Tatuagem ocular acende alerta em olhos saudáveis, mas resgata autoestima de cegos
Segundo a oftalmologista Manuela Tenório Cardoso, técnica é segura apenas para pacientes com perda total da visão
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O sonho de ter olhos claros pode virar um pesadelo sem volta. O caso recente da influenciadora Andressa Urach, que relatou dores intensas após uma cirurgia para mudar a cor dos olhos, acendeu um alerta entre especialistas sobre os riscos do procedimento, especialmente em olhos saudáveis.
Segundo a oftalmologista Manuela Tenório Cardoso, a cirurgia conhecida como tatuagem nos olhos, ou ceratopigmentação, só é indicada em casos muito específicos, como para pessoas que já perderam a visão e a tonalidade natural dos olhos.
Manuela Tenório é pioneira de Pernambuco em tatuagem ocular, mas só realiza o procedimento em olho esbranquiçado, que já perdeu a visão.
“A cirurgia para mudança na cor dos olhos está indicada para pacientes que perderam a visão e a tonalidade natural dos olhos, chamada ceratopigmentação terapêutica. O procedimento com fim puramente cosmético não tem apoio dos Conselhos que regem a Medicina”, afirma a médica que integra a equipe do Hospital Santa Luzia.

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Uso de técnica em olhos saudáveis fere os princípios da ética médica
O procedimento, que ainda é proibido no Brasil, não é reconhecido como seguro pela comunidade médica.
“O procedimento para fins puramente cosmético, quando a pessoa tem olhos normais e deseja mudar a sua cor, não tem o apoio da comunidade médica por ferir princípios da ética médica e carecer de maiores estudos sobre sua segurança a longo prazo”, explica a médica.

No caso de Andressa Urach, os riscos se agravaram ainda mais pela falta de cuidados básicos no pós-operatório.
“Ela sequer sabia a que procedimento havia sido submetida. Não teve nenhum cuidado no pós-operatório, como repouso, evitar ambientes públicos e contaminados, não fez uso de colírios. Isso certamente intensificou os sintomas de um pós-operatório imediato”, comenta.
Entre os riscos associados à cirurgia, Manuela cita inflamação ocular, infecção, reações alérgicas aos pigmentos e dificuldade para realizar exames oftalmológicos no futuro. Além disso, o procedimento pode comprometer cirurgias futuras, como a de catarata.
Sem espaço para arrependimento

Para olhos saudáveis, o alerta é ainda maior. “Não há espaço para arrependimento. Como colocar prótese de silicone, não gostar do tamanho que as mamas ganharam e trocar a prótese mamária. É um procedimento irreversível com riscos futuros ainda desconhecidos”, alerta a oftalmologista.
Ela explica que, para pessoas com deficiência visual e a córnea branca, a pigmentação pode ter um impacto positivo na autoestima, sem oferecer novos riscos à visão.
“São coisas diferentes. Pacientes com a córnea branca, perderam a função visual. A pigmentação vai trazer ‘normalidade’ àquele rosto. O risco de cegueira já não existe mais”, diz.
Questionada sobre a reversão da cirurgia, Manuela é categórica: “Irreversível até então”.
Lente de contato é alternativa indicada para quem quer mudar a cor dos olhos
Para quem deseja mudar a aparência dos olhos, a médica recomenda uma alternativa segura e acessível: “Com certeza a alternativa mais segura são as lentes de contato coloridas”.
Entre as complicações mais comuns logo após a cirurgia, estão sintomas como vermelhidão, lacrimejamento e fotofobia. Também há dificuldade de realizar exames oculares em olhos saudáveis que foram tatuados.
“Os sintomas de hiperemia, lacrimejamento e fotofobia são esperados, como em qualquer pós-operatório de cirurgia ocular”, esclarece.
Apesar de proibido no Brasil, o procedimento é autorizado em outros países, segundo ela, porque cada nação adota regras próprias para regulamentação da Medicina e dos pigmentos usados nesses procedimentos.
Sobre o futuro das cirurgias estéticas oculares, Manuela pondera: “É um assunto polêmico e requer cautela. O norte da Medicina deve ser sempre a evidência científica e os princípios da beneficência e não maleficência”.
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