Médicos apontam os novos inimigos do sono

Depois de um dia marcado por vários compromissos, nada melhor do que chegar em casa, relaxar e garantir uma boa noite de sono para restabelecer as energias. Só que para muitas pessoas, esse momento está cada vez mais desafiador.

Motivo? Doenças como  comportamento erótico noturno, síndrome de estreitamento das vias aéreas  e a ocorrência simultânea de insônia crônica com apneia obstrutiva do sono. Classificados como novos inimigos do sono, esses foram  alguns  problemas apontados em um congresso de neurociência, em Gramado (RS), e confirmados por médicos no Estado.

Nesse universo, a médica Jéssica Polese, especialista em Pneumologia e Medicina do Sono,  diz que a  síndrome de estreitamento das vias aéreas, que é uma síndrome anterior a apneia do sono, é a que lidera.  

Não há distinção de sexo ou idade, segundo ela, apesar de o  problema ser mais frequente em  mulheres, principalmente quando está associado à obesidade e ao uso de medicação, como as sedativas, e também quando   entram na menopausa e perdem hormônio feminino.

Já os homens, normalmente são diagnosticados com apneia do sono, ou seja, interrupções na respiração que se repetem.

Jéssica Polese conta que relatos de sexônia também têm sido frequentes. “Os movimentos são considerados parassonias, um tipo de sonambulismo. São comportamentos eróticos. A pessoa pode se masturbar, acariciar quem está ao lado e manter relação sexual durante o sono e, no dia seguinte,  não se lembrar de nada”.

Esse fato tem sido narrado, principalmente, por jovens de até 30 anos. No entanto, Jéssica Polese observa que os idosos também têm buscado ajuda.

Simone Prezotti,  médica pneumologista e especialista em Medicina do Sono, também aponta  quais são os distúrbios mais comuns nesse contexto. “Certamente a Comisa (presença de insônia e apneia do sono na mesma pessoa) é um distúrbio  do sono muito frequente. Nesse caso, acomete tanto homens quanto mulheres adultos, tendendo a piorar com a idade”.

"Só vivo cansada" diz enfermeira que tem inquietação durante o sono |  Foto: Kadidja Fernandes/ AT

ANSIEDADE

Uma noite de sono tranquila, com direito a acordar disposta, está na lista dos desejos da enfermeira Dulce Soncim, 61. Por conta da ansiedade, ela toma medicamento para ajudar a dormir. Mesmo assim, desperta cansada e com falta de ânimo.  

“Eu sinto inquietação durante o sono noturno. Passo a noite buscando uma posição confortável, viro de todos os lados, mas de nada adianta. Isso é característica do transtorno do sono agitado”.

Dulce também acha que pode ter síndrome de resistência de vias aéreas do sono. “Queria conseguir dormir, voltar a ter ânimo. Só vivo cansada e dopada. Já me consultei com psiquiatra e neurologista, tomei muitos remédios, mas esses medicamentos me deixam ainda mais sonolenta”.

Alguns  vilões do sono

1) Síndrome da resistência das vias aéreas superiores (SRVAS)

Se caracteriza pelo estreitamento da passagem do ar pela laringe, faringe ou pela cavidade nasal durante à noite.

A condição não causa interrupção brusca da passagem de ar, como na apneia do sono clássica, mas o portador desenvolve fadiga crônica e sonolência durante o dia. 

O  risco é maior para esse distúrbio é em mulheres e jovens.

2) Comorbidade de Insônia e Sono com Apneia (Comisa)

É a presença simultânea de apneia obstrutiva do sono e da insônia crônica.

A Insônia é a dificuldade da pessoa  de iniciar e de manter o sono a ponto de prejudicar  suas atividades durante o dia. Já a apneia é  caracterizada como obstrução do fluxo de ar, despertando a pessoa com frequência.

3) Sexônia

Comportamento sexual durante o sono profundo (não relacionado à ocorrência de sonhos).

O Indivíduo se masturba inconscientemente com violência ou tenta abusar do parceiro de cama.

Condição provoca ferimentos na genitália e causa grande perturbação emocional no despertar.

4) Transtorno do Sono Agitado (Restless Sleep Disorder)

Se trata da Inquietação noturna, em que o paciente apresenta movimentos longos e frequentes de pernas, braços e cabeça.

Essa condição é conhecida melhor entre crianças e adolescentes, que apresentam sonolência  e cansaço durante o dia.

Deficiência de ferro está ligada ao transtorno, que deve ser diagnosticado pelo exame de  polissonografia.

5) Pandemia e covid-19

A pandemia de Covid-19 causou mudanças nos padrões de sono. Estudos mostram notável aumento de sintomas de insônia em adultos, crianças e adolescentes. 

A Covid interferiu de várias formas na qualidade do sono. Houve mudanças na vida diária, como distanciamento social, fechamento das escolas, home-office,  excesso de tempo de tela, ansiedade e preocupações, depressão e isolamento (depressão e distúrbios do sono frequentemente andam juntas), estresse crônico e aumento da frequência de pesadelos.

Além disso, estudos relacionam a covid longa à insônia em pacientes.

6) Excesso de tecnologia e telas

O excesso das telas, principalmente até muito tarde, acaba afetando tanto o início do sono  quanto sua qualidade. O estímulo luminoso diminui a produção de melatonina que é um dos  principais sinalizadores de sono.

Outro fator de preocupação relacionado à vida moderna é o fato de as pessoas estarem adiando  o seu início do sono até mais tarde.

Fonte: Brain 2022, especialistas consultados e agência Globo.

Dicas para um bom sono

EXERCÍCIOS

A prática de atividades físicas ajuda a regular o ciclo circadiano. Contudo, é importante que esses exercícios sejam feitos em horários distantes da hora de dormir. O melhor horário para a prática esportiva é pela manhã.

EVITE BARULHOS

Dormir em ambientes barulhentos diminui a qualidade do sono e pode causar irritabilidade. Sempre procure um lugar silencioso para dormir.

CRIE UMA ROTINA RELAXANTE

Fazer um lanche leve, tomar um banho quente, vestir o pijama, tomar um chá relaxante e ler são tarefas que podem ser incluídas em uma rotina para dormir. São formas de relaxar e sinalizar para o corpo que está na hora de deitar.

EVITE CAFEÍNA E ESTIMULANTES

Evite ingerir qualquer tipo de estimulantes como café, guaraná, refrigerantes e alguns tipos de chá. A cafeína, por exemplo, fica no corpo durante seis horas.

DESLIGUE OS APARELHOS

Evite fazer atividades muito estimulantes próximo do horário de dormir, como assistir televisão, ficar no celular, jogos e filmes de ação.

Fonte: especialistas e Instituto do Sono.

Saiba mais

Números da insônia

- 66,8% da população enfrenta dificuldade para dormir, segundo pesquisa feita pelo Instituto do Sono.

- 55,1% alegaram que houve piora do sono na pandemia.