Lipoaspiração para lipedema só é indicada em casos graves, dizem especialistas
Morte da influenciadora digital Luana Andrade durante a cirurgia reacendeu discussões sobre o procedimento
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A morte da influenciadora digital Luana Andrade, 29, durante cirurgia de lipoaspiração na terça-feira (7) reacendeu discussões sobre o procedimento. Entre elas, a da intervenção como tratamento para lipedema, doença que afeta 12% das brasileiras.
O interesse de busca por lipedema cresceu, em média, 3.900% de 2019 a 2023, segundo dados do Google Trends. A condição crônica, caracterizada por um acúmulo incomum de gordura nas pernas, joelhos, braços ou quadris, foi reconhecida como doença pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2022.
O tratamento é dividido em clínico e cirúrgico -sendo esse último feito através da lipoaspiração da gordura acumulada para que as células doentes sejam removidas.
Em agosto deste ano, a influenciadora carioca Valentina Archer, 24, viralizou no TikTok com um relato sobre a descoberta da doença e o tratamento com lipoaspiração. Em fevereiro, a ex-BBB Amanda Djehdian, 37, havia compartilhado o mesmo processo.
A popularização do procedimento para tratar o lipedema, porém, preocupa médicos. A doença tem quatro estágios, diz o cirurgião vascular especialista em lipedema Alexandre Amato, e a operação só é recomendada para as mulheres em estado mais grave, segundo ele.
"Tem muita gente se aproveitando da palavra lipedema e dizendo que precisa de cirurgia quando na verdade quer estética. Em fases iniciais não precisa. Estou vendo influenciadores falando que estão operando pelo lipedema e acabam influenciando pessoas que acham que a cirurgia é a única solução", diz Amato.
A indicação da lipoaspiração para lipedema deve ser feita em duas situações específicas, segundo o cirurgião plástico Fabio Kamamoto, diretor do Instituto Lipedema Brasil.
O primeiro caso é uma pessoa que está fazendo o tratamento clínico adequado, já conseguiu perder peso, e mesmo assim não consegue desinchar os membros. O segundo é para pacientes que têm o lipedema em estágio 3 ou 4, com déficit de mobilidade e muita dor.
"As pessoas chegam no consultório, dizem que já tentaram dieta e exercício, e já querem a cirurgia, mas o tratamento envolve muito mais", afirma Amato. Segundo ele, além da mudança de estilo de vida, pode ser feita drenagem linfática e até mesmo acompanhamento psicológico.
"Afinal, 12% das mulheres têm lipedema e não tem todas elas batendo no meu consultório ao mesmo tempo, porque a grande maioria está com a lipedema controlada sem nem ter passado pelo médico", diz Amato. "O lipedema por si só não é indicativo de cirurgia."
Em casos em que é necessário, porém, o médico Fernando Amato, cirurgião plástico membro da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), afirma que a cirurgia pode ser benéfica.
"No lipedema não há só a gordura acumulada, elas têm dor, hematomas e um impacto psicossocial muito grande, porque elas têm dificuldades inclusive de encontrar roupas, calçar um sapato, mostrar as pernas", diz.
Nesses casos, é feita lipoaspiração tumescente, quando um líquido com solução de adrenalina ou anestésico é injetado para proteger os vasos sanguíneos e linfáticos da paciente. Não é diferente da lipoaspiração feita para fins estéticos.
Essa injeção é o que previne a embolia, diz o cirurgião plástico. Mas, além disso, a lipoaspiração pode ter outros perigos como reações aos anestésicos, trombose no pós-operatório, embolia gordurosa, infecção, necrose de pele e sangramento.
"É uma das cinco cirurgias mais realizadas no mundo. As complicações acontecem e vão acontecer, mas o risco é extremamente baixo. Mesmo a cirurgia feita por médicos especialistas pode ter consequências, mas a gente tem que investigar muito bem por que aconteceu", afirma o médico da SBCP.
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