Mais de 120 mil no Estado buscam ajuda para resolver traumas
Procura por solução para problemas emocionais e mais qualidade de vida aumenta a demanda por acompanhamento psicológico
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Seja por trauma emocional, depressão, crise de ansiedade ou simplesmente por chegar à conclusão de que a terapia faz bem, independente de a pessoa ter um problema específico, os consultórios de psicologia estão cada vez mais cheios.
São pacientes que buscam na ajuda especializada um caminho para resolver problemas emocionais, lidar com situações atuais e assim ganhar em qualidade de vida.
Somente no Estado, mais de 120 mil já fazem acompanhamento psicológico, cerca de 3% da população adulta, segundo especialistas. Um número impulsionado ainda mais pela pandemia da covid, que registrou aumento de 50% da procura.
“A pandemia potencializou algo que já estava acontecendo. O Brasil tem o maior índice da América Latina de pessoas com depressão e ansiedade. Associado a isso, temos fatores novos, como a crise sociopolítica, a falta de perspectiva entre os jovens e o desemprego”, revelou o psicoterapeuta Gerson Abarca.
Ele explica que muitos procuram ajuda por conta de sintomas comportamentais decorrentes de traumas passados. Entre eles, o abuso sexual na infância, a violência doméstica e acidentes de trânsito. “Quando você busca ajuda para entender a origem do problema, a vida se torna melhor”, pontuou.
Porém, um fenômeno novo ajudou a impulsionar a procura, segundo Abarca. “As pessoas passaram a entender que psicologia não é para ‘louco’, que buscar ajuda não é falta de capacidade de pensar sobre a própria vida. E muitos já fazem análise ao longo de toda a vida por escolha pessoal, por descobrir que faz bem, e não porque tem um problema específico”.
O psicólogo Cláudio Miranda lembra que a saúde mental era vista como algo em segundo plano. “Algo do tipo: ‘isso vai passar’, só que não passa. Sentimentos, medos, ansiedades, ficam lá dentro ferindo. Se o campo afetivo e emocional não estiver equilibrado, a pessoa terá dificuldade”.
A busca por essa relação melhor consigo mesmo passa pela resolução dos traumas, destacou a psicóloga Monique Nogueira. “Quanto mais buscarmos o autoconhecimento para entender os problemas, mais feliz seremos”.

Terapia ajudou
Sem se reconhecer, o técnico em segurança do trabalho Luciano Dias, de 41 anos, decidiu buscar ajuda após ser diagnosticado com síndrome de burnout, também chamada de síndrome do esgotamento profissional, em razão da exaustão emocional e física.
Pelo telefone, ele chegou a pedir demissão, mas foi acolhido por um dos seus gestores, que percebeu que ele precisava de ajuda.
“Quem identificou que no meu olhar não havia mais brilho, que eu estava triste, querendo ficar pelos cantos foi a minha esposa. Vi que era hora de procurar ajuda. Primeiro, fui em uma psiquiatra, que me encaminhou para psicoterapia. Em dois meses de tratamento, já me sentia melhor”.
Luciano ainda acrescenta: "Estava indo para um abismo, mas reagi. É necessário mudar alguns processos da nossa vida antes que seja tarde demais. Passei a fazer atividade física, andar de bicicleta, respeitar horário de almoço, dividir o tempo para o trabalho e lazer.”
Mas, afinal, após anos convivendo com traumas emocionais e problemas psicológicos, existe uma cura definitiva para os males?
Mesmo divergindo sobre o termo “cura”, especialistas garantem: existe. No entanto, essa cura não necessariamente significa a eliminação do sintoma que leva o paciente aos consultórios.
A melhora plena está em saber lidar com os sintomas problemáticos. “No processo de cura, lá na frente, quando a pessoa tem uma reincidência do sintoma, ela não se desestabiliza mais. A cura, muitas vezes, não é a eliminação do sintoma, é entender e aprender a lidar com ele”, ressaltou o psicoterapeuta Gerson Abarca.
Para o psicólogo e professor universitário Felipe Goggi, a “resolução” do problema e trauma, muitas vezes, não acontece, mas a ressignificação pode contribuir para um novo olhar em experiências similares.
“O tratamento adequado possibilita desfrutar de uma vida totalmente próxima da normalidade social sem nenhum tipo de limitação ou restrições”, ressaltou.
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