Eliana diz como foi da canção dos dedinhos a diva dos gays no Criança Esperança
Apresentadora comentou ainda sobre rivalidade com Mara Maravilha e silêncio nas eleições de 2022
Escute essa reportagem
Eliana diz ser curioso que uma dancinha com os dedos da mão tenha rendido seu primeiro vídeo viral no TikTok, publicado três anos atrás. Parece mesmo uma travessura do destino. Afinal, há três décadas a apresentadora fazia seu nome no Brasil ao criar uma coreografia feita de polegares, dedos indicadores, médios, anelares e mindinhos.
Com um currículo cheio de programas infantis, outros para adultos, discos e até uma passagem pelo cinema, pode parecer que Eliana já fez de tudo. Mas ela quer por mais. Única mulher a comandar um programa de auditório aos domingos, no SBT, a apresentadora não descarta a possibilidade de correr riscos. É por isso, diz, que vem investindo nas redes sociais e topou apresentar um reality na Netflix no ano passado.
Essa ambição pode levá-la à Globo, como tem sido ventilado pela imprensa nos últimos tempos? "Quero alçar voos maiores. Gosto de novos desafios, mas não houve uma proposta. Só posso dizer se iria quando acontecer", afirma Eliana, dando a sua risada acentuada que virou meme na internet.
Ao receber a reportagem em sua mansão, num condomínio de luxo em Barueri, em São Paulo, a apresentadora pergunta se deve fazer cara de misteriosa ou sorrir para as fotos que ilustram esta reportagem. "É que tenho estado tão feliz ultimamente", declara, mostrando os dentes branquíssimos e alinhados para a câmera.
Depois de posar com o rosto colado ao vidro que dá para sua piscina, Eliana se senta em frente ao seu piano luxuoso para a entrevista. Começa refletindo sobre seu aniversário, celebrado na última quinta-feira, dia 22. "Ir de 50 para 51 anos foi muito rápido. Percebi que não muda muita coisa. Decidi viver meus 50 e muitos, passear por eles, de forma leve, gostosa e sem muitas cobranças."
O tempo passou, mas Eliana sabe que seu passado ainda atiça o público. Prova disso é a repercussão que teve sua apresentação no palco do Criança Esperança, na Globo, em agosto. Após conseguir autorização do SBT, a apresentadora deu as caras na emissora vizinha, unida às apresentadoras Xuxa e Angélica, para um show grandioso.
De trás de quinze bailarinas, que faziam uma coreografia elaborada, a apresentadora surgiu cantando seu hit "Os Dedinhos" e mandando beijo para a plateia. Depois, ao som de tambores, fez um discurso feminista. "Optamos pela amizade e pela irmandade. Tomamos rotas diferentes, mas estamos sempre juntas", ela disse, sobre sua relação com Xuxa e Angélica, que ela chama de "união das loiras".
A ideia inicial da emissora era de que Eliana subisse ao palco só para cantar "Os Dedinhos", mas ela não ficou satisfeita e pediu para fazer o discurso. "Foi controverso porque fiz uma provocação", lembra. "Mas ‘Os Dedinhos’ é diferente das músicas das meninas, que têm mais a dizer. Ia matar a saudade de um monte de gente? Ia, a minha também. Mas meu papel podia ser melhor."
Nas redes sociais, após o show, Eliana foi chamada de "rainha dos gays", "diva" e de "grande gostosa". Compararam a performance do trio a uma memorável apresentação das cantoras Madonna, Christina Aguilera e Britney Spears.
Eliana só descobriu que era ovacionada pelos LGBTQIA+ quando começou a apresentar programas para adultos. "Não tinha essa noção. Comecei a ler mais, entender mais, a ficar mais próxima [da comunidade]. Comecei a entender que muitas crianças cresceram comigo e se inspiraram."
