Preço sobe e carne vira dor de cabeça para a economia. Entenda motivo do aumento
Reajustes sobretudo nos cortes bovinos têm pressionado a inflação, o que pode dificultar a queda dos juros tão desejada pelo governo
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Depois de meses seguidos de queda, o preço da carne começou a subir em setembro. A tendência de avanço ainda nos próximos meses, pressionando a inflação, deve dar dor de cabeça para a economia.
O recente aumento dos preços tem se mostrado um fator relevante de pressão sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), especialmente ao observar a alta de 0,52% em agosto para 2,97% em setembro, segundo Eduardo Araújo, do Conselho Federal de Economia e consultor do Tesouro Estadual na Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz).
“Esse movimento acende um sinal de alerta para a trajetória inflacionária, dado o peso significativo do grupo de alimentação e bebidas no índice geral de preços”.
Ele enfatizou que o aumento de 6% nos preços das carnes no mercado atacadista sugere que o encarecimento ainda não atingiu seu pico, o que pode pressionar a inflação nos meses seguintes, à medida em que esses custos sejam repassados aos consumidores no varejo.
Para ele, o panorama desafia a política monetária atual, uma vez que a persistência dessas altas nos preços de alimentos, assim como de energia elétrica, pode comprometer os esforços do Banco Central em trazer a inflação à meta.
“Com os preços das carnes em patamar elevado e sem perspectiva de alívio no curto prazo, é possível que as expectativas inflacionárias se descolem ainda mais, levando a ajustes adicionais nos juros para conter essa pressão disseminada sobre o IPCA”.
O diretor-Geral do Instituto Jones dos Santos Neves, Pablo Lira, apontou que os preços da carne bovina contabilizaram redução no primeiro semestre, por conta da maior oferta do produto:
“Contudo, os preços contribuíram para pressionar a inflação (IPCA) de setembro. No Estado, os preços desse subgrupo seguiram tendência semelhante do País, saindo de 0,92% em agosto e chegando em 2,62% em setembro”.
O presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES), Claudeci Pereira Neto, destacou que a carne, principalmente a bovina, sempre teve peso significativo para as famílias.
“O País é grande produtor de carne. Apesar de a gente querer que a economia cresça, acabamos tendo esses gargalos da inflação”.
Seca e exportações são motivos
Entre os motivos para a tendência de alta do preço da carne está a crise hídrica e o mercado externo aquecido, segundo especialistas.
O secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca, Enio Bergoli, explicou que, desde agosto, a carne bovina vem recuperando preços. “Nós estávamos num ciclo de preços baixos desde o ano passado. Mas alguns fatores têm levado ao aumento”.
Entre eles, Bergoli cita a demanda aquecida das exportações. “As exportações brasileiras de carne devem crescer cerca de 13%, enquanto a produção no Brasil deve crescer entre 6,5% e 7%. Isso leva a um mercado interno mais aquecido e, consequentemente, a altas”.
A pastagem comprometida por causa da seca também tem levado ao aumento no valor. “Outro fator é o que chamamos de ciclo pecuário. Está acontecendo no Brasil o abate de fêmeas e, com isso, fica reduzido a quantidade de bezerros. Para os produtores é um bom momento de recuperação, mesmo que os consumidores acabem pagando um pouquinho a mais. Precisamos de um equilíbrio nesse preço do boi para equilibrar também as finanças dos produtores, que estavam em dificuldades”.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado, Júlio da Silva Rocha Júnior, explicou que apesar da tendência de aumento, no Estado ela ainda não é expressiva.
“De qualquer forma, o mês de outubro tem uma tendência histórica de aumento nos preços. Além disso, o déficit hídrico tende a piorar o cenário, já que as pastagens não se revigoram”.
Ele explicou, ainda, que a cotação do boi já subiu e há tendência de subir mais, já que falta o produto.
O economista e consultor de empresas Sebastião Demuner explicou que o agronegócio passou por períodos de dificuldade nesses últimos anos, já que o preço do boi despencou.
“Com a questão das queimadas e da seca, a tendência é de que a arroba do boi ultrapasse R$ 300. Para o pequeno criador isso deve ser um alívio”.
ENTENDA
Alta da carne
No Brasil
- Dentro do grupo alimentação e bebidas, a inflação do subgrupo carnes saiu de 0,52%, em agosto para 2,97% em setembro.
- Isso ajudou que o grupo de despesas saísse de uma deflação de 0,44%, para inflação de 0,50%.
No Estado
- Os preços desse subgrupo seguiram tendência semelhante, saindo de 0,92% em agosto e chegando em 2,62% em setembro.
Motivos do aumento
Seca
- Tanto no país, quanto no Estado, o período de estiagem reduz a qualidade da pastagem.
- Além disso, o clima mais seco e a intensificação das queimadas também impactam as atividades produtivas de animais para abate.
Mercado aquecido
- As exportações da carne brasileira está aquecida, com tendência de recorde e de crescimento de 13%.
- Enquanto isso, a produção de carne no Brasil deve crescer esse ano entre 6,5% e 7%. Com a demanda interna também aquecida, a tendência é do valor aumentar.
Ciclo Pecuário
- A atividade, que tem um ciclo longo, desde o ano passado tem passado por um momento de abate das fêmeas, fazendo com que haja uma redução no número de bezerros que vão para os confinamentos.
- Isso também afeta o mercado, aumentando preços.
Fonte: Especialistas consultados.
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