Pesquisadores da UFMG estudam desenvolvimento de vacina nacional contra Mpox
"Em breve, teremos capacidade de produzir o IFA em massa, de forma industrial", afirma Flávio da Fonseca, pesquisador da UFMG e presidente da SBV
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Pesquisadores do Centro de Tecnologia de Vacinas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) já estudam o desenvolvimento de uma vacina brasileira contra a Mpox, em Belo Horizonte.
A etapa atual é o estudo de aumento de produção, um estágio avançado que consiste em pensar em estratégias para ampliar a capacidade de fabricação das doses, como obtenção de mais matéria-prima para atender uma demanda em grande escala.
Em 2022, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos doou um material conhecido como a semente do vírus. A partir disso é possível desenvolver o IFA (Insumo Farmacêutico Ativo), que é a matéria-prima para a produção de vacinas e o foco atual das pesquisas.
A iniciativa é uma das prioridades da Rede Vírus, um comitê criado pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações) para o combate de viroses emergentes.
"Em breve, teremos capacidade de produzir o IFA em massa, de forma industrial. O MCTI está em contato direto para avaliar o que precisamos para acelerar esse processo", afirma Flávio da Fonseca, pesquisador da UFMG e presidente da SBV (Sociedade Brasileira de Virologia) entre 2021 e 2022.
Até agora, existem duas vacinas disponíveis para Mpox. A primeira é a ACAM 2000, que tem várias contraindicações e mais efeitos colaterais por ter o vírus vivo em sua composição e, por isso, é menos segura.
A outra é a Jynneos, produzida pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic. É uma vacina que contém o vírus atenuado, recomendada para adultos maiores de 18 anos, incluindo gestantes, lactantes e pessoas com HIV.
Os efeitos colaterais incluem reações leves, como dor no local da aplicação, vermelhidão e inchaço. Algumas pessoas podem ter dor muscular, dor de cabeça e cansaço.
Nesta sexta-feira (16), a farmacêutica pediu à agência sanitária europeia a aprovação crítica de seu imunizante para menores de 18 anos.
O CEO Paul Chaplin disse, em entrevista à CNBC, dos Estados Unidos, que a Jynneos é tão eficaz em adolescentes quanto em adultos e que pode ser usada nessa faixa etária mais jovem também.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) emitiu, em 2022, a dispensa de registro para que o Ministério da Saúde (MS) realize a importação e utilização da Jynneos no Brasil.
Em outras palavras, isso quer dizer que a Anvisa não avaliou a vacina por conta própria, apenas levou em consideração um relatório já produzido pelas agências sanitárias dos Estados Unidos, da União Europeia e do Reino Unido.
"A Jynneos é aprovada para prevenir tanto a varíola quanto a Mpox. É segura e fácil de manusear e por isso é a que mais está sendo usada", afirma a médica epidemiologista Denise Garret, vice-presidente do Sabin Vaccine Institute.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou na última quinta (15) a aquisição de 25 mil doses da vacina contra Mpox com a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde).
No Brasil, apenas em 2024, já foram registrados 709 casos. Desde 2022, no primeiro surto da doença, 16 pessoas morreram por Mpox, sendo a última em abril de 2023.
Somente no estado de São Paulo, foram confirmados 315 casos da doença de janeiro a julho deste ano.
Por enquanto, apenas grupos vulneráveis serão vacinados. A decisão segue a recomendação da OMS de não vacinar populações inteiras.
De acordo com o infectologista e pesquisador da Fiocruz Júlio Croda, o número de doses anunciadas pelo MS é baixo para vacinar toda a população de risco no país.
Croda explica que a eficácia da campanha vai determinar se a quantidade é suficiente ou não. E isso vai depender da estratégia de comunicação da pasta de atrair a população específica para os postos de saúde.
"Se a adesão vacinal for alta, as doses não serão suficientes. Mas se a adesão for baixa, como em 2022, a quantidade disponível pode atender à demanda", afirma.
Croda acrescenta ainda que a vacinação em massa agora "não faz sentido". Fonseca concorda e diz que esse tipo de estratégia ainda é "desnecessária".
"Seria uma atitude maior do que a necessidade. Como a gente não tem um surto disseminado, não justifica expor as pessoas aos efeitos colaterais da vacina, mesmo que ela seja segura", diz Fonseca.
Para agora, o pesquisador recomenda a estratégia de vacinação concêntrica, ou estratégia em anel, que envolve detectar a pessoa infectada e vacinar seus contatos diretos para impedir a saída do vírus desse pequeno círculo.
Quem apresentar os sintomas de Mpox, que incluem erupções cutâneas ou lesões na pele, deve realizar um teste laboratorial molecular para confirmar a doença.
A partir da confirmação, um tratamento de suporte é recomendado utilizando um antiviral chamado tecovirimat, desenvolvido para tratar o vírus da varíola comum. Após dez dias, o organismo já deve gerar uma resposta imune.
Embora já haja casos registrados de Mpox na Suécia e no Paquistão, o foco de disseminação continua na República Democrática do Congo e em quatro países vizinhos -Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda.
É para essa região que os esforços precisam ser direcionados, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem. Dessa forma, o surto fica contido e não ocorre uma disseminação global.
No entanto, algumas dificuldades se apresentam, entre elas a falta de estoque e disponibilidade de vacinas, as fragilidades no sistema de saúde africano e a falta de incentivo para que os laboratórios produzam as doses.
A Bavarian Nordic, produtora da Jynneos, afirma que pode fornecer dez milhões de doses até o final de 2025. Segundo Garret, para conter os surtos na África, essa quantidade precisaria ser disponibilizada hoje.
Além disso, a produção, que já é limitada, acaba sendo adquirida por países ricos. "Estamos repetindo a situação da Covid", afirma. Para a epidemiologista, a solução exige uma colaboração global.
Croda também defende a soma de esforços para conter a situação na África. Segundo ele, o Brasil tem um histórico de sucesso no envio de profissionais de saúde para evidência epidemiológica, como ocorreu com os surtos de cólera no Haiti, com a epidemia de Ebola na África e com as enchentes no Rio Grande do Sul.
"Temos uma expertise, especialmente desenvolvida pelo SUS (Sistema Único de Saúde), e profissionais qualificados para uma força-tarefa. Se esse apoio for implementado de forma adequada, a gente evita muitos percalços e impactos maiores no Brasil", diz.
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