Quem não gostou muito do oba-oba do Criança Esperança foi Mara Maravilha, outra apresentadora infantil da mesma época de Eliana. "Tentam me apagar da história. 'Normal' quando se trata de uma representante mestiça com sangue indígena", Mara escreveu no Instagram após o programa.
Dias antes, ela já havia mencionado preconceito racial ao ser questionada sobre sua relação com as ex-colegas. "Não preciso [fazer parte do grupo], porque respeito a etnia, a diferença social. Se você está em uma escola com um monte de loirinhas e é rejeitada, isso não é racismo?"
"Mara foi muito querida comigo quando comecei, me recebeu várias vezes no programa dela", diz Eliana. "Quantas vezes ela já não esteve aqui em casa? Mas [o Criança Esperança] não foi proposto por mim nem pelas meninas. Foi coisa da emissora. Diria para ela não se incomodar, não entrar nessa pilha."
Eliana não é de tocar em assuntos polêmicos —e se orgulha disso. Ela não contou em quem votaria nas eleições do ano passado, que racharam o Brasil pela metade, numa época em que dezenas de artistas —inclusive suas colegas Xuxa e Angélica— declararam apoio a Lula ou Jair Bolsonaro.
"Me senti pressionada, mas meu voto é secreto. Quem me acompanha sabe do que sou a favor. Transformar aquilo numa polêmica não seria saudável."
Apesar disso, Eliana não hesita em dar pitacos de teor político. "Estamos mais carentes do que nunca de boa educação, saúde e cuidados. Está cada vez pior. Que pena, nosso país já foi tão melhor nesse sentido. Quem está no poder deveria olhar mais para o nosso povo. Já fui uma criança pobre com condições de fazer coisas que hoje muitas crianças não podem", afirma.
Foi na infância, aos seis anos, que Eliana se deslumbrou ao ler a palavra "artista" num panfleto. Fez um ensaio de fotos e foi até a agência de modelos divulgada no folheto. Ao chegar no endereço, descobriu que era golpe. Não havia produtora nenhuma.
Não demorou, porém, para que Eva Michaelichen, sua mãe, encontrasse outra escola para jovens modelos, desta vez uma verdadeira. Foi ali que Eliana começou sua carreira. Aos 13, entrou no grupo musical Patotinha. Quatro anos se passaram, e ela foi contratada por Gugu Liberato para cantar no Banana Split.
Silvio Santos viu Eliana pela primeira vez no palco do seu programa. Ele se interessou pela menina, à época com 17 anos, e ofereceu o comando do programa Festolândia, em 1991. Com o SBT mergulhado em dívidas, Silvio desmantelou a atração meses depois e mandou Eliana voltar para casa. Mas ela bateu o pé. Disse que não ia embora e pediu que pelo menos pudesse apresentar um programa de desenhos.
Deu certo. "Saí daquele cenário gigantesco, com toda a pompa de comunicadora, para ser uma menina que falava com o público infantil. Dei dois passinhos para trás para estar aqui hoje", ela relembra.
"Os Dedinhos" surgiu nessa época. Sem balé nem cenário, Eliana foi relegada a um banquinho, onde ficava parada, só com o tronco à mostra nas telas. Inquieta, tentava se comunicar fazendo caras e bocas e mexendo as mãos. Foi quando ela gravou a música, uma versão da canção de ninar francesa "Frère Jacques", e criou a dancinha famosa.
Gravou seu primeiro disco, ganhou prestígio no SBT, onde trabalhou por sete anos, e depois foi fisgada pela TV Record. No canal de Edir Macedo, fez programas infantis e seu primeiro para adultos. Ficou lá por 11 anos, de onde foi tirada pelo SBT, que resgatou a ex para um novo casamento em 2009.
"Minha risada, apesar de ser horrorosa, diverte as pessoas", diz Eliana, após falar do passado, e enquanto pensa nas suas prioridades para o futuro. "Quero continuar levando informação e diversão. Que eu possa ser útil."
MATÉRIAS RELACIONADAS:
MATÉRIAS RELACIONADAS:
Comentários