40 mil têm depressão que remédio não resolve, dizem médicos
Um a cada cinco pacientes com depressão não consegue tratar a doença com medicamentos. De acordo com especialistas, a condição é chamada de depressão refratária e estima-se que cerca de 40 mil capixabas sofram com o problema.
Segundo o psiquiatra Fernando Furieri, a depressão refratária ocorre quando o paciente, após ter feito tratamento com, pelo menos, dois medicamentos de classes diferentes, usados em dose eficaz, por tempo adequado e associados à psicoterapia, não vê melhora no quadro depressivo.
“Essa resistência pode ter origem genética ou em causas externas, como fatores estressantes e problemas de ordem pessoal. Em outros casos, a neuroquímica do cérebro do paciente simplesmente não combina com a do remédio, por isso não há resposta”, explicou.
O psiquiatra Vicente Ramatis afirmou que o uso de álcool e outras drogas também pode comprometer o tratamento.
“Se essas drogas e outros fatores externos forem retirados, o paciente fizer tratamento com dois medicamentos combinados e, ainda assim, não houver melhora do quadro, é sinal de alerta”, disse.
De acordo com os especialistas, nos casos da depressão refratária, a medicação pode até diminuir os sintomas mas não resolve totalmente o problema.
“A resposta aos medicamentos é uma questão inerente à própria pessoa. A depressão é uma doença crônica, podem ocorrer recaídas, que dificultam as respostas terapêuticas”, afirmou o psiquiatra Valdir Campos.
Além dos medicamentos, o médico indica a psicoterapia. “A depressão é uma doença tratável, tem bons resultados e existem várias estratégias de tratamento, principalmente, a psicoterapia”.
Geralmente, os medicamentos começam a fazer efeito entre quatro e seis semanas após o início do tratamento.
Quando os medicamentos e a psicoterapia não são suficientes, os especialistas indicam terapias alternativas, como estimulação magnética transcraniana e a eletroconvulsoterapia.
“A eletroconvulsoterapia melhora o quadro de depressão refratária em 70% dos casos”, afirmou Valdir.
“Fiquei triste por muito tempo”
Uma analista de atendimento de 26 anos contou que sempre foi uma pessoa feliz e de bem com a vida, até que a depressão se tornou seu pesadelo, sem causas aparentes.
“Em 2016, eu comecei a me sentir diferente, ficava triste por muito tempo. Em 2018, comecei ter pensamento suicida. Foi quando procurei ajuda”.
Ela fez tratamento com medicação e terapia e chegou a ficar seis dias internada na ala psiquiátrica de um hospital. “Ajustei a medicação duas vezes. Já tive nojo de tomar os remédios, por causa dos efeitos. Hoje estou melhor. Os remédios e a terapia estão me libertando”.
Estimulação com choques é alternativa de tratamento
Os casos de depressão refratária, que ocorre quando a medicação e a psicoterapia não funcionam, podem ser tratados com terapias alternativas, como a eletroconvulsoterapia e a estimulação magnética transcraniana.
De acordo com o psiquiatra Fernando Furieri, a eletroconvulsoterapia não causa dores ao paciente e é eficiente.
“O paciente fica sedado, em ambiente de CTI (Centro de Terapia Intensiva), com anestesiologista. Uma corrente elétrica passa pelo cérebro e gera uma crise convulsiva, que o paciente não percebe. O resultado é como se tivesse acontecido um 'reset', como em um computador”.
A eletroconvulsoterapia não causa amnésia, nem sequelas. O tratamento completo é feito com 12 a 20 aplicações.
“Nas primeiras semanas, o paciente pode ter uma amnésia de memória recente, que é reversível. Depois de três meses, a memória está totalmente recuperada. Para o paciente ter alguma sequela, seriam necessárias mais de 300 aplicações, o que não é o caso”, afirmou o psiquiatra Valdir Campos.
A estimulação magnética transcraniana, de acordo com o psiquiatra Vicente Ramatis, também pode oferecer melhora significativa. “Porém essa técnica não substitui o medicamento como a eletroconvulsoterapia”.
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Eletroconvulsoterapia com anestesia
- Utilizada quando o medicamento e a psicoterapia não fazem efeito no tratamento da depressão.
- A resposta clínica costuma ser positiva em 70% a 80% dos casos.
- Geralmente, são necessárias de 12 a 20 aplicações. A maioria dos pacientes já responde bem com seis aplicações.
- O paciente recebe anestesia geral e relaxante muscular e a frequência cardíaca é monitorada, assim como as ondas cerebrais. É feita em ambiente de Centro de Terapia Intensiva (CTI).
- A carga elétrica é monitorada de acordo com o limite do paciente.
- Nas primeiras semanas, o paciente pode ter amnésia de memória recente, que é reversível.
- Contraindicada para pacientes cardíacos e com problemas cerebrais, como aneurisma e acidente vascular cerebral (AVC) recente. Cada caso deve ser avaliado.
Estimulação magnética transcraniana
- É feita com pulsos magnéticos.
- O Paciente fica acordado e não precisa de anestesia.
- Há resposta positiva em 40% a 70% dos casos.
- São ncessárias de 10 a 20 sessões e nem sempre o tratamento substitui a medicação.
Fontes: Médicos consultados.
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O que é a depressão?
A depressão é uma doença psiquiátrica grave que apresenta sintomas recorrentes de tristeza profunda, baixa autoestima e prostração.
Quais são os sintomas?
- Humor depressivo, com tristeza que se prolonga por muito tempo.
- Falta de energia, cansaço excessivo, falta de concentração, perda de memória.
- Alterações no sono (insônia ou sonolência excessiva).
- Alterações no apetite (falta de fome ou ingestão de comida em excesso).
- Redução do interesse sexual.
- Podem ocorrer sintomas físicos, como queixas digestivas, dor no peito, taquicardia e sudorese.
Quais são as causas?
Genéticas: a pessoa que tem algum familiar próximo com depressão tem até 40% mais chances de desenvolver a doença.
Bioquímica cerebral: queda da liberação dos neurotransmissores noradrenalina, serotonina e dopamina, que estão envolvidos na regulação da atividade motora, do apetite, do sono e do humor.
Fatores externos: ambiente estressante e episódio marcante, como a morte de um familiar ou trauma, podem levar à depressão.
O que é depressão refratária?
Ocorre quando o paciente, após ter feito tratamento com, pelo menos, dois medicamentos de classes diferentes, usados em dose eficaz, por tempo adequado e associados a psicoterapia, não vê melhora no quadro depressivo.
Fontes: Médicos consultados.
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