Goleiro baleado ficará 4 meses sem jogar e relata ameaça de policial
Representante legal do jogador e do clube vai à Justiça pedir indenização assim que houver um laudo que mensure diferentes impactos no atleta
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O goleiro Ramon Souza, do Grêmio Anápolis, ficará de três a quatro meses sem jogar futebol após ter sido baleado por uma bala de borracha disparada por um policial militar durante confusão na partida da 12ª rodada da Divisão de Acesso do Campeonato Goiano na noite de quarta-feira. O representante legal do jogador de 22 anos e do clube vai à Justiça pedir indenização assim que houver um laudo que mensure diferentes impactos no atleta. Outro processo será aberto na Justiça Desportiva, para que o policial envolvido no caso não participe mais de eventos esportivos.
Ainda na noite de quarta-feira, um processo foi aberto pela Corregedoria do órgão para investigar a ação do PM, o que pode levar a uma punição administrativa. A reportagem do Estadão tentou contato com a Polícia Militar e com a Secretária de Segurança Pública de Goiás, para obter um posicionamento sobre o caso. Não houve retorno por e-mail, telefone ou mensagem, mas o espaço continua aberto, e a matéria será atualizada em caso de resposta. O policial não se manifestou até o momento.
Na manhã desta quinta-feira, Ramon compareceu a uma delegacia da Polícia Civil para prestar depoimento. Foi aberto um inquérito de lesão corporal. Conforme o boletim de ocorrência ao qual a reportagem do Estadão teve acesso, o goleiro contou que a confusão começou com uma discussão de um jogador do adversário com um gandula que atuava no jogo e, a partir disso, instaurou-se um tumulto maior.
Segundo Ramon, a discussão já estava encerrada quando o policial empurrou um jogador do Grêmio Anápolis e mandou que o goleiro se afastasse. O arqueiro, então, pediu que o oficial abaixasse a arma, logo antes de ser atingido pelo projétil de borracha.
Ainda conforme o depoimento, o mesmo policial militar apontou a arma para outros jogadores e ameaçou: "Quer também?". Ramon ressaltou que o comportamento do agente foi violento desde que ele chegou ao local onde a confusão já havia se encerrado, esbarrando no ombro do goleiro.
"Nunca imaginei passar (por isso). A gente fica abalado psicologicamente. Eu estava no meu ambiente de trabalho, nunca imaginei que chegaria a esse ponto. Agora é continuar fazendo o que sempre faço, trabalhar para melhorar e voltar a jogar futebol quanto antes", falou Ramon em vídeo postado pelo Grêmio Anápolis nas redes sociais. A Polícia Civil também ouviu um diretor do clube e recolheu o projétil que atingiu o goleiro como prova.
A mãe de Ramon, Carliane Alves de Souza, costuma acompanhar todos os jogos do filho, mas não foi à partida de quarta-feira. Ela mora em Goiânia e viajou os cerca de 60km até Anápolis após saber do acontecimento. "Os atletas não ofereciam nenhum risco à integridade física, nem mesmo entre eles. Não houve necessidade para uso desproporcional da força policial", disse ela à reportagem.
BANIMENTO
Além da investigação nas esferas criminal, por meio do inquérito da Polícia Civil, e administrativa, junto à Corregedoria, o advogado Paulo Pinheiro vai entrar com um processo no Tribunal de Justiça Desportiva de Goiás para solicitar a proibição do militar envolvido no caso de atuar em eventos esportivos.
"Foi uma violação ao Código Brasileiro de Justiça Desportiva. Vamos pedir a proibição, estando ele na ativa ou não", explicou ao Estadão o representante do clube e do goleiro.
Outra ação será tomada no âmbito civil para cobrar uma indenização do Estado de Goiás. Isso depende, porém, da conclusão de um laudo médico que mensure os impactos do caso em Ramón. "A ação indenizatória é proporcional ao tempo que ele ficar parado e aos danos da lesão, tanto físico, quanto psicológico, e estético", justificou Pinheiro, que ainda não aponta uma quantia possível para a indenização: "Seria prematuro falar um valor (sem o laudo)".
A expectativa é que Ramon fique afastado do futebol de três a quatro meses. O prazo foi informado pelo médico do Grêmio Anápolis, Diego Bento de Oliveira. "É uma lesão no centro da coxa. Não tão grande em extensão, mas profunda. Tem cerca de 3 cm. Essa ferida pode evoluir de uma maneira boa, ou não", ponderou o ortopedista e traumatologista.
O tratamento envolve antibióticos e curativos no local. Mesmo sem gravidade na lesão, há riscos que fazem necessários certos cuidados. "Evoluindo de uma maneira ruim, devido à desvitalização desse tecido, porque a bala o queimou, pode sofrer uma necrose ou evoluir para uma infecção."
Em nota, a Federação de Futebol Goiana (FGF) lamentou o acontecimento e reiterou que confia nos órgãos de segurança pública e na eficácia dos processos da Corregedoria da Polícia Militar.
Mais cedo, o Ministério do Esporte classificou a ação do policial como "desproporcional e violenta" e destacou a "necessidade urgente de uma revisão nos procedimentos". A pasta também cobra punição aos envolvidos.
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