Caso Marujo: dossiê revela ligação entre traficantes do ES e do Rio de Janeiro
Relatório de quase 500 páginas feito pela Polícia Civil mostra a relação de criminosos do Bairro da Penha com traficantes de facção do Rio de Janeiro
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Um dossiê preparado pela Polícia Civil revela ligações de traficantes do Bairro da Penha, em Vitória, com criminosos de facções de comunidades do Rio de Janeiro. O relatório com 484 páginas foi feito a partir da quebra de sigilo telefônico autorizado pela Justiça em um celular que, segundo a polícia, é usado por Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, apontado como chefe do tráfico no Bairro da Penha.
Nas quase 500 páginas do documentos, os investigadores reuniram conversas que mostram mensagens e fotos dos traficantes do Primeiro Comando de Vitória (PCV) com criminosos do Terceiro Comando Puro (TCP), no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Entre as mensagens, estão negociação de armas e drogas.
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Segundo a polícia, o aparelho alvo da quebra de sigilo telefônico, está em nome de outra pessoa, mas pelo conteúdo, incluindo fotos de familiares de Marujo e a troca de mensagens com criminosos, não resta dúvida de que o celular é usado pelo chefe do tráfico de drogas do Bairro da Penha.
Um dos autores do dossiê, é o titular da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Vitória, delegado Marcelo Cavalcanti, que informa que a investigação foi feita com auxílio do Centro de Inteligência e Análise Telemática (Ciat).
“Investigação realizada pelo Ciat revelou que o Fernando Moraes Pereira Pimenta, o Marujo, criminoso mais procurado do Estado, utiliza do Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, reduto do Comando Vermelho. A gente sabe que outro chefe do tráfico de drogas no Estado, o Luan Gomes Faria, o Camu, usa o Complexo da Maré, que é outro reduto de facção criminosa do Rio de Janeiro, o TCP. A investigação revelou também que integrantes do TCP aqui no Estado fazem parte do PCV”, explicou Cavalcanti.
Em um dos prints de conversa, que consta no relatório, um criminoso negocia um fuzil por R$ 45 mil. Em outra conversa, o armamento é negociado por R$ 60 mil. Além disso, há oferta de armas com numeração raspada.

De acordo com a polícia, a compra desses armamentos é para aumentar o poder de intimidação, dominar outros pontos de venda de drogas e matar os rivais da facção.
"Eles se utilizam de pessoas no Rio de Janeiro, que são responsável pela venda de armas e drogas, pessoas que, inclusive, estão presas no sistema penitenciário do Rio de Janeiro, que facilitam a compra de armas e drogas”, relata o titular da DHPP de Vitória.
Os ataques a ônibus e um carro de reportagem da TV Tribuna/SBT, ocorridos na terça (11) foram ordenados por Marujo e as forças de segurança afirmam que a prisão dele está perto.
“A prisão desse indivíduo é questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde ele será preso e ficará preso durante muito tempo”, afirmou Cavalcanti.
Monitoramento da polícia até com drones
No documento de quase 500 páginas, ainda há prints de fotos de armamentos trocadas pelos criminosos e também de radiocomunicadores. Em um desses equipamento, os bandidos demonstram que estão com acesso à frequência do rádio de policiais militares da Serra.
Além disso, o relatório mostra ainda que os criminosos possuem outras formas de monitorar as forças de segurança do Estado. No dossiê, há fotos de policiais em operações nos morros da capital.
Esse monitoramento também era feito com drones, na prática chamada por eles de visão.
O documento ainda mostra como os integrantes da facção acompanham os passos de delegados, secretários de Segurança Pública e até de profissionais da imprensa.

Comunicação facilitada por advogados, diz polícia
O Primeiro Comando de Vitória (PCV) foi fundado no Bairro da Penha por Carlos Alberto Furtado da Silva, o Beto, que está preso em uma presídio de segurança máxima, em Porto Velho, Rondônia, no Norte do Brasil.
A polícia, porém, possui evidências de que Marujo segue subordinado a Beto e não toma nenhuma decisão sem o aval do fundados da facção. Essa comunicação, segundo a polícia, é feita através do catuque (bilhetes enviados da cadeia) e facilitada por advogados que integram a organização criminosa.
“Através de um catuque, o Beto, que é apontado como dono do Bairro da Penha e do Bonfim, manda Marujo procurar Caruso, que está preso no sistema penitenciário do Rio de Janeiro, para comprar armas e drogas. Essa conversa foi repassada por uma advogada, a investigação revelou isso”, revela Marcelo Cavalcanti.
Uma das advogadas aparece no relatório de atendimentos a muitos membros do PCV, que estão presos, sendo citada em cartas e bilhetes como um das que exerce o papel de pombo correio, levando e trazendo recados e ordens de dentro do presídio. Em um dos bilhetes analisados pela polícia, é pedido que seja paga a quantia de R$ 600 mil ao advogado
“Estão ocorrendo crimes aqui no Espírito Santo, que a gente não via antes, como extorsão de comerciantes, de empresas de internet e botijão de gás, que são crimes consolidados no Rio de Janeiro. A gente sabe que isso - podemos afirmar com absoluta certeza - que é fruto dessa conexão”, afirmou Cavalcanti.

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