Canadá diz que pretende reconhecer Palestina e aumenta pressão sobre Israel
Trata-se do terceiro país do G7, o grupo que reúne algumas das maiores economias do mundo, a manifestar tal intenção
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Em decisão que aumenta a pressão sobre Israel, o Canadá anunciou nesta quarta-feira (30) que pretende reconhecer o Estado da Palestina na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em setembro. Trata-se do terceiro país do G7, o grupo que reúne algumas das maiores economias do mundo, a manifestar tal intenção, considerada revés diplomático para Tel Aviv.
O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro canadense, Mark Carney, em um contexto de críticas crescentes às ações israelenses na Faixa de Gaza, que registra crise humanitária sem precedentes. Segundo ele, a solução de dois Estados, um israelense e um palestino, vem sendo erodida "diante dos olhos" de todos.
"Estamos trabalhando com outros países para preservar a possibilidade de uma solução de dois Estados, para não permitir que os fatos no terreno, as mortes, os assentamentos e as expropriações cheguem a tal ponto que isso não seja possível", disse Carney ao lado da ministra das Relações Exteriores, Anita Anand.
O premiê afirmou ainda que o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, comprometeu-se a fazer as reformas necessárias para o convívio pacífico na região. As promessas incluem a organização de eleições em 2026, nas quais o Hamas não poderá participar, e a desmilitarização do território palestino.
Antes do Canadá, França e o Reino Unido, outros países do G7, também manifestaram a pretensão de reconhecer um Estado palestino em breve. No caso de Paris, a decisão foi anunciada pelo presidente Emmanuel Macron na última quinta (24). O premiê britânico, Keir Starmer, fez pronunciamento parecido na terça (29), afirmando que reconhecerá a Palestina caso o governo israelense não tome medidas para acabar com a "situação terrível" em Gaza.
Assim como no caso dos países europeus, a decisão canadense representa uma mudança no posicionamento sobre o tema. O Canadá, que mantém relações diplomáticas com Tel Aviv desde 1949, foi uma das primeiras nações a reconhecer a existência de Israel. Historicamente, os governos de Ottawa, tanto conservadores quanto progressistas, demonstraram apoio do Estado judeu em fóruns internacionais e em temas sensíveis, incluindo segurança e o direito de defesa.
A relação entre os países se aprofundou durante o governo conservador de Stephen Harper (2006–2015), que adotou posicionamento enfático pró-Israel, chegando a votar de forma consistente contra resoluções críticas a Tel Aviv nas Nações Unidas. Não à toa, Harper também foi o primeiro chefe de governo do Canadá a discursar no Knesset, o Parlamento israelense, em 2014.
Com a eleição de governos liberais, como o de Justin Trudeau (2015-2025), o tom da política externa canadense passou a buscar equilíbrio entre apoio a Israel e a defesa do direito dos palestinos a um Estado próprio. O Canadá continuou reconhecendo o direito de Tel Aviv à segurança, mas também condenou a expansão de assentamentos israelenses em territórios ocupados e defendeu a solução de dois Estados como único caminho viável para uma paz duradoura na região.
Não havia, contudo, uma data estabelecida para o reconhecimento formal do Estado palestino, algo que Israel rejeita de forma categórica. Carney, do Partido Liberal, o mesmo de Trudeau, agora aumenta a pressão sobre Tel Aviv.
A reação de Tel Aviv foi imediata. Em nota oficial, o Ministério das Relações Exteriores israelense afirmou que "rejeita a declaração do primeiro-ministro do Canadá" e descreveu a decisão como "uma recompensa ao Hamas". Afirmou também que o anúncio prejudica os esforços por um cessar-fogo em Gaza e dificulta negociações para a libertação dos reféns ainda em poder do grupo.
As famílias dos reféns israelenses ainda mantidos em Gaza apelaram para que não houvesse reconhecimento de um Estado palestino antes que seus entes queridos fossem devolvidos. "Tal reconhecimento não é um passo em direção à paz, mas sim uma clara violação do direito internacional e uma perigosa falha moral e política que legitima crimes de guerra horríveis", disse em nota o Fórum das Famílias dos Reféns.
Ao todo, mais de 140 países reconhecem o Estado palestino, incluindo o Brasil, que tomou essa decisão em 2010.
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