Evangélicos intensificam disputa por vagas nas câmaras do Grande Recife
Com 81 candidaturas em Recife, Jaboatão e Olinda, líderes religiosos se preparam para influenciar as decisões políticas locais nas próximas eleições
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Além dos púlpitos e corações, a Igreja Evangélica está decidida a tomar os espaços de poder em Pernambuco, especialmente as vagas das Câmaras Municipais, onde são elaborados e aprovados projetos de impacto para as cidades e onde se travam as batalhas com o Poder Executivo.
Nos três maiores colégios eleitorais de Pernambuco - Recife, Jaboatão dos Guararapes - 81 candidatos usam expressões e cargos das igrejas para se identificar com o eleitor.
Os dados foram coletados pelo Tribuna Online no Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco. A pesquisa não levou em conta as pessoas que não usaram termos da igreja para se identificar.
Em termos absolutos, Recife tem 20 candidaturas gospel, Jaboatão possui 45 e Olinda, 16. O levantamento foi feito com base nos candidatos ao cargo de vereador e vereadora das três principais cidades em termos populacionais, todas da Região Metropolitana do Recife.
Recife, Jaboatão e Olinda protagonizaram revoluções políticas no passado, duas delas a favor da independência de Pernambuco, inspiradas em ideais iluministas como liberdade e igualdade.
Jaboatão, no contexto da Batalha dos Guararapes, fez parte da Insurreição Pernambucana, um movimento de resistência dos luso-brasileiros contra a ocupação holandesa que havia começado em 1630.
PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, lidera filiações no Recife
Na capital, o número de candidaturas evangélicas é menor. De 515 postulações à Câmara do Recife, 3,88% delas usam, no primeiro nome, o cargo ou nome lhes conferido pela igreja: bispa, diácono, pastor, pastora, irmã e irmão.
Na capital pernambucana, o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, lidera as filiações evangélicas. As demais legendas são todas consideradas do Centrão. Os candidatos e candidatas do segmento evangélico se concentram nos seguintes partidos:
1. PL - 5 candidatos
2. Republicanos - 4 candidatos
3. PSD - 4 candidatos
4. Avante - 3 candidatos
5. Mobiliza - 2 candidatos
6. DC - 2 candidatos
7. MDB - 1 candidato
Percentual em Jaboatão chega a quase 10% dos candidatos
O município de Jaboatão possui dois candidatos à Prefeitura - Clarissa Tércio (PP) e Mano Menezes (PL) - identificados com o segmento evangélico.
Das 493 postulações à Câmara de Veradores, 45 (9,13%) são de pastor, pastora, irmã e irmão, além de missionários. Chama a atenção a quantidade de “irmãos e irmãs” que vão concorrer a um cargo político em 2024: 29 ao todo.
No jogo do poder, Clarissa Tércio, candidata de extrema direita, conseguiu arregimentar mais candidatos fiéis. O PP lidera o número de candidaturas neste segmento. As siglas com mais candidaturas evangélicas são PP, Podemos, Mobiliza, e PMB, Há um candidato único do PCdoB, o tão criticado "comunista" aos olhos dos conservadores e um do PDT, de centro esquerda.
Outro aspecto. Em Jaboatão, os candidatos do segmento gospel do PMB são todos homens. O PMB (Partido da Mulher Brasileira) é um partido político do Brasil fundado em 2015.
Apesar de seu nome, o PMB não é exclusivamente voltado para as mulheres, mas busca representar uma diversidade de ideias e lutar por políticas que favoreçam a inclusão e a igualdade social.
