Crise do clima 'abriu as portas do inferno', afirma secretário-geral da ONU
Abertura da Cúpula da Ambição Climática, em Nova York, ocorreu sem a participação de representantes da China e dos Estados Unidos
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A crise climática provocada pela atividade humana "abriu as portas do inferno", afirmou nesta quarta-feira (20) o secretário-geral da ONU, António Guterres, na abertura da Cúpula da Ambição Climática, em Nova York.
Com secas, inundações, temperaturas sufocantes, incêndios históricos, "a humanidade abriu as portas do inferno", como demonstraram os "horríveis efeitos do horrível calor", disse Guterres, em uma reunião sem a participação de representantes da China e dos Estados Unidos, os dois países mais poluentes do planeta.
"A ação pelo clima se vê ofuscada pela magnitude do desafio", motivo pelo qual, se não houver mudanças, o planeta se dirige para um "mundo perigoso e instável", com um aumento da temperatura de 2,8°C, alertou.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, participou do evento no começo desta tarde. Na sessão, Marina leu discurso escrito pelo presidente Lula (PT), conforme anunciou na abertura de sua fala.
O texto destacou a redução do desmatamento na Amazônia e do garimpo na território yanomami e confirmou que o Brasil voltará às metas climáticas propostas na assinatura do Acordo de Paris, em 2015. De lá para cá, uma atualização durante o governo Bolsonaro (PL) provocou uma "pedalada", fazendo com que a quantidade de emissões de carbono permitidas no compromisso se tornasse maior para o Brasil.
Na última sexta-feira (15), a decisão já havia sido anunciada por comitê do governo federal.
O futuro "não está decidido, cabe a líderes como você escrevê-lo", disse também Guterres, que acredita que "ainda podemos limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C e construir um mundo de ar limpo, empregos verdes e energia limpa e acessível para todos".
"Devemos recuperar o tempo perdido por causa da lentidão, as pressões e a ganância dos interesses arraigados que ganham bilhões com os combustíveis fósseis", disse ele.
Para isso, propõe um Pacto de Solidariedade Climática para que os principais emissores, que são os que mais se beneficiaram dos combustíveis fósseis, reduzam as emissões e apoiem as economias emergentes para que façam isso.
Em sua agenda de aceleração, que exige justiça climática, pede aos governos que avancem no ritmo para que os países desenvolvidos alcancem zero emissão líquida o mais próximo possível de 2040, e as economias emergentes, o mais perto possível de 2050, lembrou.
"Muitas das nações mais pobres têm todo o direito de estarem irritadas", porque são elas que "mais sofrem as consequências de uma crise climática que eles não provocaram", porque não receberam o financiamento prometido e porque seus custos de financiamento "estão nas alturas".
Os países desenvolvidos devem cumprir o compromisso de US$ 100 bilhões (R$ 485 bilhões na cotação atual) para ajudar os países do Sul Global, repor o Fundo Verde para o Clima e duplicar o financiamento para a adaptação.
E o mundo inteiro deve estar coberto por um sistema de alerta precoce até 2027, como foi decidido no ano passado, insistiu.
"Uma Cúpula não mudará o mundo. Mas hoje pode ser um momento poderoso para gerar impulso", concluiu.
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