Eu, a história e minha avó
Artigo escrito pelo jornalista para a coluna publicada aos sábados no jornal A Tribuna
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Hoje, peço licença a você, caro leitor, para um relato: ao cruzar a porta de entrada da Casa Nostra, fui tomado por uma sensação familiar, como um abraço caloroso de quem já se foi, mas nunca nos deixa de verdade. Ali, naquela cozinha simples, a panela de ferro sobre o fogão me levou direto para a casa de minha avó, Dona Maria Rezende. Não havia fogão a lenha – era um fogão comum, daqueles que não chamam atenção, mas que aqueciam a alma com o cheiro inconfundível da polenta que borbulhava devagar, sob o olhar atento dela. Era nesse ritual que eu, ainda criança, via a magia acontecer: a polenta ganhava forma, e com ela, um pedaço da nossa história.
A Casa Nostra, no distrito turístico de Pindobas, em Venda Nova do Imigrante, é uma dessas experiências que nos pegam de surpresa. Parte do Polo Sebrae de Turismo de Experiência - inaugurado na última semana durante a RuralturES -, o espaço recria a vida dos imigrantes italianos que moldaram a cultura local. E mais do que uma visita, é uma imersão completa. Cada canto, cada objeto, me transportava para um passado que, embora não fosse o meu diretamente, trazia ecos de uma história que também carrego no coração.
A cozinha foi onde me perdi no tempo. A mesma simplicidade que um dia vi minha avó mexer a polenta com paciência, enquanto eu, em pé ao lado, aprendia sobre a vida em silêncio. Na Casa Nostra, os visitantes podem fazer o mesmo: mexer a polenta, sentir o calor da panela de ferro e se conectar com a história de forma sensorial. E, naquele instante, me vi de volta à cozinha da minha infância. Não há como explicar essa emoção; é um reencontro consigo mesmo, com as raízes que, de algum modo, sempre nos encontram.
O mais incrível é que você não precisa ter raízes italianas para se integrar na história. A Casa Nostra foi desenhada para tocar o coração de qualquer um que deseja entender o valor das tradições. É uma iniciativa brilhante, que abriu portas para que essa experiência vá além da simples curiosidade turística. Ela nos ensina a importância de preservar as memórias, seja através de um prato simples como a polenta ou nas histórias que as paredes dessa casa sussurram.
Mesmo após o fim da RuralturES, a Casa Nostra permanece disponível para quem quiser se perder nesse mundo tão familiar e tão distante ao mesmo tempo. A visita pode ser guiada ou autoguiada, permitindo que cada um explore os ambientes no seu próprio tempo. E, para os que se permitem, a cozinha oferece mais do que uma refeição: oferece um reencontro: com o passado, com a simplicidade e com as memórias que não se apagam.
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Ao deixar a Casa Nostra, saí com a alma aquecida. Não levei apenas a lembrança de uma experiência turística, mas a certeza de que certas tradições vivem em nós, nas pequenas coisas – como em uma panela de ferro no fogão.
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