Pobres crianças
Coluna foi publicada no último domingo (30)
Leitores do Jornal A Tribuna
Cristiane Efe nasceu em uma das milhares de favelas brasileiras, sobreviveu às crises de disenteria, hepatite, cólera e gastroenterite que a falta de saneamento básico traz e conseguiu crescer um pouco. Lá pelos 11 anos começou a ser assediada pelo pai. Ela nem cogitou ir a uma delegacia – afinal, naquele morro “Polícia não entrava”, conforme apregoava acintosamente o tráfico de drogas local.
E assim, praticamente sem outro caminho, lá foi ela envolver-se com um traficante, negociando proteção em troca do próprio corpo. Acabou grávida, aos 12 anos de idade.
Brasilina Silva, diante do mesmo problema, foi buscar ajuda na polícia. O pai dela chegou a ser preso, porém poucos dias depois o mundo das leis concedeu-lhe a liberdade. Aí ele voltou para casa, deu uma surra na esposa e outra em Brasilina, aproveitou para estuprá-la novamente e assim “tudo voltou ao normal”. Brasilina acabou grávida, aos 13 anos de idade.
Emanuele do Brasil, desde criança, gostava muito de ver televisão. Estatisticamente 70% de todos os programas que assistiu tinham algum conteúdo sexual – a média apurada nas pesquisas ficava em cinco cenas por hora no conjunto semanal. Os pais dela estavam sempre fora, batalhando pelo sustento da casa – o que a deixava mesmo por conta de assistir televisão.
A uma média de cinco cenas por hora, uma hora por dia (o que é pouco), quatro dias por semana (o que também é pouco), Emanuele assistiu, entre os 6 e os 14 anos, a algo em torno de 7.680 cenas com algum conteúdo relacionado a sexo. O resultado: acabou grávida de seu primeiro namorado, aos 14 anos de idade.
Fantine Valjean andava sossegada por uma rua de sua favela, vindo da igreja, quando foi rendida e estuprada por um maníaco. Na delegacia, quando o delegado ouviu os detalhes da execução do crime falou, entristecido: “Pois é, li que 75% dos estupradores condenados confessaram que praticaram em suas vítimas o que haviam assistido antes em programas pornográficos e que 80% dos estupradores de crianças confessaram que seus problemas começaram através das cenas de pornografia que viam cotidianamente. Eis aí mais um caso”. E foi assim que Fantine acabou grávida, quando tinha só 14 anos de idade.
Os nomes das personagens são fictícios, mas suas vidas não. Eis aí uma realidade que a nossa sociedade prefere ignorar para viver em paz – mas ela existe.
Não faz muito tempo li um estudo absolutamente chocante: o número de partos entre cada 1.000 mulheres na faixa dos 15 aos 19 anos de idade é de cinco nas Filipinas, quatro na Coreia do Sul, oito na Bélgica, seis na Dinamarca, sete na liberal França, nove na Grécia, sete na Itália, três no Japão, cinco nas ultra-liberais Holanda e Suécia, seis na China, quatro na Suíça e 89 no Brasil.
Sim, 89 no Brasil! Nem os Estados Unidos, notórios pela liberdade conferida à sua juventude, chegaram a tanto: 43 partos, menos da metade do índice brasileiro.
Diante deste quadro fico a me perguntar sobre o que está acontecendo neste País. E fico a imaginar o destino das crianças. Pobres crianças!
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