Aluna da USP ganhou 5 vezes na loteria, após desvios da formatura
Alunos de Medicina da universidade de São Paulo acionaram a polícia no dia 10 de janeiro
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A aluna da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) acusada por colegas de ter desviado quase R$ 1 milhão arrecadados para a formatura da turma ganhou cinco vezes na loteria em 2022 com apostas feitas após transferir, no fim de 2021, o montante pertencente aos estudantes para sua conta pessoal.
De acordo com a Polícia Civil, a jovem, de 25 anos, faturou, no total, R$ 326 mil em premiações da Lotofácil depois de realizar dezenas de jogos de alto valor em uma lotérica da zona sul de São Paulo entre abril e julho de 2022.
Na última vez que tentou fazer uma aposta, ela teria dado um golpe no estabelecimento, causando um prejuízo de R$ 192 mil ao comércio, segundo apuração da Delegacia Especializada em Investigações Criminas (Deic) de São Bernardo do Campo, onde a ocorrência foi registrada pelos donos da lotérica.
A descoberta dos prêmios ocorreu após a abertura de inquérito policial, ainda em julho de 2022, para apurar o suposto golpe da jovem contra a lotérica. Segundo relataram os proprietários do estabelecimento à polícia, a aluna vinha, desde abril, fazendo apostas de cerca de R$ 9 mil diariamente.
Em 12 de julho de 2022, quando ela já havia gastado cerca de R$ 461 mil em apostas e até feito amizade com os funcionários da lotérica, ela tentou fazer um conjunto de jogos na Lotofácil no total de R$ 891.530.
Para isso, apresentou, como prova do pagamento, um agendamento de transferência via Pix. As funcionárias, então, começaram a registrar os jogos e a entregar os comprovantes para a apostadora, mas a gerente desconfiou da situação e questionou a estudante sobre quando o dinheiro cairia.
Ainda de acordo com a polícia, a aluna de Medicina, então, tentou "ludibriar" os funcionários da lotérica ao mostrar um comprovante de transferência no valor de R$ 891,53, mas a gerente ordenou que as apostas fossem interrompidas.
Naquela altura, porém, a acusada já havia recebido os comprovantes de R$ 193 mil em apostas mesmo tendo pago à lotérica somente os R$ 891,53. Ela saiu do local com os canhotos das apostas que conseguiu efetuar e o estabelecimento amargou prejuízo de R$ 192 mil reais, o que fez seus donos procurarem a polícia, que abriu inquérito contra ela por suspeita de lavagem de dinheiro e estelionato.
Foi tentando desvendar a origem do dinheiro usado nas apostas da jovem, que a delegada Katia Regina Cristofaro Martins, do Deic de São Bernardo, chegou à informação de que ela havia ganhado cinco vezes na loteria.
"Solicitamos informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) (que monitora transações financeiras) e vimos que ela havia recebido vários prêmios, mas, como eram valores de origem lícita, isso não dizia muita coisa", afirmou Katia ao Estadão.
Até então, ela e sua equipe não tinham a informação sobre a possível apropriação indébita de quase R$ 1 milhão dos alunos de Medicina da USP por parte da garota. "Fiquei sabendo desse fato novo na última sexta-feira. Agora temos uma pista da origem do dinheiro e pretendo colher depoimento dos alunos da comissão de formatura e da empresa envolvida", afirmou.
Arrecadação
De acordo com membros da comissão de formatura, o dinheiro para a formatura vinha sendo arrecadado pela empresa Ás Formaturas há quatro anos. No fim de 2021, Alicia, que era presidente da comissão, solicitou a transferência dos valores para uma conta pessoal dela sem o aval de outros estudantes integrantes do grupo.
"Ninguém sabia até o dia 6 de janeiro de 2023 que ela havia retirado dinheiro da conta da Ás", disse um representante da comissão que não quis ser identificado. Foi nessa data que a aluna, por meio de uma mensagem de Whatsapp no grupo da comissão, afirmou ter perdido todo o dinheiro.
Em nota assinada por todos os alunos da comissão, o grupo afirma que ela descumpriu "o Estatuto ao movimentar esse montante sem a assinatura de nenhum outro membro e transferindo-o a uma conta pessoal sua" e que "a atitude não representa moral e eticamente a postura dos demais membros desta comissão e os mais de 110 alunos aderidos".
Aos colegas, a acusada declarou que sacou o dinheiro da conta da empresa porque ela não estava prestando um bom serviço e decidiu investir o recurso junto à corretora Sentinel Bank, de quem teria, posteriormente, sofrido um golpe.
A estudante investigada diz que a instituição financeira sumiu com cerca de R$ 800 mil e que o restante do valor foi gasto por ela com advogados para tentar reaver a quantia. Questionada pelos demais alunos sobre os comprovantes, ela afirma não ter o contrato de prestação de serviços com o Sentinel Bank porque o documento teria sido levado em um assalto que ela sofreu.
O Estadão tentou contato com a jovem por ligação e mensagem, mas não obteve retorno. As chamadas caíram na caixa postal e as mensagens não foram respondidas. Alunos disseram que ela deixou de frequentar as atividades acadêmica nesta segunda (16).
A empresa Ás Formaturas afirmou que "todas as transferências foram realizadas rigorosamente conforme estabelecido nas cláusulas contratuais" e disse estar "à disposição das autoridades para o fornecimento de contratos, documentos, e-mails e demais informações". A reportagem não conseguiu localizar representantes do Sentinel Bank.
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