Três mil pacientes por ano recorrem à cirurgia para perder peso no ES
Um dos principais tratamentos para a obesidade, cirurgia é segura e melhora qualidade de vida, afirmam especialistas
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Dados preliminares, fornecidos pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), apontam que, no ano passado, 130.724 indivíduos adultos com obesidade foram acompanhados no Espírito Santo. O número pode ser ainda maior, de acordo com especialistas.
Um dos principais tratamentos para a obesidade é a cirurgia bariátrica. Somente em 2024, cerca de três mil procedimentos foram realizados no Espírito Santo. A estimativa é do presidente do capítulo estadual da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), o cirurgião do aparelho digestivo Gustavo Peixoto.
“A demanda pela cirurgia bariátrica é muito maior do que a capacidade que os sistemas de saúde têm para ofertar. Temos cerca de 5 milhões de brasileiros que têm indicação de realizar a bariátrica, mas o Brasil faz 100 mil cirurgias por ano. Só para operar esses 5 milhões, levaríamos anos”, explicou.
Segundo o especialista, a cirurgia é cada vez mais segura. “A mortalidade, que no passado era cerca de 1%, hoje caiu para 0,25% em serviços de excelência. Ou seja, uma cirurgia bariátrica é mais segura do que uma cirurgia de vesícula, por exemplo”, destacou Peixoto.
Além do controle de peso, o médico explica que, com o procedimento, é possível controlar a hipertensão arterial, diabetes e apneia do sono, e também diminuir o risco de câncer, infarto e AVC.
A cirurgiã geral Diandria Bertollo destaca que a cirurgia não é um procedimento estético, apesar de trazer benefícios relacionados à estética. “A bariátrica é uma intervenção com impactos multifatoriais no paciente, envolvendo alterações fisiológicas, metabólicas e redução de comorbidades”.
O cirurgião Roger Bongestab, membro da SBCBM e nutrólogo, compara, como um colega médico lhe ensinou, que o centro cirúrgico deve ser considerado, para o paciente bariátrico, uma oficina mecânica e nunca um salão de beleza.
“Fazemos alterações mecânicas no funcionamento do trato digestivo, que ocasiona a melhor metabolização de nutrientes, aumentando também a expectativa de vida do paciente e melhorando sua qualidade de vida”.
“Melhor escolha”

A universitária Munick Lameri, 37 anos, perdeu 66 quilos desde a realização da cirurgia bariátrica, em agosto de 2023. Ela, que chegou a pesar 120 quilos, agora está com 54. “Eu estava com obesidade mórbida e pré-diabetes. Não conseguia sentar no chão e nem brincar com meu filho”.
“Antes da cirurgia, eu tentei de tudo: tomei remédio para emagrecer, fiz todo os tipos de dietas possíveis, mas voltava a engordar. A bariátrica foi um instrumento de emagrecimento que me fez virar uma 'chavinha', e mudei por completo meu estilo de vida. Sem dúvida, a bariátrica foi a minha melhor escolha”.
“Não fiz por estética”

O músico Sérgio Pavese, de 36 anos, desde a adolescência teve de lidar com o sobrepeso e o bullying. Em 2023, passou por uma bariátrica, indo de 140 para 82 quilos. “Não fiz por estética, e sim porque precisava de qualidade de vida”.
“A cirurgia é algo que te impulsiona a ter uma vida diferente. É preciso mudar hábitos, porque, sem esse entendimento, não existe mudança”, destaca.
Opiniões


Após novas regras, mais jovens procuram procedimento
Desde maio, novas regras e parâmetros estão valendo para a cirurgia bariátrica e metabólica em adultos e adolescentes.
Entre as principais mudanças está a ampliação das recomendações do procedimento, que permite que pessoas com um IMC (Índice de Massa Corporal) menor e adolescentes a partir de 14 anos sejam submetidos à cirurgia.
A mudança, segundo especialistas, tem aumentado a procura de adolescentes pelo procedimento.
“Lembrando que os critérios são mais rígidos para essa faixa etária, porém são permitidos. Precisamos estar atentos porque a obesidade, em pacientes com 16 anos, não é menos perigosa do que quando o paciente tem 18 ou 20 anos”, destaca o cirurgião e nutrólogo Roger Bongestab.
Apesar da procura, o especialista destaca que os pacientes que se encaixam nas novas regras precisam passar por avaliações de equipes multidisciplinares para serem aprovados com laudo.
Resultados
Estudos apontam, segundo o presidente do capítulo estadual da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Gustavo Peixoto, que a cirurgia bariátrica é “muito mais eficiente e efetiva do que qualquer medicamento para a obesidade”.
“Primeiro por conta do custo (dos medicamentos), que poucos pacientes conseguem sustentar em longo prazo. E porque sabemos que o paciente que faz o tratamento durante um ou dois anos, depois que ele para, um ano após parar, metade desses pacientes já engordaram novamente. Já os pacientes bariátricos sustentam a perda de peso em longo prazo”.
Peixoto aponta que, em média, um paciente que fez a cirurgia tem até cinco vezes mais resultados do que aquele paciente que faz uso da medicação.
“Só que a cirurgia não é para todos. Aqueles casos com obesidade leve são elegíveis para o tratamento medicamentoso. Para o obeso mórbido ou obeso grau dois com doença associada, a cirurgia é mais eficiente. São tratamentos complementares e não concorrem”.
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