Milei demite ministro e elimina sua pasta em menos de 2 meses de governo
Conhecido do presidente há mais de 15 anos, Ferraro foi um dos primeiros confirmados no primeiro escalão do governo, em setembro
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Após diminuir pela metade o número de ministérios em relação ao seu antecessor, o presidente ultraliberal da Argentina, Javier Milei, cortou mais uma pasta nesta semana —a da Infraestrutura, que será absorvida pela Economia.
A fusão acontece depois da queda do ministro da Infraestrutura, Guillermo Ferraro, que ficou menos de dois meses no cargo. A informação, que vinha sendo noticiada pela imprensa local com base em fontes do governo, foi confirmada neste sábado (27) pelo Gabinete da Presidência.
"Nos próximos dias, o ministro da Infraestrutura, Guillermo Ferraro, apresentará sua renúncia por motivos pessoais", afirmou em uma mensagem no X.
Antes disso, na sexta-feira (26), o presidente havia interagido com uma postagem no X que fazia menção à mudança. "Milei se livrou de um infiltrado, premiou o ministro que mais trabalha e fechou um Ministério. Tudo na mesma jogada. Infraestrutura passa a ser Secretaria e fica sob Caputo, que ganha mais poder no governo", afirma o perfil que ganhou uma curtida do presidente argentino.
Conhecido de Milei há mais de 15 anos, Ferraro foi um dos primeiros confirmados no primeiro escalão do governo, em setembro. Ele ficou à frente da pasta que foi chamada de "mega ministério" pela imprensa argentina pela sua abrangência —sob a sua alçada estavam as secretarias de Transporte, Obras Públicas e Comunicação.
Pouco a pouco, porém, o ministério foi sendo debilitado. Logo no início do governo, ele perdeu as suas áreas de Mineração e Energia. Em seguida, foi criada a Secretaria de Empresas Públicas sob o poder do chefe de gabinete, Nicolás Posse.
A criação da secretaria tomou uma missão fundamental de Ferraro, que era emprestar o modelo chileno, conhecido pelo viés liberal, como inspiração para as obras públicas da Argentina. A ideia também era incentivar o setor privado a investir mais em obras no país. "A abordagem que temos é que o Estado tem que reduzir a sua participação na economia para dar espaço ao setor privado", afirmou o administrador a uma rádio local após ser anunciado como ministro.
Durante a campanha, Ferraro ainda participou da Coordenação Nacional de Supervisão da coalizão de Milei, La Libertad Avanza.
Antes disso, o administrador havia participado de diversos governos. Em 2009, ele integrou o Ministério da Fazenda do Governo da Cidade de Buenos Aires e, em 2002 e 2003, foi Subsecretário de Indústria na gestão do ex-presidente argentino Eduardo Duhalde. Além disso, entre 2005 e 2007, quando Néstor Kirchner estava no poder, foi presidente da estatal Nación Servicios.
Apesar do anúncio neutro do governo neste sábado, a imprensa local atribui a demissão ao vazamento dos bastidores de uma reunião de gabinete. Segundo fontes ouvidas pelos principais veículos argentinos, Milei culpa Ferraro pela disseminação de uma fala durante o encontro.
"Vou deixá-los sem um tostão", teria afirmado o presidente sobre os governadores das províncias em meio às negociações para a aprovação da "lei ônibus", projeto que tem como principais objetivos a desregulamentação da economia e o corte de gastos públicos. Após receber um parecer favorável de comissões da Câmara dos Deputados, o texto deve ir a plenário na próxima semana.
A coalizão de Milei, A Liberdade Avança, tem uma pequena minoria dos parlamentares (37 dos 257 deputados e 7 dos 72 senadores). Por isso, ele depende de forças de centro e centro-direita para que as medidas sejam aprovadas —o que vinha causando tensão no governo.
Um dia antes da reunião, Caputo já havia dito que os repasses para as províncias seriam interrompidos se algum artigo econômico fosse rechaçado, na esperança de que os governadores pressionassem os deputados. "Não é uma ameaça, é a confirmação de que vamos cumprir com o mandato que a maioria dos argentinos nos deu de equilibrar as contas fiscais para acabar com décadas de inflação", afirmou o ministro da Economia.
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