Ex-jogador argentino revela ter depressão e joga luz sobre saúde mental no esporte
Segundo especialistas, a pressão por resultados e a necessidade de lidar com a frustração estão entre as principais causas do quadro em atletas
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O ex-jogador argentino naturalizado italiano Pablo Daniel Osvaldo trouxe à tona a questão da saúde mental no meio esportivo profissional ao publicar nesta quinta-feira (14) um vídeo nas redes sociais em que revela sofrer de depressão e que a doença o levou ao vício em álcool e drogas.
O caso de Osvaldo se soma a uma série de outros ex-jogadores vitoriosos no futebol como Gianluigi Buffon, Thierry Henry e Nilmar, que também revelaram ter sofrido com o quadro depressivo, seja enquanto ainda estavam em atividade dentro de campo ou após se aposentar dos gramados.
Segundo especialistas, a pressão por resultados e a necessidade de lidar com a frustração estão entre as principais causas do quadro depressivo em esportistas.
Revelado pelo Huracán e com passagem por clubes como Roma, Juventus, Porto e Boca Juniors, além da seleção italiana, Osvaldo afirmou que "há muito tempo" vem lidando com um quadro de depressão e que está "bastante desesperado".
"Essa depressão me levou a cair em algumas adicções. Álcool e drogas. A verdade é que estou em um momento em que minha vida está saindo do controle", declarou Osvaldo na publicação.
O argentino de 38 anos disse ainda que o uso de entorpecentes agrava seu quadro depressivo e que está em tratamento psiquiátrico à base de medicamentos. "Praticamente vivo sozinho, trancado em casa. Não saio para lugar nenhum. Não faço nada produtivo na minha vida. Às vezes nem tenho vontade de levantar da cama", afirmou o ex-atacante, que atuou pela última vez defendendo as cores do Banfield, da Argentina, em 2020.
Campeão italiano com a Juventus na temporada 2013/14 e argentino com o Boca em 2015, Osvaldo disse também que, no passado, quando atuava na elite do futebol, era uma pessoa completamente diferente, cheia de segurança e confiança. "Se alguém estiver passando por algo semelhante, peça ajuda, porque sozinho não se sai disso, eu pedi ajuda e ainda assim está sendo difícil sair."
Coordenador de psicologia esportiva do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Eduardo Cillo diz que a aposentadoria pode ser um gatilho para o desenvolvimento da doença. "A vida no esporte como atleta se encerra relativamente cedo, mas ainda tem muita vida depois. Então, se ele não se prepara para isso, chega um momento em que ele deixa de ter tanta visibilidade, reconhecimento, tantas pessoas por perto, a vida dele muda demais e fica um vazio."
Cillo acrescenta que, além da aposentadoria, a frustração por não alcançar os objetivos traçados e a cobrança constante por resultados também estão entre as principais causas para a depressão no esporte.
"O nível de exigência é sempre muito alto. Além disso, a dinâmica dos fatos também é muito acelerada, ou seja, independente do que tenha acontecido recentemente, o atleta precisa já estar em preparação para a próxima disputa. Isso faz com que ele tenha que lidar com a frustração com muita constância", afirma o especialista.
Ele acrescenta que o atleta que fica exposto a essa pressão constante por muito tempo pode desenvolver um quadro conhecido como incontrolabilidade, conhecido pela sensação de que nada do que ele faz é suficiente para estar bem preparado na busca por resultados. "Isso aproxima o cérebro humano de um estado de depressão."
O fato de se tratar de uma doença que surge, muitas vezes, de maneira silenciosa reforça a importância da presença de um psicólogo que acompanhe os atletas no dia a dia, afirma André Luis Aroni, psicólogo do Guarani. "O trabalho deste profissional faz o atleta entender que a pressão de alcançar bons resultados não é necessariamente ruim, e pode o ajudar a desenvolver ferramentas para compreender isso", diz Aroni.
Pesquisadora e coordenadora do Leme (Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte) da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Leda Costa diz ainda que o crescimento do esporte como um negócio e a cobertura midiática ostensiva também é um aspecto que pode exercer pressão na saúde mental dos esportistas.
"O panteão midiático do esporte é destinado aos vencedores. Aos derrotados, nem sempre esse panteão é aberto. E quando é, ocorre de uma forma crítica", diz a pesquisadora. Ela lembra que, à cobertura jornalística tradicional, se somou nos últimos anos a exposição e a interação trazida pelas redes sociais, com 'haters' que ficam apenas no aguardo de uma derrota para se manifestar com duras críticas contra os atletas.
No Brasil, o ex-atacante Nilmar também sofreu com a depressão. No caso da cria do Internacional, a doença se manifestou enquanto ele ainda estava em atividade, defendendo o Santos, em 2017. Por decisão própria, Nilmar optou por rescindir o contrato com o Santos para buscar tratamento e se aposentou precocemente dos gramados aos 33 anos.
A passagem pelo Al Nasr, dos Emirados Árabes Unidos, foi apontado pelo ex-jogador como uma possível causa para a depressão. O clube queria negociá-lo para se enquadrar na cota de estrangeiros e, como o atleta resistiu, foi afastado da equipe principal.
O ex-goleiro italiano Gianluigi Buffon, campeão da Copa-2006, é outro que teve de lidar com o quadro de depressão. Ele revelou em sua autobiografia que sofreu de uma grave depressão entre 2003 e 2004.
"Não estava satisfeito com minha vida e com o futebol e, portanto, com meu trabalho. Minhas pernas tremiam", afirmou. "Pode ter milhares de razões, inclusive se você é rico e famoso. Pode não encontrar a companheira adequada, não vencer a Copa dos Campeões, ou não conseguir apreciar o que foi conquistado. Então você afunda em dúvidas. Foi verdadeiramente um período ruim", relatou o ex-arqueiro.
Campeão da Copa em 1998 com a França, o ex-atacante Thierry Henry afirmou no início deste ano que, durante sua carreira como jogador, e depois de pendurar as chuteiras, também teve depressão. "Menti durante muito tempo porque a sociedade não estava preparada para escutar o que eu tinha a dizer."
Henry falou que o quadro depressivo pode ter começado na infância, com a busca constante pela aprovação de seu pai, que frequentemente criticava seu desempenho em campo. Essa presença paterna "ajudou de certa forma o atleta", mas "não ajudou tanto o ser humano."
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