casa. Conduzido a uma prisão, consumiu os meses seguintes a provar a pureza de suas intenções. Em função de sua prisão, os necessários licenciamentos e o diálogo com os criminosos que controlavam a área cessaram. Começaram a escassear os recursos para sustentar as despesas legais envolvidas.
Bom brasileiro que era, porém, nunca desistiu! Saiu da prisão e seguiu em frente, apoiado por algumas poucas pessoas entusiasmadas com o projeto. Seu primeiro movimento foi tentar retomar o diálogo com o bando que continuava a proibir sua passagem. Somente conseguiu, porém, levar uma surra e ser ameaçado de morte.
No “mundo das leis”, as coisas também não corriam bem: os processos iam de um lado para o outro sem qualquer decisão. Ninguém queria ser o “responsável final” por aquele licenciamento.
Desiludido, nosso personagem acabou morrendo de desgosto.
Agora, imagine que o Cristo Redentor, orgulho do Brasil, não tivesse sido construído. Entenda que ele jamais o seria. E perceba que engessamos o Brasil!
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