“Injeções da beleza” podem matar, alertam médicos
Especialistas afirmam que o uso de produtos indevidos, como silicone industrial, pode provocar infecções e também deformações
Escute essa reportagem

Na busca por aumentar ou melhorar o contorno corporal, o uso de preenchedores injetáveis inadequados têm deixado médicos em alerta. Segundo eles, os riscos vão desde deformações até infecções, inflamações e a morte de pacientes.
A modelo e jornalista Lygia Fazio morreu, nesta quinta-feira (01), aos 40 anos, cerca de um mês após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).
Segundo amigos, há pelo menos três anos a modelo usou silicone industrial e o chamado PMMA (polimetilmetacrilato) em procedimentos estéticos. Desde então, teve vários problemas de saúde e tentava retirar as substâncias do corpo.
O cirurgião plástico Ariosto Santos explicou que as duas substâncias trazem risco para os pacientes e não são indicadas para procedimentos estéticos.
“O silicone industrial é proibido para esse uso, pois não é biocompatível com o corpo humano e não é estéril. Ele se mistura a tecidos, músculos, gordura, podendo levar a uma série de complicações, como infecção, inflamações, embolia e até a morte”.
Quanto ao PMMA, ele ainda frisou que também não é recomendado para fins estéticos, tendo indicação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas para casos específicos, como em pacientes com Aids.
O cirurgião plástico Adriano Batistuta revelou que o PMMA tem complicações que podem ser imediatas ou a longo prazo. “De curto prazo, há riscos de embolia e de infecção. Já a longo prazo, em até dois ou três anos, temos visto reações inflamatórias. O PMMA é uma caixinha de surpresa”.
Ele explicou que, ao contrário de uma prótese que pode ser removida em caso de reação, os preenchedores injetáveis se infiltram nos tecidos. “É extremamente difícil de ser retirado. Geralmente, são necessárias várias cirurgias e não se consegue retirar 100%”.
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica regional Espírito Santo, Luiz Fernando Vieira Gomes Filho, explicou que a Sociedade não recomenda a utilização de grandes volumes injetáveis que não sejam absorvíveis ou que não haja como fazer uma remoção de forma segura.
“O PMMA se integra aos tecidos onde ele é injetado, sendo impossível a remoção exclusiva dos produtos, ou seja, parte do tecido sadio tem de sair junto. As complicações vão desde vasculares até mesmo a formação de grânulos – nódulos de inflamação –, que podem aparecer anos depois”.
Casos envolvendo famosas
Fortes dores

A atriz e modelo Franciely Freduzeski foi internada em 2019 após problemas em decorrência do uso de polimetilmetacrilato (PMMA).
Segundo ela, na época, estava há dois anos com uma dor. “Começou no bumbum, foi para as costas, desceu para a perna direita, depois para o braço, mão, foi para as costas e pescoço. Parei de andar, escovar o dente, tomar banho, sair e me isolei”, contou Franciely.
Leia mais
Mudança no DNA pode dar fim à anemia falciforme
Novos remédios e terapias são esperança contra doenças neurodegenerativas
Perda dos lábios

A influenciadora digital paulista Mariana Michelini perdeu o lábio superior e ficou com sequelas no rosto em decorrência de uma “harmonização facial” feita em 2020.
Segundo Mariana, os problemas começaram seis meses depois. Hoje, ela compartilha nas redes sociais sua batalha para reconstruir o lábio. “O PMMA subiu no meu buço e destruiu o meu lábio.”
Saiba mais
Silicone industrial
O uso de silicone industrial para fins estéticos é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e considerado crime contra a saúde pública.
O produto, que tem entre as finalidades a limpeza de carros e peças de avião, teve seu uso desviado nos últimos anos.
Riscos
Entre os riscos, se injetado no organismo pode gerar diversas anomalias, seja na hora da aplicação ou com o passar dos anos, como deformações, dores, dificuldades para caminhar, infecção generalizada, embolia pulmonar e, até mesmo, a morte.
PMMA
O polimetilmetacrilato é um componente plástico que pode ser usado em forma de gel para preenchimento cutâneo apenas em duas situações, segundo a Anvisa: para corrigir irregularidades no corpo e em casos de lipodistrofia (perda de gordura facial que pode acontecer em pacientes com Aids por conta dos medicamentos usados no tratamento da doença). A Anvisa também esclarece que o produto não é indicado para aumento de volume, seja corporal ou facial.
A sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica reforçou que o uso do PMMA é “extremamente perigoso” quando utilizado fora das recomendações” de conselhos médicos.
Riscos
Segundo cirurgiões plásticos, há risco de complicações precoces e tardias de difícil resolução.
Dentre as complicações, há risco de nódulos, massas e processos inflamatórios e infecciosos, “ocasionando danos estéticos e funcionais desastrosos e irreversíveis”.
Cuidados
Segundo a Anvisa, o produto deve ser administrado por profissionais médicos treinados. O médico deve determinar as doses para cada paciente.
Fonte: Anvisa e Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Leia mais
Gripe Aviária: 16 pessoas apresentam sintomas e são monitoradas no ES
Comentários