Corpo de papa já explodiu em velório e fez médico virar 'persona non grata'
Pio 12, ou "papa Pacelli", como era popularmente chamado, foi o último caso registrado por técnica de embalsamento malsucedida
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Caixão mais simples e menor exposição do corpo. Estas foram algumas das mudanças ordenadas por Francisco, morto aos 88 anos nesta segunda-feira (21), para os ritos de seu funeral e dos próximos papas que estão por vir.
Além de reiterar a mensagem de simplicidade do cristianismo, a Ordo Exsequiarum Romani Pontificis, como é chamada a ordem publicada em abril do ano passado, pode ajudar a minimizar situações constrangedoras que já ocorreram em funerais de alguns pontífices.
Corpo de Pio 12 'explodiu'
Pio 12, ou "papa Pacelli", como era popularmente chamado, foi o último caso registrado por técnica de embalsamento malsucedida. Ele é conhecido como o papa que ficou à frente da igreja durante a 2ª Guerra Mundial.
Antes de sua morte, em 1958, foi convencido a passar por um método "de ponta" para o embalsamento. O oftalmologista Riccardo Galeazzi-Lisi, chefe da equipe médica do Vaticano, disse ter replicado uma técnica eficiente, utilizada até por figuras importantes, como Carlos Magno, rei dos Francos, além dos primeiros cristãos da história.
Ao The New York Times, na época, o médico descreveu o processo como "osmose aromática". "O método consistiu essencialmente em borrifar sobre o corpo e as roupas do papa resinas, óleos e outros compostos químicos. Nenhuma injeção foi usada, e um lençol de celofane foi colocado e deixado sobre o corpo por vinte horas."
O corpo explodiu. E não foi no sentido figurado. Os fiéis e todos que acompanhavam o funeral ouviram um forte barulho que vinha do caixão onde o pontífice estava. Seu corpo explodiu por conta dos gases formados no processo de putrefação, que podem ser evitados com uma tanatopraxia bem feita. Historiadores contam que, neste momento, os carregadores do caixão e quem estava mais próximo desmaiaram.
Mesmo sem nariz, a igreja decidiu mesmo assim seguir com o funeral de Pio 12. Além dos fortes odores, a explosão fez inchar os olhos. Também houve o escurecimento da pele e a desconfiguração da face. Uma máscara de cera foi improvisada para cobrir os olhos fundos e o nariz descolado, e, assim, continuar o velório. A boca também se esticou, formando um sorriso descrito como assustador.
Medidas emergenciais foram tomadas. Antes mesmo de chegar a São Pedro, uma parada na Arquibasílica de São João de Latrão foi necessária para colocar cobrir o corpo do papa no caixão e, assim, continuar o percurso até o Vaticano, já que até os guardas e até carregadores desmaiavam pelo forte cheiro.
Galeazzi-Lisi, responsável pela catástrofe, se tornou persona non grata (pessoa indesejada, em tradução livre) na Cidade do Vaticano. Além disso, por ter vendido fotos do papa em tratamento de saúde a revistas e jornais da época, levou o título de "primeiro médico corrupto".
Como são os velórios de papas?
O funeral de um papa segue um rito solene, tradicionalmente realizado na Praça de São Pedro. A cerimônia é presidida pelo Decano do Colégio dos Cardeais, e é composta pelos seguintes momentos:
1 - Rito da encomendação e exéquias: inclui orações e leituras bíblicas, pedindo pelo descanso eterno do papa.
2 - Missa de réquiem: uma celebração especial é realizada para pedir a Deus que acolha a alma do pontífice no Céu. Durante essa missa, são feitas leituras e preces específicas pelo papa falecido.
3 - Última oração e rito final: o caixão do papa é aspergido com água benta e incensado, simbolizando a purificação e a entrega de sua alma a Deus.
Ao todo, o processo pode chegar a nove dias, sendo três de exposição do corpo. Para que isso aconteça sem intercorrências, é preciso que o corpo do papa passe por um processo de tanatopraxia —ou embalsamamento— que retarda o processo de decomposição natural do corpo por meio de higienização, necromaquiagem e aplicação de produtos químicos como o formol.
Como foi o processo de Francisco?
Líquido à base de formol foi injetado no corpo. As substâncias passam por todo o sistema circulatório e ajudam a retirar o sangue do corpo, que saem por uma abertura feita no pescoço, pela veia jugular. O profissional que realiza o processo pode massagear o corpo para auxiliar na drenagem. Agentes conservantes preservam o corpo, e corantes dão uma cor mais realista e natural.
Fluidos também foram retirados. O conteúdo intestinal e outros líquidos decorrentes do processo de decomposição também precisam ser extraídos. Isso é importante tanto para injetar mais produtos de embalsamamento quanto para eliminar material orgânico.
Intervenção estética deixa aspecto mais natural. Na fase da necromaquiagem, a pele limpa é reconstituída por cosméticos. Normalmente, os olhos são selados, e a mandíbula é presa ou a boca é suturada de forma discreta para mantê-la fechada —após a morte, o enrijecimento dos músculos pode forçar a mandíbula a abrir.
Vestir o cadáver faz parte do processo. Francisco foi vestido com a casula vermelha, o pálio e a mitra branca na cabeça, e um rosário foi colocado sobre suas mãos.
Papa não pode ser doador de órgãos. Autoridades do Vaticano afirmam que, após a morte de um papa, seu corpo pertence a toda a Igreja e deve ser enterrado intacto. Além disso, se órgãos papais fossem doados, eles se tornariam relíquias em outros corpos caso ele fosse eventualmente canonizado.
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