Jovem de 24 anos é encontrada morta com várias facadas na praia do Janga
Maíssa Batista, de 24 anos, tinha relatado medo em áudios antes de ser assassinada; polícia investiga possível envolvimento com homem casado
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Na noite de sábado (16), o mar do Janga foi cúmplice de um homicídio ou, quem sabe, feminicídio. Entre redes de pescadores e embarcações adormecidas, o corpo de Maíssa Batista de Moura de Souza, 24 anos, surgiu como uma aparição cruel — esfaqueada na cabeça, no tórax, nas costas, no pescoço.
Facadas, sempre as facadas, que em Pernambuco se repetem como uma ladainha fúnebre. O caso até esta segunda-feira não havia sido esclarecido.
Vestida, no estilo habitual de quem anda na praia com tranquilidade, a morte lhe foi anunciada. Maíssa foi encontrada com a bolsa intacta: dinheiro, pente, cosméticos. Nada roubado. Nada senão a vida.
A polícia diz que não houve violência sexual. Mas houve algo pior: a condenação antecipada, o destino que ela mesma, em áudios vacilantes, já pressentia. Um cachorro curioso passava pelo local na manhã do domingo, olhava o corpo imóvel da vítima.
ENCONTRO MARCADO
Horas antes de morrer, Maíssa confessava o medo. Áudios em que ela própria escreve, com voz trêmula, o epitáfio do seu fim: falava de um homem casado, vingativo, senhor de territórios e favelas em Olinda.
Uma amiga disse por áudio, tentanto alertar, pedindo que Maísa não fosse para um determinado encontro. "Vão se juntar com à raça da mulher dele e com os filhos dele para matar tu. Vai não. Deixa esse macho para lá".
Não se sabe se foi neste encontro que Maísa perdeu a vida. Ela supostamente tinha envolvimento com homem casado. E ainda respondeu à amiga, garantindo que não o procuraria novamente: “Se eu for burra, se eu for muito otária, se eu quiser morrer mesmo é que eu vá atrás dele”.
Era a fala de uma personagem de tragédia grega, mas dita em sotaque de pernambucano A voz era de uma jovem que já não tinha mais sono, apenas pressentimento. Nelson Rodrigues diria: o adultério, no Brasil, não é pecado — é prenúncio de homicídio.
O SILÊNCIO DA NOITE
Os pescadores não ouviram nada. Ninguém ouviu ou viu. O crime se deu no silêncio de quem mata não para roubar, mas para calar. A cena foi limpa, mas facadas em excesso. Como se a morte fosse uma mensagem, um recado, um corte sobre o corpo e sobre a comunidade inteira.
UM DESTINO CRAVADO
Dois dias depois, nenhum culpado. Apenas boatos, áudios, a sombra de um homem casado e perigoso. Na dramaturgia da vida real, Maíssa é a mocinha de bairro pobre que ousou amar o personagem errado. Amou o que não lhe cabia. E no Brasil, quem ama errado paga com a vida.
A polícia investiga. Pouco ou quase nada se sabe sobre os envolvidos. Mas a tragédia já está escrita. No Janga, o mar continua calmo. E os pescadores, que tiram peixes da água, foram os primeiros a encontrar mais um corpo da rotina.
Veja, abaixo, matéria completa de Carlos Simões no JT1, apresentado por Artur Tigre
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