Mercado de trabalho: jovens são 30% em empregos verdes
O estudo identificou um total de 6,8 milhões de empregos verdes no Brasil, o que corresponde a quase 9 de cada 100 vínculos empregatícios registrados
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Os jovens entre 14 e 29 anos já representam 30% dos brasileiros que trabalham com empregos verdes no País, segundo relatório produzido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
O estudo identificou um total de 6,8 milhões de empregos verdes no Brasil, o que corresponde a quase 9 de cada 100 vínculos empregatícios registrados no País. Destes, 2 milhões são jovens.
“A Geração Z cresceu ouvindo sobre o aquecimento global e sobre as mudanças climáticas, e essa se tornou uma preocupação geracional, pelo receio em como o planeta estará quando eles envelhecerem. Isso acabou aproximando muitos jovens da pauta ambiental”, afirma o CEO da Heach RH, Elcio Paulo Teixeira.
Porém, apesar dos dados, o Unicef identificou que ainda há uma oferta limitada na qualificação profissional, que acaba ficando concentrada em regiões específicas, como grandes centros urbanos.
Andreia Carvalho, advogada especialista em direito ambiental, destaca que o avanço da mobilidade elétrica, com o crescimento da frota de veículos movidos a eletricidade, também impulsiona a necessidade de mão de obra especializada.
“Da mesma forma, ações voltadas à recuperação de áreas degradadas abrem novas frentes de trabalho, especialmente nas regiões afetadas por desmatamento”, afirma.

No Espírito Santo, cursos em faculdades localizadas fora da Grande Vitória já existem, como é o caso do curso de Agronomia da unidade de Linhares da Faesa. O coordenador dele, Renan Queiroz, destacou o enfoque da área na questão da sustentabilidade e da preservação do meio ambiente.
“Recentemente, levamos nossos alunos a fazer um plantio de árvores nativas numa área degradada em Sooretama. Temos alunos de várias cidades próximas e sempre buscamos fazê-los desenvolver essa conscientização”.
Queiroz destaca que o mercado agrônomo tem se tornado muito procurado por jovens pelo alto índice de empregabilidade e vê também uma mudança no comportamento familiar presente em décadas anteriores.
Explica que, enquanto antes era comum ver fazendeiros mandando os filhos para a “cidade grande” para estudar cursos como Direito ou Medicina, agora o foco está em mandar os filhos estudarem Agronomia e voltarem para cuidar das propriedades.
Além disso, a EDP inaugurou no Estado, no ano passado, um Centro de Excelência em Energias Renováveis, voltado para a capacitação de profissionais em tecnologias sustentáveis, com capacidade para atender 450 alunos diariamente.
Empregos com elétricos
A produção nacional de veículos elétricos tem potencial para dobrar o número de novos empregos no Brasil até 2050, segundo estudo inédito do Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT Brasil).
O estudo mostra que, ao apostar na fabricação local de baterias e no desenvolvimento de competências para a eletromobilidade, o País pode garantir uma transição energética justa e acelerar o desenvolvimento de nova cadeia industrial.
A maior parte dos empregos projetados se concentra em setores de serviço, como serviços técnicos, engenharia, logística e comércio, seguido de setores manufatureiros diretamente ligados à produção dos veículos, máquinas e equipamentos elétricos.
O crescimento no número de empregos se deve ao aumento da demanda agregada e ao fortalecimento de setores industriais como a produção de baterias e componentes elétricos. Ao mesmo tempo, espera-se retração nos setores de combustíveis fósseis, agropecuária e autopeças.
Burocracia
Tatiana Leão Tostes, advogada especialista em direito do trabalho, salienta que a transição para uma economia verde impõe desafios jurídicos às empresas, exigindo adaptação contínua a um marco regulatório ainda em construção.
Segundo ela, a legislação ambiental, extensa e em constante evolução, apresenta-se frequentemente fragmentada e contraditória entre os níveis federal, estadual e municipal, gerando insegurança jurídica e desestimulando investimentos em práticas sustentáveis.
“Além da complexidade normativa, há entraves operacionais, como a escassez de infraestrutura para gestão de resíduos, a dificuldade de mensuração de impactos e o alto custo inicial de implementação de tecnologias limpas. Fatores que afetam pequenas e médias empresas, que enfrentam barreiras no acesso a consultoria especializada e fontes de financiamento”.
Análise
“Profissionais com mentalidade voltada para a sustentabilidade”

“As empresas têm demonstrado um interesse crescente pelas questões ambientais e isso não é apenas uma tendência, é uma necessidade diante das mudanças climáticas, da pressão regulatória e das novas exigências de mercado e dos consumidores.
Cada vez mais, vemos companhias buscando profissionais que tenham não só conhecimento técnico, mas também uma mentalidade voltada para a sustentabilidade, o que abre espaços para os chamados 'empregos verdes'.
Por isso, além da formação técnica e superior, é fundamental que políticas públicas garantam acesso a esses novos empregos, especialmente para populações mais vulneráveis, como mulheres, jovens e trabalhadores informais que já atuam em áreas ligadas à sustentabilidade”.
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