Veja o ranking dos partidos com mais candidaturas em Jaboatão::
1. PP - 7 candidaturas
2. Podemos - 5 candidaturas
3. Mobiliza - 4 candidaturas
4. PMB - 4 candidaturas
5. PL - 3 candidaturas
6. Novo - 2 candidaturas
7. Agir - 2 candidaturas
8. Avante - 2 candidaturas
9. Solidariedade - 2 candidaturas
10. PRD- 2 candidaturas
11. União - 2 candidaturas
12. DC - 2 candidaturas
13. PSD - 2 candidaturas
14. Republicanos - 1 candidatura
15. PCdoB - 1 candidatura
16. PRTB - 1 candidatura
17. MDB - 1 candidatura
18. PDT - 1 candidatura
Em Olinda, 5,5% das candidaturas são da bancada da Bíblia
Em Olinda, cidade conhecida por votar em candidatos mais à esquerda ao longo dos anos, das 290 candidaturas são gospel e 5,51% se tratam como irmãs, pastor, pastora e missionário. Em termos proporcionais, comparando o número de vereadores e quantidade de candidatos evangélicos, Olinda barrou Jaboatão e Recife.
Na Cidade Alta, as candidaturas estão mais pulverizadas. Os partidos com maior número de candidaturas evangélicas são Agir, Podemos, PDT, DC, Mobiliza e PSDB. Veja abaixo:
1 - Agir - 3 candidaturas
2 - Podemos - 2 candidaturas
3 - PDT - 2 candidaturas
4 - DC - 2 candidaturas
5 - Mobiliza - 2 candidaturas
6 - PSDB - 2 candidaturas
7 - Novo - 1 candidatura
8 - PP - 1 candidatura
9 - PRTB - 1 candidatura
O que diz a Ciência Política sobre o assunto?
Segundo o cientista político João Paulo Gomes, especialista em neurociência do consumo, o fenômeno da ocupação de espaços legislativos por correntes religiosas, onde se destacam as evangélicas neopentecostais, não é um movimento recente.
De acordo com ele, a luta por espaço político faz parte de projetos similares de poder que visam o Legislativo, o Executivo, conselhos tutelares e canais de comunicação.
Mas há uma diferença, para ele. “O fato de atrelar cargos das igrejas aos nomes dos candidatos são atalhos mentais para os eleitores/fiéis. Isso reduz o debate de ideias sobre o papel de um vereador focando exclusivamente na escolha de “um dos nossos” para as câmaras municipais”.
O impacto das nomenclaturas religiosas nas candidaturas políticas
De acordo com o cientista político Elton Gomes, o uso de nomenclaturas religiosas por parte dos candidatos reflete a representatividade de uma parcela da população que se identifica com a segmentação protestante-evangélica.
“É natural que, assim como você encontra candidatos que se destacam por suas profissões civis ou militares, ou por suas localidades de origem, onde têm seus redutos eleitorais, também alguns candidatos, especialmente para cargos proporcionais como o de vereador, usem essas identificações em seus nomes de registro”, declarou.
Para Elton, essa abordagem pode influenciar significativamente as eleições. “Em uma eleição com muitos candidatos, é essencial se diferenciar e demonstrar ao eleitor um senso de pertencimento. Esse fenômeno não ocorre apenas no Brasil.”
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Fenômeno ainda não foi estudado conclusivamente
O cientista político Elton Gomes, doutor em Ciência Política, sugere a existência de um fenômeno em que eleitores, embora não totalmente estudado, tendem a votar em candidatos que compartilham a mesma fé religiosa, priorizando a crença em vez de uma avaliação mais completa das capacidades e do histórico do candidato.
“Muitas vezes, mas não sempre, as pessoas votam no sujeito porque ele é, entre aspas, da igreja, alguém que congrega junto com ele em uma congregação semelhante. Isso leva o eleitor a não fazer uma avaliação retrospectiva do que o candidato fez ou prospectiva do que ele pode fazer”, explica Gomes.
Ele destaca que essa prática pode ser vista como uma forma de identitarismo conservador. "Muito se fala sobre o identitarismo da esquerda, seja de raça, gênero ou orientação sexual, onde o voto é direcionado para um candidato por ele ser gay, negro ou mulher, sem necessariamente verificar suas capacidades como legislador.
Da mesma forma, ocorre um identitarismo conservador, em que o eleitor escolhe um representante com base na sua alegada fé religiosa", conclui.
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