150 mil jovens ignoram risco e usam cigarros eletrônicos
Jovens no ES fazem uso do aparelho, apesar de proibida a venda no País. Médicos alertam para a combinação de substâncias químicas
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Basta observar nas baladas para perceber que o cigarro eletrônico se popularizou e vem ganhando cada vez mais adeptos, sobretudo jovens.
Embora a venda desses aparelhos seja proibida no País, cerca de um a cada quatro jovens de 18 a 24 anos no Brasil (23,9%) já experimentou alguma vez um cigarro eletrônico, também conhecido como vape, vaper, pod, e-cigarette, e-ciggy, e-pipe, e-cigar e tabaco aquecido.
Os dados fazem parte da pesquisa Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel) 2023.
No Espírito Santo, estima-se que cerca de 150 mil jovens ignoram os riscos e já experimentaram cigarro eletrônico, realidade que preocupa médicos ouvidos pela reportagem.
Jéssica Polese, pneumologista e especialista em Medicina do Sono, por exemplo, alerta que vapes e cigarros representam uma combinação de riscos com as dezenas de substâncias químicas, incluindo cancerígenos comprovados para pulmão, bexiga, esôfago e estômago.
Esses dispositivos, como ela explica, têm nicotina que penetra na circulação do organismo e é um dos causadores do aumento da pressão arterial e dos problemas metabólicos, principalmente cardiovasculares.
Além dos conteúdos oleosos e dos aromatizantes, substâncias que irritam o pulmão e que são péssimas para quem é alérgico, e pior para quem está fumando e para quem está ao redor, como ela alerta.
“É preciso que o Brasil se organize para não deixar que esta situação se torne legalizada, porque a gente só tem visto problemas e eles só vão aumentando. Uma vez legalizado, a situação pode piorar”.
Ela conta que alguns pacientes apresentam dificuldade em largar o cigarro eletrônico. “Normalmente são jovens. Os pais estão preocupados com os filhos. O que a gente não tem visto no consultório ainda são as complicações do cigarro eletrônico mesmo porque não tem tempo de uso”.
Sobre a dificuldade de largar o vício, Jéssica Polese explica que o cigarro eletrônico é basicamente igual ao cigarro normal, com dependência química por causa da nicotina.
Pela percepção da pneumologista e especialista do sono Roberta Couto, a faixa etária que lidera o uso é dos 18 aos 30 anos.
“Essas pessoas ainda não estão nos consultórios porque o cigarro ainda não está causando muito problema, considerando o tempo de exposição. Mas ao longo dos anos a gente entende que isso vai acontecer, assim como aconteceu com o cigarro tradicional”.
Você sabia?
Termina nesta sexta-feira (09) a consulta pública da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre os cigarros eletrônicos no País que começou em dezembro de 2023 para que representantes da sociedade civil apresentem opiniões sobre o uso e a comercialização dos aparelhos. Desde 2009, é proibido vender, importar e fazer propaganda de qualquer dispositivo eletrônico para fumar, proibição que está sendo reavaliada. Segundo a Anvisa, não existe comprovação científica da segurança desses dispositivos.
Saiba mais
1- Os cigarros eletrônicos são “febre” entre os jovens?
Os dados (cerca de 150 mil jovens fazem uso de cigarro eletrônico no Estado) confirmam o que tem sido observado no dia a dia, como salienta a médica pneumologista Dyanne Moyses Dalcomune. Segundo ela, percebe-se um aumento maciço no consumo desse tipo de substância.
Ela conta que o cigarro eletrônico, quando originalmente desenvolvido, foi criado para que o fumante parasse de fumar o cigarro de combustão, aquele cigarro que acende e é mais nocivo, e tivesse uma ferramenta para ajudar nesse processo, um dispositivo que ia liberar só a nicotina.
Mas na prática não foi isso que aconteceu, como ela afirma. “Esse produto foi desenvolvido, mas o foco da indústria não foi o adulto fumante, mas sim crianças e adolescentes e jovens adultos. Com isso, a gente vive aí nos últimos cinco anos uma nova epidemia do consumo e acesso ao tabagismo”.
2- Como funcionam os cigarros eletrônicos?
Também chamados de e-cigarette, vapes, e-pipe, e-ciggy e tabaco aquecido, os cigarros eletrônicos atuam quase da mesma forma que os cigarros tradicionais. A diferença é que, em vez de queimar por combustão, eles funcionam por vaporização. Isso porque eles contêm um líquido que é aquecido e gera o vapor aspirado pelo usuário.
A pneumologista Dyanne Moyses Dalcomune reforça que o cigarro foi apresentado ao mercado como uma substância que não fazia mal.
“Ele tem um apelo para esse público jovem. É um vapor d'água, não tem problema, você pode olhar, ele é bonitinho, cheiroso, tem sabor, é colorido. Mas os estudos mostraram que tem substâncias nocivas, tem altas concentrações de nicotina, tendo poder de viciar muito mais rápido. O consumo acaba sendo muito mais exagerado, já que no caso do cigarro tradicional, o fumante não pode fumar em ambientes fechados”.
3- Quais são os riscos?
Os riscos do uso do cigarro eletrônico estão relacionados a substâncias que tem dentro dele, ou seja, mais de dois mil produtos químicos, como alerta a pneumologista e especialista do sono Roberta Couto.
Ela cita que um estudo avaliou todos os componentes do cigarro eletrônico e foram vistos três produtos químicos industriais, pesticida, além de metais pesados que, a longo prazo, têm risco de causar câncer.
Mas ela salienta que ainda não é possível apontar muitos malefícios ocasionados pelo cigarro eletrônico por conta do tempo de exposição. “Porém, a gente já sabe que tem substâncias sabidamente cancerígenas e tem casos sendo noticiados regularmente de pessoas que lesaram o pulmão por uso do cigarro eletrônico”.
4- Há tratamentos disponíveis?
Os tratamentos validados cientificamente pela literatura, como destaca a pneumologista Dyanne Moyses Dalcomune, ainda são pouco específicos para o consumo de cigarro eletrônico. Mas, segundo ela, são utilizadas as mesmas estratégias como no cigarro convencional de combustão, como medicamentos e terapia comportamental.
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