Operação contra tráfico de medicamento para aborto clandestino mira alvo no ES
Investigados também ofereciam orientações e suporte às usuárias durante o procedimento abortivo
Uma operação deflagrada na manhã desta segunda-feira (08) pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul teve como alvo um esquema de tráfico interestadual de medicamentos usados para a realização de abortos clandestinos e cumpriu mandados no Espírito Santo e em outros seis estados.
De acordo com a corporação, os investigados são das cidades de Aracruz, João Pessoa (PB), Goiânia (GO), Valparaíso (GO), Nova Iguaçu (RJ), Irecê (BA), Itaguaçu (BA), Santos Dumont (MG) e do Distrito Federal (DF). Até o momento, três pessoas foram presas e drogas e celulares foram apreendidos durante a ação, que recebeu o nome de "Operação Aurora".
De acordo com a delegada Karoline Calegari, titular da Delegacia de Polícia de Guaíba, a organização criminosa investigada é especializada no tráfico de medicamentos controlados, com destaque para o Cytotec (Misoprostol), substância utilizada ilegalmente para a prática de aborto.
Além da comercialização ilícita, os investigados também ofereciam orientações e suporte às usuárias durante o procedimento abortivo.
Entenda o caso
A investigação teve início em abril deste ano, quando um casal realizou um aborto na cidade de Guaíba, no Rio Grande do Sul. A mulher, que realizou o aborto e chegou ao hospital regional com fortes dores, relatou que havia ingerido o medicamento misoprostol, comprado pela internet.
Em seu depoimento, a jovem relatou que também havia contratado serviços de 'assessoramento técnico' no momento do aborto. O serviço seria realizado de forma online por uma 'especialista' — no entanto, durante o procedimento, a pessoa que a estava orientando passou a demorar para responder e a deixou sem assistência.
Questionada sobre como chegou até a organização criminosa, a mulher relatou que, após ter certeza da gravidez, passou a fazer pesquisas em redes sociais sobre aborto e gestação indesejada. Segundo a jovem, ela foi abordada por uma pessoa que afirmou conhecer profissionais que poderiam ajudá-la "com segurança" a interromper a gestação.
"A mulher entrou em contato com o número fornecido e a pessoa contatada revelou trabalhar ajudando mulheres a interromper gestações indesejadas. Nesse momento, apresentou a tabela de preços do medicamento misoprostol, em que também constava o número de comprimidos necessários de acordo com a quantidade de semanas de gravidez", explicou a polícia gaúcha.
Em seguida, a jovem foi adicionada num grupo de conversas por aplicativo denominado "Sinta-se acolhida", que era apresentado como um espaço para compartilhar experiências pós procedimento. Segundo a polícia, o objetido era incentivar outras mulheres que ainda estivessem em dúvida sobre o aborto, mas advertindo que detalhes do momento e do preparo para o procedimento não deveriam ser publicados.
A gestante adquiriu o procedimento e agendou a data do aborto com uma "doutora", seguindo as orientações repassadas pelo grupo. Entretanto, durante o procedimento, a jovem passou a ser negligenciada pela 'especialista', que demorava para responder ás mensagens. Não suportando as dores, a grávida procurou atendimento médico, onde os fetos acabaram sendo expelidos.
Investigação
"A partir da investigação, a polícia identificou os administradores do grupo, os quais, segundo regras claras do próprio grupo, são os únicos autorizados a realizar a venda do produto Cytotec e acompanhar o procedimento abortivo. Os investigados residem em diferentes estados da federação, com ramificação na Paraíba, Goiás, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e no Distrito Federal", informou a polícia.
A primeira etapa da Operação Aurora, deflagrada nesta segunda, tem como objetivo esclarecer a participação de cada suspeito no esquema criminoso, além de descobrir como funciona a dinâmica da organização e apurar de onde o medicamento está sendo desviado — já que se trata de droga de uso controlado, que só pode ser ministrada em hospitais, sendo vedada a comercialização em farmácia e afins.
Segundo a Delegada Karoline Calegari, que presidiu as investigações, mais de 250 mulheres faziam parte do grupo, o que pode indicar que o lucro obtido pelo grupo seja expressivo.
Procurada pela reportagem, a Polícia Civil do Espírito Santo informou que a operação está em andamento e que divulgará informações assim que a ação for finalizada.
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